A Bíblia não é um livro cientifico, todavia não se
encontra nela quaisquer erros em relação à formação do Universo. Suas
informações cosmogônicas têm sido aceitas por cientistas das mais diferentes
especialidades.
A confiança nas informações bíblicas em relação ao
planeta e à criação ficaram abaladas por causa das interpretações equivocadas
produzidas pela Igreja Cristã no período da Idade Média. Por causa disso a
Bíblia sofreu uma depreciação muito forte por parte dos iluministas e
renascentistas, que aproveitaram esta oportunidade para enaltecer a razão sobre
a fé. Mas com o desenvolvimento das ciências e com mais apurada interpretação
dos registros bíblicos fica cada vez mais evidente que a bíblia é um livro permanentemente
contemporâneo e que seus conceitos continuam sendo plausíveis, assim como sua
cosmogonia.
A BÍBLIA E A MATÉRIA ORIGINAL
Para os gregos o Mundo surge a partir de uma matéria
pré-existente ou original. O que a Bíblia tem a dizer sobre essa questão?
Veremos rapidamente as teses gregas da formação do Mundo e depois o que a
Bíblia informa.
A partir da Escola Jônica se entendia que o Mundo se
origina a partir de uma substância indefinida “apeiron – sem fim”
(Anaximandro). Para Tales de Mileto a água era o elemento que deu origem aos
demais elementos [o ser humano é composto por água]. Já Anaxímes de Mileto chega à conclusão que o
princípio formador era o ar.
Para Tales de Mileto, era a
água o elemento do qual todos os demais são originários. Ele foi levado a
posicionar-se, dessa forma, explica Aristóteles, depois de observar a presença
da água em todas as coisas. Para Heráclito o Mundo está em constante movimento,
segundo ele o Cosmo transmuta-se permanente e indefinidamente, de maneira que
no futuro o Planeta será lançado em um imensurável abismo. Outro filosofo
grego, Empédocles, concluiu que o Mundo era formado por quatro elementos
originais: ar, água, terra e fogo e Aristóteles tornou essa tese popular e por
mais de vinte séculos ela foi aceita como verdade (dogma).
Aproximando-se
mais da ciência moderna, Anaxágoras concluía que o Universo era formado por
diminutas partículas, podendo estar em estado inanimado ou não, que Aristóteles
denominou-as de hemeomerias. Posteriormente a Escola Atomística defende
que todas as coisas, inclusive a alma, são compostas por corpúsculos invisíveis
a olho nu (Leucipo). Hoje esses corpúsculos são denominados de átomos.
Poucos pensadores gregos e de forma tênue se aproximaram
do criacionismo bíblico. O matemático Pitágoras de Samos aponta Deus como sendo
o Número Perfeito, do qual segundo ele nasceram os mundos e o ser humano.
Xenófanes, fundador da Escola Eleática, revela-se monoteísta,
contrariando a mitologia helena, defende a tese de que o Universo é obra de Deus,
do único Deus.
Os escritores bíblicos não
endossam nenhuma dessas teses gregas, a não ser a última citada, pois como
declara o escritor de Hebreus: “Pela fé
entendemos que foi o Universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o
visível veio a existir das coisas que não aparecem" (Hb 11.23). Em
nenhum momento a Bíblia tem a preocupação de desvendar como ou de que forma
Deus criou o Mundo e o Universo. O livro de Gênesis abre com
uma declaração simples: “Criou Deus os
céus e a terra” – e nem uma explicação ou teoria sobre como Ele fez isso. O
ensino bíblico resume os fatos em que todas as coisas foram criadas pelo poder
imanente da Palavra de Deus. Deus falava e as coisas eram criadas. Falando no
centro do conhecimento grego, Areópago, o apóstolo Paulo utiliza-se das teses
dos filósofos epicureus e estoicos e declara: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe...” (Atos 17.24).
A BÍBLIA E A ESFERICIDADE DA
TERRA
Os sábios do Egito produziram inúmeras teses sobre
o formato da Terra, todavia, Moisés apesar de as conhece-las não as
utiliza em nenhuma de suas narrativas. Seus registros são simples e diretos – Deus criou e deu forma ao Mundo.
Os gregos em sua busca constante de
conhecimento tentaram sempre desvendar os mistérios da esfericidade da Terra e
seu movimento. Somente Pitágoras e dois mil anos depois Copérnico chegaram a
conclusão de que a Terra tinha formato esférico.
O profeta Isaías a muito tempo havia declarado: "Ele |Deus| é o que está assentado
sobre o globo da Terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos: ele é o
que estende os céus como tenda para neles habitar..." (Is 40.22.)
A BÍBLIA E O GEOCENTRISMO E
HELIOCENTRISMO
A base do ensino astronômico do período medieval,
centrava-se nos ensinos de Ptolomeu, que afirmava ser a Terra o centro do Universo (geocentrismo). Nesse período a Igreja
adotou essa tese como dogma e quem ousasse contrariar seria morto (Inquisição).
Com a chegada do renascentismo, coube a Nicolau Copérnico
(1473-1583), retornando aos conceitos de Pitágoras, Heráclites do Ponto e
Aristarco de Samos, afirmar que a Terra gira em torno do Sol, portanto o Sol é o centro do Universo (heliocentrismo).
Nicolau
Copérnico (1473-1583), entretanto, instigado pelos ares renascentistas da
cultura greco-romana, volta-se às ideias de Pitágoras, Heráclites do Ponto e
Aristarco de Samos. Inconformado com as complicações do geocentrismo, admite a
hipótese heliocêntrica, segundo a qual é o Sol, e não a Terra, o centro do
Universo. Em seu famoso tratado De
Revolutiones Orbium ele afirma:
"Não
me envergonho de sustentar que tudo que está debaixo da Lua, inclusive a
própria Terra, descreve, com outros planetas, uma grande órbita em redor do
Sol, que é o centro do mundo ... E sustento que é mais fácil admitir o que
acabo de afirmar, do que deixar o espírito perturbado por uma quantidade quase
infinita de círculos, coisa a que são forçados aqueles que retém a Terra fixa
no centro do mundo."
Essa
afirmação dele gerou uma das maiores crises entre a ciência e a religião, que
perdura até hoje. Mas não somente o catolicismo, mas também vários
reformadores, incluindo Lutero,
condenaram a tese de Copérnico. Coube então a Galileu (1564-1633) reafirmar as
teses do renomado polonês, expositadas em sua obra “Dialoghi sopra idue Massa-ni Sistemi dei Mondo Tolomaico”. Mas
Galileu jamais pretendeu estabelecer conflito entre a ciência e a Bíblia, como
bem afirmou:
A Santa Escritura não pode jamais mentir, desde
que, todavia, penetre-se seu verdadeiro sentido, o qual - não creio possível
negá-lo - está muitas vezes escondido e muito diferente do que parece indicar a
simples significação das palavras.
Desejosos de depreciar os relatos bíblicos muitos
cientistas apelam para o texto de Josué,
onde ele afirma que o sol parou. Mas Josué apenas relato o que seus olhos
podiam ver, o que nós até hoje continuamos a expressar: “o sol está nascendo” e não dizemos “a terra está nascendo”. A Bíblia jamais afirmou que a Terra era o centro do
Universo. O grande astrônomo Kepler, ao fazer a apologia das
palavras usadas pelo sucessor de Moisés, afirmou:
Nós
dizemos com o povo: os planetas param, voltam ... o Sol nasce e põe-se, sobe
para o meio do céu, etc. Falamos com o povo e exprimimos o que parece passar-se
diante dos nossos olhos, posto que nada de tudo. isso seja verdadeiro.
Entretanto, todos os astrônomos estão nisso de acordo. Devemos tanto menos
exigir da Escritura sobre este ponto, quanto é certo que ela, se abandonasse a
linguagem ordinária para tomar a da ciência e falar em termos obscuros, que não
seriam compreendidos por aque¬les a quem ela quer instruir, confundiria os
fiéis simples e não conseguiria o fim sublime a que se propõe.
A BÍBLIA E O CENTRO DO
UNIVERSO
Como explicar que milênio após milênio o Universo
continua a funcionar com uma perfeição inexplicável! A
conclusão bíblica é que Deus não apenas criou, mas continua a preservar esse
Universo. Issac Newton, físico
inglês, declara:
Esse
Ser governa todas as coisas, não como a alma do mundo, mas como o Senhor de
tudo; e, por causa de seu domínio, costuma-se chamá-lo de Senhor, Pantocrátor,
ou Soberano Universal, pois Deus é uma palavra relativa e tem uma referência a
servidores; e Deidade é o domínio de Deus, não sobre seu próprio corpo, como
imaginam aqueles que supõem que Deus é a alma do mundo, mas sobre os serventes.
O
apóstolo Paulo não tinha qualquer
receio ou dúvida em afirmar em plena Atenas, o centro cultural da Grécia, de
que “...sendo [Deus] Senhor do céu e da
terra ...” (Atos 17.24.b), e escrevendo aos colossenses declara: “Há um só Deus
e sobre todos domina, porque tudo provém dele”. O teólogo reformador João Calvino compreendia claramente que
Deus exercia sua vontade soberana sobre toda a criação: "...que não somente criou o mundo, mas também o sustenta com seu
poder e o dirige com sabedoria, o conserva com sua bondade, e sobretudo governa
sobre o gênero humano com justiça e equidade, suportando-o com misericórdia, o
defendendo com amparo..."
Portanto, podemos descansar tranquilamente sobre as
afirmações bíblicas em relação ao Universo e ao planeta Terra, pois em nenhum
momento os registros bíblicos caem no pântano das lendas e mitos, mas suas
informações podem serem constadas pelos princípios mais acurados da ciência
humana.
A BÍBLIA E O MUNDO ANTIGO
O
mundo antigo, ou mundo bíblico, compreende todos os povos antigos mencionados
na Bíblia que habitavam a área banhada pelo Mediterrâneo (Grande Mar) e aquelas
que ficam entre este, o Mar Negro (Euxino), Mar Cáspio (também chamado Mar
Setentrional), Golfo Pérsico (ou Mar Meridional) e Mar Vermelho (denominado
pelos romanos Mar Eritreu).
Considerando
que o relato bíblico de ambos os Testamentos abrange a área desde Espanha, o
ponto mais ocidental do programa de atividades missionárias do apóstolo Paulo,
até Pérsia país mais oriental com que esteve relacionado o povo de Israel, e do
Ponto, província mais setentrional da Ásia Menor, ao sul do Mar Negro, cujo
povo esteve representado em Jerusalém no dia de Pentecostes (Atos 2.9), até o
extremo sul da Arábia onde, provavelmente, ficava a lendária terra de Ofir,
tantas vezes mencionada na Bíblia, podemos dizer que as expressões “o mundo antigo”
e o “mundo bíblico”
são praticamente sinônimas.
Utilização livre desde
que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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NT – INTRODUÇÃO GERAL
VT – INTRODUÇÃO GERAL
Referências Bibliográficas
ABBAGNANO, Nicola (1901-1990).
Dicionário de Filosofia. Tradução da
1ª edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bossi; revisão da
tradução dos novos textos Ivone Castilho Benedetti, 5ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.
ADAMS, J. McKee. A Bíblia e as civilizações antigas. Rio
de Janeiro: Dois Irmãos, 1962.
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MORA, José Ferrater. Diccionario de filosofía (A-K), 5ª ed.
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ROCHA, Genylton Odilon Rêgo
da. Geografia clássica – uma
contribuição para história da ciência geográfica. Presença - Revista de
Educação, Cultura e Meio Ambiente, dez. nº 10, vol. I, 1997 (Universidade
Federal de Rondônia). Disponível em:
http://www.revistapresenca.unir.br/artigos_presenca/10genyltonodilonregodarocha_geografiaclassicaumacontribuicaoprahistoriadaciencia.pdf.
Acesso em 04/08/2014.
[1] A
cosmologia se ocupa do estudo do conjunto do mundo, de sua origem e de suas
leis. As questões relativas a origem do mundo, se ele existe por sí ou se foi
criado, são questões cosmológicas centrais. Ela é considerada uma disciplina
cientifica, relacionada diretamente com a astronomia, a física e a matemática,
porém distinta em principio delas. (MORA, 1964, p. 363)
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