Podemos dizer que a grande maioria dos
personagens bíblicos são referidos em poucas linhas ou pequenos parágrafos. O
Espírito Santo não precisa de muitas páginas para destacar a vida de um crente.
Um exemplo é Enoque que cuja história se estende por 365 anos, mas que foi
sintetizada em duas frases: "Enoque andou com Deus; e já não era,
porque Deus o tomou para si" (Gn 5.24.). Que breve! Mas ainda
assim quão completo! quão abrangente! O Espírito Santo fala muito em tão pouco!
Andar com Deus, cultivar uma vida de
comunhão com Deus é o aspecto distintivo do genuíno crente, sem a qual as ações
mais vistosas não passarão de fugo e refugo.
Quando lemos pausadamente as páginas
do Novo Testamento encontramos um personagem extraordinário, cuja alusões a ele
são muito breves, mas incisivas e preciosas.
Ele não surge na narrativa como um
pregador poderoso, um escritor laborioso, um grande missionário, ainda que ele
possa ter sido tudo isso. Mas como sempre faz em todas as narrativas bíblicas,
o Espírito Santo, nos apresenta esse personagem de forma singular e de uma
maneira calculada para enfatizar a importância dos valores morais e
espirituais.
O nome dele surge apenas três vezes na literatura
neotestamentária, apenas em duas cartas de Paulo: uma para a igreja em Colossos
e outra para seu amigo Filemom.
No entanto, nesses três singelos versos encontramos
um esboço precioso do caráter piedoso de Epafras. Somos informados de que ele é
da cidade de Colossos e faz parte da igreja estabelecida ali, provavelmente por
ele. Ele não apenas ensina as pessoas sobre Jesus, mas as encoraja a crescer em
sua fé.
Paulo apresenta Epafras como um servo querido e
ministro fiel de Jesus, parte integrante da rede de amigos e colaboradores desenvolvida
por Paulo ao longo de seus anos como missionário.
Mas há mais uma característica distintiva deste
cristão – ele ora - incessantemente, é um intercessor inveterado. Suas
orações não são apenas ocasionais ou mesmo ou frequentemente, mas Paulo diz que
Epafras ora sem cessar em favor dos crentes de Colossos. Ouçamos o testemunho pessoal
do apostolo sobre esse amigo e irmão: "Saúda-vos
Epafras, que é um de vós, servo de Cristo, trabalhando sempre fervorosamente
[agonizando] por vós nas orações, para que permaneçais perfeitos e completos em
toda a vontade de Deus. Um grande zelo por vós, e pelos que estão em Laodiceia
e pelos que estão em Hierápolis" (Cl
4.12, 13.).
Em todos os tempos a Igreja sempre careceu de
crentes de oração. Evidentemente que necessitamos igualmente de pregadores,
escritores, missionários na causa de Cristo; mas precisamos de crentes de
oração, de joelhos constante no chão, crentes como Epafras, pois as orações que
seguram as cordas, que fortalecem os pés e mãos; que renovam os ânimos e mantém
as vocações.
Um espírito de oração - fervorosa, agonizante e
perseverante. Sem isso, nada pode prosperar. Um crente sem oração é um crente
sem vida. Um pregador sem oração é um pregador fadado ao fracasso. Um escritor
sem oração produzira páginas estéreis. Um evangelista sem oração pouco fará. Carecemos
urgentemente de crentes de oração - como Epafras - cujas paredes do quarto testemunham
suas orações agonizantes. Esses são, inquestionavelmente, os crentes para o
momento atual.
A oração é um trabalho invisível aos olhos dos
outros, da própria comunidade. São realizados em retiro, na santificada e
subjugadora solidão da presença divina, fora do alcance da visão mortal. Jesus
levantava-se de madrugada, enquanto seus discípulos ainda dormiam e se
afastando orava, se derramava diante do Pai. Também ensinou seus discípulos o
ministério da oração – “entra no teu quarto e ali orem ao teu Pai em secreto” –
sem holofotes, sem mídia, sem olhares de admiração.
Paulo está informando os crentes de Colossos de
que Epafras estava segurando as cordas de todas as atividades daquela igreja e
do próprio trabalho missionário de Paulo e todos os demais companheiros que
estavam atuando em tantos outros lugares.
Um terrível erro tem sido perpetuado entre nós
de que o ministério é medido pelo ativismo, pelas estatísticas, pelos
monumentos erigidos. Esse tem sido um falso padrão. O genuíno padrão é um amor
pelas almas, um amor por Cristo, que somente pode ser desenvolvido no quarto
solitário da oração, como Epafras, em favor do povo de Deus, "para
que sejam perfeitos e completos em toda a vontade de Deus".
O precioso tempo de oração não exige nenhum dom
especial, nenhum talento peculiar, nenhuma capacidade mental preeminente
(mestrado, doutorado). Todo e cada cristão pode dedicar-se a ele. Um crente
pode não ter a capacidade de pregar, ensinar, escrever ou atuar em campo
missionário; mas todo crente pode orar. Por vezes ouve-se falar de um dom
de oração. É uma expressão que cai mal ao ouvido. Muitas vezes significa uma
mera expressão fluente de certas verdades conhecidas que a memória retém e os
lábios emitem. Este é um trabalho pobre para se fazer. Não era assim com
Epafras. Não é disso que carecemos agora mesmo. O que a Igreja necessita hoje
com urgência é de crente que ore com perseverança e fervorosamente diante do
trono da graça.
A oração pode ser exercida, em todos os
momentos, e sob todas as circunstâncias. De manhã, ao meio-dia, à tarde ou à
meia-noite; o coração pode subir ao trono, em oração e súplica, a qualquer
momento. Os ouvidos do Pai estão sempre abertos; Sua presença está sempre acessível.
Ele está sempre pronto a ouvir, pronto a responder. Jesus nos ensina e
incentiva: “Peça – busque – bata!”; “ore sempre sem desfalecer”,
“pois, tudo que pedirem, crendo, recebereis”. Estas palavras são para todos
os crentes em todas as época e lugares.
Epafras recebe o epíteto de "um servo
de Cristo", em conexão com suas fervorosas orações pelo povo de Deus.
Este é o motivo mais elevado. Cristo está empenhado em favor do Seu povo. Ele
deseja que eles "permaneçam perfeitos e completos em toda a vontade de
Deus"; e todo aquele que respira a intercessão têm o privilégio de
desfrutar de profunda comunhão com o grande intercessor – o Espírito Santo.
Pessoas tão pequenas, limitadas e fracas como eu e você, podem adentrar à
glória celeste e tomar parte dos pensamentos e interesses do Senhor de toda
glória!
Ponderemos ainda que por alguns instantes o
exemplo de Epafras. Humildemente imitemo-lo. Fixemos nossos olhos nas
necessidades e carências de nossa comunidade e dos campos missionários. O
momento atual de nosso país é profundamente solene. "As coisas estão a
chegar a uma crise; e as pessoas estão a tomar partido: e está tudo bem. Já não
temos dúvidas sobre quem servirá o Senhor e quem não servirá. Que o Senhor abra
o seu próprio caminho no coração de muitos e prepare o seu povo para sofrer e
fazer a sua santa vontade".
Cada dia deve fazer-nos sentir a necessidade
urgente de crentes como Epafras. As poucas e econômicas referências neotestamentárias
o apresentam como um crente de oração (Cl 4.12); e como um companheiro de sincero
amor e cuidado para com seus irmãos (Fm 23.) Que o Senhor desperte entre nós um
espírito de oração e intercessão sinceras. Que Ele levante muitos daqueles que
serão moldados no mesmo molde espiritual de Epafras. Estes são os crentes
para o tempo de crise.
Não importa a extensão e profundidade do vale
tenebroso que estejamos para enfrentarmos – nosso Deus é maior! Não
importa o quão terrivelmente escuro e caóticos serão os próximos dias, ainda
ouviremos as palavras do Deus eterno – haja luz!
Utilização livre desde
que citando a fonteGuedes, Ivan PereiraMestre em Ciências da
Religião.me.ivanguedes@gmail.comOutro BlogHistoriologia Protestantehttp://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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