quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Paulo: Suas Orações (Gálatas 6.18)


            Seguindo nossa proposta de estudarmos as orações feitas pelo apóstolo Paulo dentro de uma perspectiva cronológica, começaremos com Gálatas 6.18 - Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o espírito de vocês. Amém.
            Esta sucinta oração é a forma com que Paulo, mormente inicia ou conclui suas correspondências (2Co 1.2; 2Co 13.14; Gl 1.3; 6.18; Ef 1.2; 6.23-24; Fp 1.2, Fp 4.23; Cl 1.26; 1Ts 1.1b; 5.28; 2Ts 1.2; 1Tm 1.2; 1Tm 6.21b, 2Tm 1.2; Tt 1.4; Fm 1.3).
            Apesar das divergências muitos comentaristas das epístolas paulinas indicam a correspondência aos crentes que formavam as comunidades na região da Galácia [do Sul] e que haviam sido evangelizados por Paulo e Barnabé no final de sua primeira viagem missionária, como sendo a primeira das correspondências canônicas do apóstolo.
            A grande preocupação de Paulo ao escrever esta carta é que havia recebido notícias preocupantes de que aquelas comunidades estavam abandonando o evangelho simples da graça de Deus e indo atrás das falsas pregações daqueles que anunciavam outro evangelho, ou seja, uma mensagem semelhante ao que Paulo e Barnabé haviam anunciado, mas agregando inúmeras outras coisas, tais como as observâncias das leis cerimoniais judaicas; hierarquia angelical. Um grande número de comentaristas os chama de “judaizantes”, portanto, identifica-os com os judeus, mas o melhor seria denomina-los de “cristão-judeus”, pois tudo indica que são no mínimo judeus convertidos ao cristianismo, mas com dificuldades em abrir mão de seus costumes do judaísmo. O que não é difícil de compreender, visto que até então sempre estiveram arraigados na religião judaica com todas as suas leis, rituais e costumes.
            Depois de desenvolver todas suas argumentações e admoestações o apóstolo conclui com esta pequena, porém, significativa oração: Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o espírito de vocês. Amém.
            Pela frequência com que Paulo ora nesse sentido percebemos o quanto ele compreende a importância da graça proveniente de Cristo para nutrir e sustentar a vida dos crentes e das jovens comunidades que estavam surgindo por todo o território romano.
            A graça é o favor, a benevolência e influência contínua do Senhor Jesus na vida do cristão ou da comunidade. Não há vida cristã ou comunidade genuína cristã sem a manifestação continua da graça divina.
            Paulo tinha plena consciência desta verdade. Ele sabia que a conversão inicial dos gálatas e a formação de suas primeiras comunidades cristãs não era outra cousa do que o resultado direto da graça de Cristo. Não havia sido a estratégia missionária ou a pregação dele e de Barnabé a causa primária dos eventos evangélicos produzidos naquela região da Galácia. E também sabe que não será sua carta que vai corrigir a direção errônea que aqueles crentes estão tomando, influenciados pelos falsos pregadores que ali estão proliferando seus falsos evangelhos. A única esperança de Paulo é que a graça de Cristo seja manifestada na vida espiritual deles “seja com o vosso espírito” [em contraste com a carne] – que transborde em seus corações, que ilumine e corrija seus equívocos doutrinários e que seja manifestada visivelmente em suas vidas cristãs.
            Diferente de suas cartas posteriores Paulo não fez nenhum elogio aos gálatas no inicio dessa correspondência, e o tom utilizado nas linhas escritas é de surpresa negativa, tristeza e indignação pelo comportamento deles – estava decepcionado com a pressa deles em abandonar o Evangelho para correr atrás de fabulas e ritos. Mas em sua última linha ele revela todo carinho e cuidado que sempre nutriu sua relação com os crentes da Galácia.  Apesar de toda insensatez deles ainda assim eles são “irmãos”. Está é a última palavra da carta [original grego], uma posição incomum, mas que transparece o desejo de Paulo de encerrar uma correspondência tão tensa e severa declarando com sinceridade que em seu coração eles continuam irmanados. E ao orar em favor deles manifesta todo seu amor e esperança de que retornem à simplicidade do Evangelho de Cristo. Mas sua confiança não está nem em sua capacidade de persuadi-los e nem na capacidade deles em se autocorrigirem, mas na manifestação da graça em suas vidas! Ao registrar na carta um “amém”, que ocorre apenas mais uma vez (Romanos), demonstra a solene seriedade com que ele faz essa oração. Uma oração para o tempo e para todos os tempos.
É difícil sabermos exatamente qual o efeito que esta carta produziu na vida daqueles cristãos e de suas comunidades. Mas o fato de que essa correspondência foi preservada e inserida no cânon do Segundo Testamento nos faz pensar que foi recebida positivamente e que produziu os frutos tão desejados pelo coração amoroso e zeloso do apóstolo dos gentios. Que sua pequena oração foi ouvida e atendida pelo Espírito Santo.
             Pelo que mais deveríamos estar orando em favor dos cristãos e das igrejas evangélicas no Brasil hoje? Nesses dias caóticos onde prolifera toda sorte de falsos pregadores com seus “outros evangelhos”, iludindo, confundindo e enganando milhões de pessoas; nesses dias em que os púlpitos tornaram-se balcões de negócios; em que a Bíblia é apenas um instrumento utilitarista; onde as igrejas tornam-se impérios financistas, não carecemos de outra coisa a não ser da superabundante graça de Deus.
            Assim como Paulo intercede pelos gálatas, nós precisamos urgentemente orar pelos evangélicos no Brasil para “que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja em seus espíritos”. Não precisamos de mais dinheiro; nem de maiores catedrais; nem de impérios mediáticos, carecemos unicamente de mais graça! Não de uma mera noção disso, mas decorrente de uma experiência espiritual, em seus corações e espíritos, vitalizando, consolando e fortalecendo-os; tornando-os mais espirituais e evangélicos em seus comportamentos e pregações.
Que as igrejas evangélicas no Brasil retornem urgentemente ao único e verdadeiro Evangelho e abandonem todos e quaisquer acréscimos e distorções promovidas pelos falsos pregadores. Essa é a única esperança para essas igrejas e para o nosso país!

             
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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