Com
respeito ao título, muitos manuscritos disponíveis trazem Atos dos Apóstolos [grego - πράξεις ἀποστόλων ] e se popularizou desde os últimos anos do segundo século
d.C. com Ireneu (Contra as Heresias III, 13, 3). Um dos defensores ardoroso da compatibilidade
deste título é J. Sidlow Baxter:
Mas, segundo o nosso critério, o verdadeiro nome do livro é
o que sempre teve, ‘Atos dos Apóstolos’; pois, embora o Cristo que subiu às
alturas e o Espírito que dá de Sua plenitude estejam operando através e acida
de tudo, as figuras vistas são as dos homens comissionados por Cristo e
controlados pelo Espírito, os apóstolos. O principal desafio do livro para nós
é justamente o significado do que esses homens disseram e fizeram. Se quisermos
interpretar a ascensão de Cristo e o fenômeno do Pentecoste devemos observar
esses homens”.
E
continua sua argumentação enfatizando o aspecto de que o livro se não trata
especificamente de cada apóstolo, se refere em toda sua narrativa sempre ao
corpo apostólico:
Os doze apóstolos, todos eles, são mencionados no primeiro
capítulo, a fim de podermos saber, sem sombra de dúvida, a quem Lucas se refere
quando fala dos ‘apóstolos’ nos capítulos seguintes. Eles são citados
coletivamente depois disso nada menos do que 23 vezes! Seus pronunciamentos,
decisões e atividades importantes, como um corpo, foram preservados, revelando
sua unanimidade e autoridade reconhecida. Desse modo, embora o escritor não
tenha achado necessário ou possível apresentar a história pessoal de cada um,
ficamos sabendo que os escolhidos para menção especial são citados como
representantes ou líderes. Talvez devamos acrescentar que apesar dos ‘Doze’
ocuparem um lugar distinto, o termo ‘apóstolo’ é usado para Barnabé e para
outros mencionados pelo nome ou incluídos na narrativa sem serem nomeados. O
livro é verdadeiramente comparável ao seu nome. Trata dos ‘Atos dos Apóstolos’.
Tem o propósito de ensinar-nos a relevância desses homens, do que fizeram e
disseram e do que aconteceu com eles”. (1989, p.11).
Apesar das convicções de Baxter o fato de que
o título do livro oscila muito em relação aos manuscritos, de maneira que
grande parte dos comentaristas entende ser resultante de um acréscimo posterior
de algum copista.
Em
seu comentário Louis Berkhof atesta está diversidades de nomenclatura nos
manuscritos:
Não há uniformidade no que se refere aos manuscritos (MSS)
quanto a este ponto. O Sinaiticus tem simplesmente (Atos) embora tenha o título
regular no encerramento do livro. O Codex D (ou Códex Bezantino) é peculiar e
trás (O Caminho dos Atos dos Apóstolos). Nós não consideramos o título como
sendo do autor, mas de um dos tradutores; e nem consideramos está uma escolha
muita feliz (1915, p. 63).
Como
ou por que recebeu este título é incerto. De fato, “Atos dos Apóstolos” não se constitui no título mais preciso uma vez
que o livro não tem como objetivo registrar ou mesmo esboçar os atos de todos
os apóstolos. Dos doze apóstolos originais, lemos muita coisa a respeito de
Pedro, um pouco a respeito de João e de Judas, e nada absolutamente sobre os
demais, exceto uma menção ocasional de “os apóstolos” (a última das quais no
cap. 15), e uma lista de seus nomes em 1:13. Por outro lado, o livro nos
apresenta grande número de personagens que não eram apóstolos, e por fim, dezesseis
dos vinte e oito capítulos são dedicados a Paulo, de modo, considerando toda a
obra, unicamente Pedro e Paulo são realmente enfatizados.
Diante
da variedade de títulos encontrados nos manuscritos: O Cânon de Muratori (um
catálogo fragmentário dos livros sagrados cristãos aceitos em Roma) refere-se a
esta obra com o título de “Atos de todos
os apóstolos”; no Códex Alexandrinus e outros, incluindo alguns
dos primeiros pais da Igreja “Atos dos
Santos Apóstolos”; no Códex Vaticanus e outros
manuscritos antigos “Atos dos Apóstolos”; mas no manuscrito Aleph
temos apenas “Atos” que se tornou,
inclusive atualmente em nossas versões em português, o mais aceito pelo
pressuposto de ser uma expressão de maior originalidade, amplamente corroborado
pelos Pais da Igreja: Orígenes, Dídimo, Hilário, Eusébio e Epifânio.
Alguns
aceitando o fato de que as duas obras de Lucas originalmente estavam juntas e
posteriormente foram separadas, possivelmente à época em que recebeu
reconhecimento como livro canônico, e por ser distinto das epístolas,
enfatizou-se os “atos” e não as “palavras”.
Entretanto,
todo esforço de encontrar um título melhor que o que consta no documento em
manuscritos antigos tem se demonstrado subjetivo e pouco animador.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan
Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia
Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências Bibliográficas
BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras, v. 6. São Paulo:
Vida Nova, 1989.
BERKHOF,
Louis. New Testament Introduction, Eerdmans, 1915, https://archive.org/details/NewTestamentIntroduction
Scanned and Edited Mike Randall.
CHAMPLIN, R. N.
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. v. 1. São Paulo: Hagnos, 8ª ed.,
2006.
ERDMAN, Charles R.
Hechos de Los Apóstoles. Ed. TELL, 1974.
RYRIE,
Charles C. Bíblia de estúdio Ryrie. Chicago (Illinois): Moody Press, 1991.
SMITH, T. C. Comentário
Bíblico Broadman, v.10, JUERP, Rio de Janeiro, 1984.
WILLIAMS, David J. Novo
Comentário Bíblico Contemporâneo – Atos. São Paulo: Vida,1996.
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