ATOS - ESTRUTURA DO LIVRO

A estrutura e/ou plano utilizado pelo escritor de um livro é sempre um grande desafio para aqueles que estudam e Atos não poderia ser diferente. Qual o plano estrutural que orientou a redação do livro? Quais as grandes articulações e ligaduras que proporcionam uma fisionomia coerente e organizada da obra? Apesar das dificuldades inerentes a esta questão podemos fazer ao menos um exercício e examinarmos algumas possibilidades apresentadas e aceitas por muitos dos estudiosos desta obra de Lucas:

a) Estruturação Geográfica: Usando Atos 1.8 como ponto de referência do autor muitos estudiosos se satisfazem com uma estrutura que acompanha a difusão do evangelho pelos discípulos, partindo de Jerusalém, Judéia e Samaria, e até os confins da terra, entendo este último como sendo os domínios do Império Romano da época. Um esboço simples ficaria assim:

- propagação em Jerusalém (1-7)

- propagação na Judéia e Samaria (8-12)

- propagação aos extremos do Império (13-28).

Em um esboço mais amplo podemos visualizar algumas temáticas e características peculiares de cada parte do livro:

	Capítulos 1-12	Capítulos 13 a 28
Centro de Atividade	Jerusalém	Antioquia (Síria)
Personagem proeminente	Pedro	Paulo
Contexto Geográfico	Jerusalém, Judéia e Samaria	Outras regiões dentro da geografia do Império Romano.
Alvo evangelístico	Judeus	Gentios
Líderes da igreja	Apóstolos	Presbíteros
Maior desafio	Gestão diária da igreja	Inclusão dos gentios ou nacionalidades não judaicas.
Maior realização	Escolha de diáconos	Resolução da tensão judeu-gentia
Forma de oposição	Religiosos (judeus)	Político (romanos)
Tendência dos cristãos	Concentração	Dispersão

c) Estruturação pelos Sumários: Outra forma de esboçarmos este livro é acompanharmos o desenvolvimento do livro através dos sumários utilizados por Lucas para demarcar as mudanças de assunto. É através deles que Lucas desenvolve a dinâmica progressiva de sua narrativa. Elas são ao todo em número de sete:

5.42 – A origem da comunidade cristã e sua convivência mutua com o judaísmo.

6.7 - O aumento dos discípulos começa a causa impactos mais fortes na sociedade e impõe transformações dentro do judaísmo oficial.

9.31 – Os cristãos se espalham em direção ao norte e alcança rapidamente as regiões da Judéia, Samaria e Galileia, sendo esta última a primeira fronteira para se alcançar os gentios.

12.24 – O Evangelho chegou em Antioquia gerando as primeiras controvérsias com o paganismo e também se constitui em novo centro que acabara por se contrapor à Jerusalém, culminando com o primeiro Concílio cristão.

15.36 – A primeira viagem missionária oficial foi um grande sucesso e a evangelização e inclusão dos gentios já é um fato consumado e a ênfase agora é pastoral em dar assistência às comunidades, confirmando e estimulando a fé destes novos irmãos.

19.20 – A mensagem nova do Evangelho choca-se de frente com as grandes religiões gregas e se impõe e Paulo com sua equipe esta em sua terceira viagem oficial.

28.31 – O livro encerra com um resumo extremamente positivo destes primeiros trinta anos do cristianismo. Apesar de seu grande expoente missionário gentílico estar preso em Roma, a mensagem continua sendo amplamente proclamada e a própria capital do Império esta sendo alcançada.

Partindo destes sete sumários lucanos poderemos ter uma visão progressiva e estruturada de toda a narrativa. É possível perceber por este prisma que o objetivo é registrar a difusão do Evangelho.

d) Estruturação Temática: Esta proposta está centrada nos grandes temas geográficos e teológicos do livro. Podemos destacar ao menos cinco pontos:

1. Origem da Igreja (1.1-5.42). Panorama do inicio da Igreja em Jerusalém, sua dinâmica comunitária e as primeiras perseguições.

2. Perseguição e Missão (6.1-12.25). A expansão para Samaria, Judéia e Síria com o estabelecimento de um novo centro Antioquia. Destaque a Pedro (perseguição) e Paulo (conversão).

3. Início das Viagens Missionárias Oficiais (13.1.-15.35). A primeira viagem missionária oficial lideradas por Paulo e Barnabé visando primeiramente os judeus da diáspora e o estabelecimento das comunidades cristãs gentílicas. O grande Concílio em Jerusalém e a ruptura total entre cristianismo e judaísmo.

4. As Grandes Viagens Missionárias (15.36-20.38). A expansão do cristianismo na Grécia e Ásia alcançando-se os grandes centros Filipos, Tessalônica, Beréia, Corinto e Éfeso. Confrontos com  a religião pagã grega e com as autoridades e estruturas do império romano.

5. Paulo em Roma (21.1-28.31) Paulo é acusado e preso em Roma, levado a Cesaréia, mas como cidadão romano apela para César e é transportado para Roma. Mesmo aprisionado ele continua a propagar a mensagem do evangelho.

Conclusão

Estas ou quaisquer outras estruturas que se encontrem nos limites do livro têm a função apenas de facilitar sua visualização. Podemos nos servir delas, porém sem nos tornarmos limitados por elas. O mais importante é termos um contato mais profundo e amplo com o livro.

Utilização livre desde que citando a fonte

Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.

Universidade Presbiteriana Mackenzie

me.ivanguedes@gmail.com

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Referências Bibliográficas

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