segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Evangelhos: A Questão Sinótica – As semelhanças


            Como visto no artigo introdutório as três primeiras narrativas evangélicas trazem inúmeras passagens semelhantes, as quais haveremos de verificar alguma delas.
Estrutura. Os três evangelistas utilizam‑se de um método muito semelhante para elaborarem seu trabalho, como segue. O ministério de Jesus tem inicio depois do batismo de João; seguem-se os milagres e pregações feitos na Galileia; uma viagem para Jerusalém; e por fim encontram-se os relatos da crucificação e ressurreição de Jesus. “A tal esquema Mateus e Lucas antepõem episódios da infância de Jesus. os quais. pelo seu estilo e o seu sabor, constituem evidentemente blocos literários independentes do corpo da narrativa” (BITTENCOURT, 1969, p. 186). Assim, dentro desta estrutura dos Sinóticos seremos induzidos a concluirmos que o ministério público do Senhor Jesus foi de apenas um ano, todavia quando lemos a narrativa produzida por João, onde ele alterna esse cenário geográfico, incluindo em diversos momentos a Galileia e Jerusalém, podemos tranquilamente estender o ministério público de Jesus para cerca de três anos (BITTENCOURT, 1969, p. 187).
Sequência das Diferentes Perícopes. Em muitos casos temos os evangelistas relatando na mesma sequência vários acontecimentos. Os exemplos são vários, como podemos verificar nesta seleção feita por Bettencourt. a trilogia constituída pela pregação de João Batista, o batismo de Jesus e as tentações (Mt. 3.14,12 ‑, Mc. 1. 1‑ 14. Lc. 3.1-4,14); outra trilogia composta da cura do paralítico, da vocação de Levi e da questão do jejum (Mt.9.1‑17. Mc.2.1‑22‑, Lc.5.17‑39); os acontecimentos culminantes do ministério de Jesus na Galileia. a confissão de Pedro, a primeira predição da Paixão. a transfiguração do Senhor, a cura do lunático, a segunda profecia da Paixão (Mt. 16.13‑17.23; Mc.2.27‑ 9.32; Lc.9.18‑45); algumas séries de milagres como. a cessação da tempestade, a cura do demoníaco de Genesaré (Mt.8.23‑34; Mc.4.35‑5.20; Lc.8.22‑39). a cura da hemorroíssa e a ressurreição da filha de Jairo (Mt.9.18‑26; Mc.5.21‑43; Lc.8.40‑56); a historia da Paixão do Salvador. 
Similaridade na forma literária e no vocabulário. Há uma notável similaridade dentro de cada perícope nas quais algumas frases coincidem literalmente [mais claramente perceptível na língua original].  Deste modo, os três sinópticos trazem, pôr exemplo, a palavra de Jesus ao paralítico usando a mesma formula (Mc. 2.l0ss). O pedido de José de Arimatéia pelo corpo de Jesus é relatado três vezes com as mesmas palavras (Mc.15.43; Mt.27.58; Lc.23.52). E o dito de que quem quiser salvar a sua vida perdê‑la‑á, mas quem a perder por causa de Jesus [e do Evangelho] salvá‑la‑á, retorna três vezes na mesma formulação (Mc.8.35; Mt 16.25; Lc.9.‑24).
Citações do Antigo Testamento. O peculiar aqui é que mesmo quando a citação é transcrita numa formulação diferente da que consta no Original Hebraico ou na Septuaginta os evangelistas sinópticos a fazem exatamente da mesma forma [mais facilmente perceptível na língua original]. Assim temos Is. 40.3 citado em forma própria em Mt.3.3; Mc.1.3; Lc.3.4; também Mal.3.1 em Mt.11.10; Mc.1.2; Lc. 7.2 7.
Todas estas concordâncias, e poderíamos citar muitas outras, demonstram claramente que as semelhanças entre os três sinóticos não podem ser apenas fruto do acaso, ou como se diria que pelo fato deles descreverem os mesmos acontecimentos, acabaram pôr escolherem termos idênticos, mas se crê que deve haver uma relação de dependência literária. Todavia, para que possamos definir melhor tal relação. é preciso observarmos também as não poucas e consideráveis diferenças entre os três evangelhos sinóticos.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
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Referências Bibliográficas
BETTENCORT, Estevão.  Para Entender os Evangelhos. Rio de Janeiro. Livraria Agir Editora, 1960.
BITTENCOURT, B. P. A Forma dos Evangelhos e a Problemática dos Sinóticos. São Paulo. Impressa Metodista, 1969.
CARSON, D. A., MOO, Douglas J. e MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo. Vida Nova, 1997.
DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo. Vida Nova, 1995.
HALE, Broadus DavidIntrodução ao estudo do Novo Testamento. Rio de Janeiro. JUERP, 1983.
MIRANDA, 0. A., Estudos Introdutórios dos Evangelhos Sinóticos, São Paulo. Cultura Cristã, 1989.
RUSSELL, N. C. ‑ 0 Novo Testamento Interpretado, ed. 5ª, v. 1. São Paulo. Milenium, 1985.
STEIN, R. H. The Synoptic Problem. an introduction. Michigan. Baker Book House, 1989.
TENNEY, Merrill C.  O Novo Testamento – Sua Origem e Análise, 2 ed. São Paulo. Edições Vida Nova, 1972.

WALTERS, Patricia. “The Synoptic Problem”. In. AUNE, David E. The Blackwell Companion to the New Testament. Malden, MA. Blackwell Publishing, 2010.

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