Ao longo das Escrituras, Deus se revela de muitas formas. Entre
elas, três imagens se destacam por sua profundidade e consolo: Jesus como Rei,
como Cordeiro e como Pastor. Cada uma expressa aspectos únicos da missão de
Cristo — sua autoridade, seu sacrifício e seu cuidado.
Essas figuras não competem entre si, mas se complementam, revelando
o coração de Deus e a plenitude do amor de Cristo. Como afirma N.T. Wright, “a
glória de Cristo é inseparável de sua cruz, e seu reinado é inseparável de seu
cuidado.”
Na sequência do texto vamos explorar cada uma dessas imagens
separadamente, reconhecendo nelas a ponte viva entre o Antigo e o Novo
Testamento — e a esperança que nos sustenta hoje.
O Rei que governa com justiça
Em Apocalipse 19:16, Jesus é apresentado como o “Rei dos reis e
Senhor dos senhores”, título que expressa sua autoridade suprema e
escatológica. No entanto, é importante distinguir entre suas duas vindas: na
primeira, Ele veio em humildade para salvar; na segunda, virá em glória para
reinar.
Na primeira vinda, sua realeza foi marcada pela simplicidade.
Mateus 21:5 descreve sua entrada em Jerusalém: “Eis aí vem o teu Rei, humilde,
montado em um jumento.” Essa imagem contrasta com os reis da época, que se
apresentavam em cavalos de guerra. Jesus revela que seu governo é baseado na
entrega e na reconciliação, não na força política.
Como observa Eugene Peterson em A Mensagem, “o governo de
Deus é pessoal, não institucional; é relacional, não hierárquico.” Jesus reina
como quem serve, governa como quem guia. Sua autoridade é exercida com ternura,
como vemos em João 13, quando Ele lava os pés dos discípulos — um gesto real, mas
profundamente pastoral.
Na segunda vinda, essa realeza será plenamente revelada. Ele virá
“com poder e grande glória” (Mt 24:30), para julgar as nações e estabelecer seu
Reino de forma visível e definitiva. O mesmo Jesus que veio para salvar voltará
para reinar.
O Cordeiro que se entregou
A imagem do Cordeiro é central na teologia da redenção. João
Batista proclama: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo
1:29), conectando Jesus ao cordeiro pascal de Êxodo 12. No livro de Apocalipse,
o Cordeiro aparece “como tendo sido morto” (Ap 5:6), mas está no centro do
trono, digno de abrir os selos.
Como afirma John Stott em A Cruz de Cristo, “a cruz é o
centro do evangelho, e o Cordeiro é seu símbolo mais profundo.” A vitória de
Cristo não veio por força militar, mas por meio da cruz. Ele não foi vencido —
Ele se entregou. E por isso, é digno de toda adoração (Ap 5:12).
O Cordeiro que se sacrificou é também o Cordeiro que reina. Sua
entrega é voluntária, redentora e definitiva. E seu sangue continua sendo nossa
esperança.
O Pastor que cuida
Desde o Antigo Testamento, Deus é descrito como Pastor: “O Senhor é
o meu pastor; nada me faltará” (Sl 23:1). Essa imagem comunica cuidado, direção
e proteção. Em Ezequiel 34, Deus promete buscar suas ovelhas e levantar um
pastor da linhagem de Davi — uma clara referência messiânica.
Jesus cumpre essa promessa ao dizer: “Eu sou o bom pastor. O bom
pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10:11). Aqui, o verbo “dar” revela a
essência do cuidado pastoral: não é apenas conduzir, mas sacrificar-se por
amor.
Em Apocalipse 7:17, o Cordeiro glorificado continua a apascentar
seu povo: “O Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e os guiará para
as fontes da água da vida.” Como observa Timothy Keller, “o cuidado pastoral de
Cristo é ativo, presente e pessoal — Ele não apenas nos vê, Ele nos guia.”
Jesus é o Pastor que conhece cada ovelha pelo nome, que caminha
junto, que cura, que busca. Seu cuidado não termina na cruz — ele continua na
glória.
Conclusão: Uma ponte viva entre as alianças
Tudo o que foi prometido no Antigo Testamento se cumpre em Jesus.
Ele é o Pastor que busca a ovelha perdida, o Cordeiro que se entrega por amor,
e o Rei que conduz seu povo à vida eterna. Como afirma Michael Horton, “Cristo
é o fio vermelho que costura toda a Escritura — promessa e cumprimento, sombra
e realidade.”
Essas três imagens não competem entre si — elas se entrelaçam e
revelam um Cristo que reina com compaixão, salva com graça e conduz com
fidelidade. Nele, vemos a fidelidade de Deus em ação — ontem, hoje e para
sempre.
Referências bíblicas por tema
Jesus como Rei
- Salmo 2:6–9 – “Eu constituí o meu Rei
sobre Sião...”
- Isaías 9:6–7 – “O governo está sobre os
seus ombros...”
- Zacarias 9:9 – “Eis que o teu Rei vem a
ti, justo e salvador, humilde...”
- Mateus 21:5 – Entrada triunfal de Jesus em
Jerusalém
- Mateus 28:18 – “Toda autoridade me foi
dada no céu e na terra.”
- Apocalipse 19:16 – “Rei dos reis e Senhor
dos senhores”
- Apocalipse 11:15 – “O reino do mundo se
tornou de nosso Senhor e do seu Cristo...”
Jesus como Cordeiro
- Êxodo 12 – O cordeiro pascal e a
libertação do Egito
- Isaías 53:7 – “Como cordeiro foi levado ao
matadouro...”
- João 1:29 – “Eis o Cordeiro de Deus, que
tira o pecado do mundo.”
- 1 Coríntios 5:7 – “Cristo, nosso Cordeiro
pascal, foi sacrificado.”
- 1 Pedro 1:18–19 – “...como de cordeiro sem
defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.”
- Apocalipse 5:6–12 – O Cordeiro digno de
abrir o livro
- Apocalipse 7:17 – “O Cordeiro os
apascentará e os guiará...”
Jesus como Pastor
- Salmo 23 – “O Senhor é o meu pastor...”
- Isaías 40:11 – “Como pastor, apascentará o
seu rebanho...”
- Ezequiel 34:11–16, 23 – Deus promete
buscar suas ovelhas e levantar um pastor
- João 10:11–16 – “Eu sou o bom pastor...”
- Hebreus 13:20 – “...o grande Pastor das
ovelhas, pelo sangue da eterna aliança.”
- 1 Pedro 2:25 – “...voltastes agora ao
Pastor e Bispo das vossas almas.”
- Apocalipse 7:17 – O Cordeiro como Pastor
glorificado
Referências Bibliográficas
BONHOEFFER, Dietrich. Cristo, o
centro. São Paulo: Fonte Editorial, 2010.
HORTON, Michael. Cristianismo
sem Cristo: a teologia alternativa da cultura emergente. São Paulo: Cultura
Cristã, 2009.
KELLER, Timothy. O Pastor da
Alma: meditações sobre o cuidado de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2021.
LADD, George Eldon. Teologia do
Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001.
PETERSON, Eugene. A Mensagem:
Bíblia em linguagem contemporânea. Rio de Janeiro: Editora Vida, 2001.
STOTT, John. A Cruz de Cristo. São Paulo:
ABU Editora, 2007.
WALTERS, Kerry. Jesus como Pastor: uma leitura
espiritual dos Evangelhos. São Paulo: Paulinas, 2015.
WRIGHT, N. T. Jesus e o Reino de Deus. São
Paulo: Editora Ultimato, 2016.
WRIGHT, N. T. Surpreendido pela esperança:
repensando o céu, a ressurreição e a missão da Igreja. São Paulo: Thomas
Nelson Brasil, 2014.
YOUNG, Edward J. Estudos em
Isaías: comentários exegéticos e teológicos. São Paulo: PES, 2005.
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