Até agora já vimos que os Evangelhos Sinóticos tem muitas
características semelhantes, mas, também possuem muitas diferenças
(concordia discors). Neste ponto do nosso estudo
haveremos de examinarmos algumas possíveis explicações para
esta problemática sinótica, não nos esquecendo nunca de que nenhuma delas é por
si suficiente para esclarecer todos os pormenores, como tão bem coloca Bittencourt:
A solução do problema sinótico, das
numerosas semelhanças entre os três primeiros evangelhos, do ponto de vista da
ordem, redação e conteúdo, tem sido procurada através dos séculos e as mais
variadas soluções tê em sido proposta. Desde os tempos da primeira harmonia dos
evangelhos, ou melhor, de uma tentativa para organiza-Ia, representada pelo Diatessarão,de
Taciano (que se encontra ainda dentro do século II), passando pelas
tradições incorporadas por Eusébio de Cesaréia em sua História
Eclasiástica, representando Clemente de Alexandria a informar haver
recebido tradição desde o tempo dos presbíteros, com referência à ordem na
qual os evangelhos haviam sido escritos ("os que contêm as genealogias
foram escritos primeiro", VI .14.5), até Agostinho e os críticos
modernos, a luta não tem cessado e uma conclusão definitiva e
indispensável está ainda por vir (1969).
A
Hipótese da Mutua Dependência
A mais antiga e
talvez a primeira tentativa de explicar como se relacionam
entre si os evangelhos sinóticos vem de Agostinho , cuja opinião era de que Mateus foi o
primeiro a ser escrito e que Marcos se utilizou dele para
fazer uma espécie de resumo, enquanto Lucas utiliza‑se tanto do
primeiro quanto do segundo para elaborar o seu. Hale esclarece que essa
proposta de Agostinho surgiu porque ele estava cônscio de que o Evangelho de
Mateus era bem conhecido no segundo século e era sempre listado em primeiro
lugar, em toda lista dos livros do Novo Testamento (1983, p.56). Esta opinião
do querido teólogo perdurou até aproximadamente 1835, com algumas
variações.
No transcorrer do tempo a proposta de Agostinho foi sendo
modificada. As diversas variações baseiam-se na questão da ordem cronológica
dos três sinóticos ( e sendo produzida diversas variações (quem escreveu
primeiro?). Mas quando examinadas apenas três propostas
demonstram capacidade de sustentação: A primeira
sequência proposta por Agostinho [Mateus
Marcos ‑ Lucas] conforme exposto acima; uma segunda variação [Mateus
– Lucas – Marcos] é comumente denominada de Hipótese de Griesbach, (1776) onde
Mateus redigiu o primeiro evangelho e serviu de fonte para o autor de Lucas e
Marcos, e este por sua vez, escrevendo por último, serviu-se de Mateus e Lucas
como suas fontes primárias; uma terceira
sequência [Mateus ‑ Lucas ‑ Marcos] onde Marcos é
totalmente dependente de Mateus e Lucas, enquanto os dois últimos são
totalmente independentes um
do outro (C.
Lachmann-1835); e a quarta sequência [Marcos‑Mateus e Marcos‑Lucas]
que firmou-se como a mais aceitável entre a maioria dos estudiosos e tem sido
associada a H. J.
Holtzmann (1863) e B. H.
Streeter (1924) e segundo eles Marcos seria o primeiro evangelho
escrito e teria sido usado, independentemente, por Mateus e Lucas,
ficando conhecida como a hipótese da prioridade marcana.
Essa hipótese foi proposta por G.E. Lessing (1778)
e apresentada de forma mais matizada e complexa por J.C. Eichhorn,(1804)
e mais recentemente esmiuçada por Rolland (1984) que
acreditavam que houve um evangelho original do qual os três evangelistas
sinóticos extraíram o seu material.
De acordo com esta hipótese, os evangelhos seriam diferentes
traduções e seleções de um registro apostólico escrito em aramaico, denominado
de "Evangelho dos Nazarenos". As
diferenças narrativas dos evangelistas canônicos se daria pelo fato de
que utilizaram-se
de diferentes versões do "Evangelho dos Nazarenos"
que circulavam por aqueles dias. A base para estas suposições é uma declaração
de Papias[1] de
que "Mateus compôs os logia [textos, narrativas, registros] em língua hebraica, cada um depois os interpretou segundo suas capacidades" (Eusébio, "História Eclesiástica" III, 39, 17). Essa hipótese explica melhor os materiais que os sinóticos tem em comum, mas deixa muitas
questões em aberto. Se os autores tinham todo esse material diante de si, por
que então não o incluíram todo para atingir os seus objetivos? Esta explicação
é muito prejudicada pelo fato de não haver qualquer vestígio da existência
deste Evangelho escrito em aramaico.
A
Proposta de uma Tradição Oral e/ou Memorabilia
Os expositores desta hipótese (J. G. Herder-1797) parte
do pressuposto de que não havia documentos escritos sobre
o ministério de Jesus antes da produção dos evangelhos canônicos.
Assim sendo, a única fonte dos escritores sinóticos foi a "memorabilia"
do ministério de Jesus, preservada nas pregações públicas e nos ensinos dos
apóstolos e dos demais discípulos que estiveram com o Senhor Jesus Cristo. Os aspectos defendidos nesta posição são:
- não se discute o fato de que as narrativas da vida e
dos ensinos de Jesus foram transmitidas em forma oral pelas suas testemunhas,
em principio;
- documentos antigos (Papias) nos informam ‑ que o
Evangelho de Marcos consta da pregação do Apóstolo Pedro, transcritas por
solicitação dos seus ouvintes;
- os judeus tinham uma preferência pelo ensino oral;
- há provas de que existiu um grupo catequizador,
responsável em instruir os novos crentes, utilizando‑se deste método oral.
Assim, concluem os defensores desta hipótese, as semelhanças e diferenças entre
as três narrativas sinóticas é decorrentes do fato de que seus escritores
utilizaram‑se desta multiplicidade de pregações e ensinos disseminadas em
diferentes lugares por vários grupos.
Não resta duvidas de que a tradição oral exerceu
uma função importante para a pré‑história dos evangelhos. Todavia, são
tremendas as dificuldades para se explicar o fato de que o evangelho foi
preservado, com todas as suas múltiplas particularidades, por
memória, por um período tão longo de tempo. E ainda mais, esta memorização tinha
que ser feita tão rapidamente quanto o Evangelho se propagava por todo o mundo,
criando‑se então uma necessidade urgente de traduzi‑lo para novos idiomas quase
que simultaneamente. Por tudo isto, a tarefa de supervisão deste trabalho seria
impossível. Também não explica satisfatoriamente as concordâncias, às vezes
literais, e a sucessão das Perícopes em ordem idêntica.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia Protestante
http.//historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Contexto
Histórico dos Evangelhos
Referências
Bibliográficas
BITTENCOURT, B. P. A Forma dos Evangelhos e
a Problemática dos Sinóticos. São Paulo: Impressa Metodista, 1969.
CARSON, D.A.; MOO, D.J. Moo & MORRIS, L. Introdução
ao Novo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1997.
HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento.
Rio de Janeiro: JUERP, 1983.
HENDRIKSEN, Guillermo.
El Evangelho Secunto San Mateo - Comentário del Nuevo Testamento. Subcomisión.
Literatura Cristiana, EE. UU., 1986.
HORSTER, Gerhard. Introdução e Síntese do Novo Testamento.
São Paulo: Editora Evangélica Esperança, 1996.
BORNKAMM, Gunther. Bíblia – Novo Testamento. São Paulo: Editora
Teológica e Paulus, 3ª ed., 2003.
SICRE, José Luis. Introdução aos Evangelhos (Um
encontro fascinante com Jesus), v.1. São Paulo: Editora Paulinas, 2004.
TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento – Sua Origem e Análise.
São Paulo: Shedd Publicações, 2007, (anteriormente produzido pelas Edições Vida
Nova).
SHREINER, J & DAUTZENBERG, G. Forma e Exigências do Novo Testamento. São
Paulo: Editora Teológica, 2ª ed. 2004.
[1][1]
Papias de Hierapolis, na Frígia, notável escritor cristão e prelado do período
patrístico, é uma das testemunhas mais importantes da autenticidade do
Evangelho de João. Papias nasceu no 2º século, e por fim sofreu o martírio.
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