sábado, 12 de março de 2016

A T O S - Introdução: Título

Com respeito ao título, muitos manuscritos disponíveis trazem Atos dos Apóstolos [grego - πράξεις ἀποστόλων ] e se popularizou desde os últimos anos do segundo século d.C. com Ireneu (Contra as Heresias III, 13, 3).  Um dos defensores ardoroso da compatibilidade deste título é J. Sidlow Baxter:
Mas, segundo o nosso critério, o verdadeiro nome do livro é o que sempre teve, ‘Atos dos Apóstolos’; pois, embora o Cristo que subiu às alturas e o Espírito que dá de Sua plenitude estejam operando através e acida de tudo, as figuras vistas são as dos homens comissionados por Cristo e controlados pelo Espírito, os apóstolos. O principal desafio do livro para nós é justamente o significado do que esses homens disseram e fizeram. Se quisermos interpretar a ascensão de Cristo e o fenômeno do Pentecoste devemos observar esses homens”.
E continua sua argumentação enfatizando o aspecto de que o livro se não trata especificamente de cada apóstolo, se refere em toda sua narrativa sempre ao corpo apostólico:
Os doze apóstolos, todos eles, são mencionados no primeiro capítulo, a fim de podermos saber, sem sombra de dúvida, a quem Lucas se refere quando fala dos ‘apóstolos’ nos capítulos seguintes. Eles são citados coletivamente depois disso nada menos do que 23 vezes! Seus pronunciamentos, decisões e atividades importantes, como um corpo, foram preservados, revelando sua unanimidade e autoridade reconhecida. Desse modo, embora o escritor não tenha achado necessário ou possível apresentar a história pessoal de cada um, ficamos sabendo que os escolhidos para menção especial são citados como representantes ou líderes. Talvez devamos acrescentar que apesar dos ‘Doze’ ocuparem um lugar distinto, o termo ‘apóstolo’ é usado para Barnabé e para outros mencionados pelo nome ou incluídos na narrativa sem serem nomeados. O livro é verdadeiramente comparável ao seu nome. Trata dos ‘Atos dos Apóstolos’. Tem o propósito de ensinar-nos a relevância desses homens, do que fizeram e disseram e do que aconteceu com eles”. (1989, p.11).

 Apesar das convicções de Baxter o fato de que o título do livro oscila muito em relação aos manuscritos, de maneira que grande parte dos comentaristas entende ser resultante de um acréscimo posterior de algum copista.
Em seu comentário Louis Berkhof atesta está diversidades de nomenclatura nos manuscritos:
Não há uniformidade no que se refere aos manuscritos (MSS) quanto a este ponto. O Sinaiticus tem simplesmente (Atos) embora tenha o título regular no encerramento do livro. O Codex D (ou Códex Bezantino) é peculiar e trás (O Caminho dos Atos dos Apóstolos). Nós não consideramos o título como sendo do autor, mas de um dos tradutores; e nem consideramos está uma escolha muita feliz (1915, p. 63).
Como ou por que recebeu este título é incerto. De fato, “Atos dos Apóstolos” não se constitui no título mais preciso uma vez que o livro não tem como objetivo registrar ou mesmo esboçar os atos de todos os apóstolos. Dos doze apóstolos originais, lemos muita coisa a respeito de Pedro, um pouco a respeito de João e de Judas, e nada absolutamente sobre os demais, exceto uma menção ocasional de “os apóstolos” (a última das quais no cap. 15), e uma lista de seus nomes em 1:13. Por outro lado, o livro nos apresenta grande número de personagens que não eram apóstolos, e por fim, dezesseis dos vinte e oito capítulos são dedicados a Paulo, de modo, considerando toda a obra, unicamente Pedro e Paulo são realmente enfatizados.
Diante da variedade de títulos encontrados nos manuscritos: O Cânon de Muratori  (um catálogo fragmentário dos livros sagrados cristãos aceitos em Roma) refere-se a esta obra com o título de “Atos de todos os apóstolos”; no Códex Alexandrinus e outros, incluindo alguns dos primeiros pais da Igreja “Atos dos Santos Apóstolos”;  no Códex Vaticanus e outros manuscritos  antigos “Atos dos Apóstolos”; mas no manuscrito Aleph temos apenas “Atos” que se tornou, inclusive atualmente em nossas versões em português, o mais aceito pelo pressuposto de ser uma expressão de maior originalidade, amplamente corroborado pelos Pais da Igreja: Orígenes, Dídimo, Hilário, Eusébio e Epifânio.
Alguns aceitando o fato de que as duas obras de Lucas originalmente estavam juntas e posteriormente foram separadas, possivelmente à época em que recebeu reconhecimento como livro canônico, e por ser distinto das epístolas, enfatizou-se os “atos” e não as “palavras”.
Entretanto, todo esforço de encontrar um título melhor que o que consta no documento em manuscritos antigos tem se demonstrado subjetivo e pouco animador.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras, v. 6. São Paulo: Vida Nova, 1989.
BERKHOF, Louis. New Testament Introduction, Eerdmans, 1915, https://archive.org/details/NewTestamentIntroduction Scanned and Edited Mike Randall.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. v. 1. São Paulo: Hagnos, 8ª ed., 2006.
ERDMAN, Charles R. Hechos de Los Apóstoles. Ed. TELL, 1974.
RYRIE, Charles C. Bíblia de estúdio Ryrie. Chicago (Illinois): Moody Press, 1991.
SMITH, T. C. Comentário Bíblico Broadman, v.10, JUERP, Rio de Janeiro, 1984.
WILLIAMS, David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo – Atos. São Paulo: Vida,1996.

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