A partir
do século XVIII com o movimento racionalista[1] tudo
que se relaciona com a Bíblia foi criticado e rejeitado. Os primeiros livros a
serem radicalmente exumados pela crítica racionalista foram aqueles que compõem
a primeira divisão da Bíblia e que é chamado de Pentateuco[2]
(cinco rolos) que vão de Gênesis ao Deuteronômio.
No
transcorrer dos tempos levantou-se certa escola de críticos que discordaram da
autoria mosaica e por um processo de “estudo científico” (porém nunca
comprovada cientificamente) concluíram, deles para eles mesmos, que o
Pentateuco não passava de uma coleção misturada de histórias, muitas delas
inventadas e amarradas por um conjunto de editores.[3] Estes
críticos estão dispostos a atribuir fraude e conspiração dos autores bíblicos,
que buscavam aceitação de seus escritos, que segundo eles foram compostos no
período de Josias e em parte em Esdras e Neemias, e depois distribuídos como
sendo o trabalho de Moisés. Aqui não é o
lugar para entrarmos em detalhes destas teorias. Mas afirmamos claramente, que estas
“críticas” degradam os livros do Velho Testamento e os coloca ao nível dos
demais escritos meramente humanos e por isso mesmo falível, e que as
argumentações destes “críticos” são especulações completamente
insustentáveis. Inclusive entre eles
próprios não há um consenso chegando-se a conclusões totalmente conflitantes.[4]
As
evidências em favor da autoria Mosaica do Pentateuco são conclusivas. Vejamos brevemente algumas delas.
Evidências
Testamentárias
§ Nos
próprios livros do Pentateuco encontramos declarações de que Moisés os escreveu
no nome de Deus ou por ordem direta de Deus (Êx.17.14; 24.3,4,7; 32.7-10, 30-34;
34.27; Lev.26.46; 27.34; Deut.31.9,24,25).
§ No
tempo de Josué até o tempo de Esdras há no intermédio os livros históricos,
onde constantemente vemos referência ao Pentateuco como o “Livro da Lei de
Moisés”. Este é um ponto de muita
importância, já que os críticos negam que há qualquer referência, negando assim
o caráter histórico do Pentateuco. Como
cumprimentos à Páscoa, por exemplo, frequentemente achamos alusões nos livros
históricos que seguem o Pentateuco e mostra que a “Lei de Moisés” foi conhecida
desde então. A Páscoa era celebrada pelo
tempo de Josué (Js.5.10, cf. 4.19); Ezequias (II Cr.30); Josias (II Re.23; II
Cr.35), e Zorobabel (Ed 6.19-22), e há referências em passagens tais como II
Reis 23.22; II Crônicas 35.18; I Reis 9.25 (“três vezes por ano”); II Crônicas
8.13. Igualmente poderíamos citar
referências frequentes à Festa dos Tabernáculos e outras instituições judaicas,
embora nós não admitimos que qualquer argumento válido possa ser tirado do
silêncio da Escritura em tal caso. Um exame
dos textos seguintes, I Reis 2.9; II Reis 14.6; II Crônicas 23.18; 25.4; 34.14;
Esdras 3.2; 7.6; Daniel 9.11,13, também mostrarão claramente que a “Lei de
Moisés” era conhecida durante todos estes séculos.
§ Referência
expressa à lei escrita de Moisés é encontrada unicamente nos últimos Profetas (Dn
9.11, 13; Ml 4.4. Os outros Profetas frequentemente referem à lei do Senhor
observado pelos pais (cf. Dt 31.9), e eles colocaram isto no mesmo nível da
Revelação Divina e do governo eterno do Senhor. Eles apelam ao governo de Deus,
às leis do sacrificial, ao calendário de banquetes, e outras leis do
Pentateuco, indicando que provavelmente havia já em seus dias uma legislação
escrita, que se constituía no fundamento de suas pregações proféticas (cf. Os 8.12),
e que eles conheciam pessoalmente expressões verbais do livro da lei. Assim
tanto Amós no reino do norte (4.4-5; v, 22 ss...) como Isaías no sul (1.11
ss...) empregam expressões que são praticamente palavras técnicas para
sacrifício que ocorrem em Levíticos (cap. 1 a 3; 7.12, 16; e Dt.12.6).
§ O
Senhor Jesus endossou, sem qualquer dúvida, a autoria Mosaica destes livros
(Mt. 5.17,18; 19.8; 22.31,32; 23.2; Mc.10.9; 12.26; Lc.16.31; 20.37; 24.26,27,44;
Jo.3.14; 5.45-47; 6.32,49; 7.19,22).
Diante destes fatos, alguém alegaria que Cristo era ignorante da
composição da Bíblia, ou que, conhecendo o verdadeiro estado do caso, Ele ainda
encorajou as pessoas a crerem numa mentira?
Testemunho
Histórico
Tanto
quanto se refere à tradição, Judaica ou Cristã, são unânimes e constantes em
proclamarem a autoria de Mosaico do Pentateuco.
E até o século XX não se levantou qualquer dúvida sobre este ponto. Os
seguintes parágrafos estão unicamente uma amostra delinear desta tradição viva.
Tradição Judaica
Os
tradutores Gregos da Versão da Septuaginta consideravam Moisés como o autor do
Pentateuco todo. No primeiro século da era Cristã, Josefos atribui a Moisés a
autoria do Pentateuco inteiro, não salvo a conta de morte do legislador
("Antiq. Jud.", IV, viii, 3-48; cf. I Procem., 4; "Contra
Apion.", I, 8). Também Philo, o filósofo Alexandrino, é convencido que o
Pentateuco inteiro é um trabalho de Moisés, e que o último escreveu uma nota
profética de sua morte sob a influência de uma inspiração divina especial ("De
vita Mosis", ll. II, III em "Ópera", Geneva, 1613, pp. 511,
538). O Talmud Babilônico, o Talmud de Jerusalém,[5] os
rabinos, e os doutores de Israel prestam testemunho ao prolongamento desta
tradição aos primeiros mil anos. Embora Isaac ben Jasus no século décimo
primeiro e Abenesra no décimo segundo permitiram certas adições
postadas-mosaico no Pentateuco, ainda assim eles como Maimonides mantiveram a
autoria Mosaico, e substancialmente não difere neste ponto do ensinado por R.
Becchai ( final do décimo terceiro), Joseph Karo, e Abarbanel (décimo quinto).
Unicamente no século vinte é que Baruc
Spinoza rejeitando a autoria Mosaico do Pentateuco, apontou a possibilidade que
o trabalho poderia ter sido escrito por Esdras ("Trato. Theol.-politicus", c. viii, ed. Tauchnitz, III,
p. 125). Dentre os escritores Judaicos mais recentes vários tem
adotado os resultados dos críticos, abandonando assim a tradição de seus
antepassados.
Tradição Cristã
A
tradição Judaica concernente a autoria Mosaico do Pentateuco foi trazido à Igreja
Cristã por Cristo e os Apóstolos. Desde então ninguém nega a existência e
prolongamento de tal tradição do período
do patristicos; e no intervalo entre o tempo dos Apóstolos e o começo do século
terceiro nós podemos apelar à "Epístola de Barnabe" a Clemente de
Roma, a Justino, a Irineu, a Hipolito de Roma, a Tertuliano de Cartage, a
Origines de Alexandria, a Eusthatius de Antioquia. Todos esses escritores, e
inumeráveis outros, corroboram com a tradição Cristã de que Moisés escreveu o
Pentateuco.
Consequências
de uma Rejeição Mosaica do Pentateuco
Rejeitar
a autoria de Moisés em relação ao Pentateuco é incorrer em grave e terrível
perigo, que com certeza traria sérias consequências como algumas mencionadas
abaixo:
§ A
primeira consequência seria a rejeição de toda a evidência positiva, bíblica e extrabíblica,
sobre a autoria do Pentateuco. Isto implica também que o testemunho do Novo
Testamento e o próprio testemunho do Senhor Jesus Cristo torna-se um engodo e
estaria aberta a porta da possibilidade de que Ele houvesse se enganado sobre
outros assuntos. E isto seria feito não na autoridade de se haver encontrado
provas mais antigas ou melhores, mas unicamente no interesse de uma teoria, que
nunca foi coerentemente demonstrada.
§ Uma
segunda consequência seria a admissão de que o período temporal-histórico de
Moisés é fundamentalmente errôneo.
Moisés é uma figura proeminente.
Ele é mencionado mais de 500 vezes do Êxodo ao Deuteronômio. Mas se todos os códigos legais do Pentateuco
datam de um período cronológico totalmente desvinculado de Moisés e se a
história ali narrada é recente e incerta, como afirmam estes teóricos, então
ele se torna uma figura decididamente enganosa, e fica difícil se não
impossível corresponder ao papel proeminente para o qual foi nomeado. A reputação dele é vasta, mas as ações que
servem como a base para isto não são consideradas como suas. Deste modo, ele se torna um tipo de ficção
legal.
§ Uma
terceira consequência de se aceitar esta teoria seria a de adotar um critério
baixo da autoridade e credibilidade da Bíblia.
Trazendo as Escrituras ao mesmo nível das demais obras literárias, do
passado ou do presente.
A
Importância do Pentateuco
A importância destes cinco livros é incalculável. Podemos compreender isto através destes cinco
aspectos relacionados por Ellisen.
¨ Cósmico.
explicam o cosmos dando o único relato antigo que identifica a “Primeira
Causa”. O princípio unificador do
Universo, procurado às cegas pelos filósofos e clássicos, está compreendido na
primeira sentença - “No princípio criou Deus...”.
¨ Étnico.
Eles descrevem o começo e a expansão das três divisões raciais do mundo:
oriental, negroide e ocidental.
¨ Histórico. Esses livros são os únicos a traçar a origem
do homem numa linha contínua a partir de Adão.
Todavia, não é sua intenção apresentar a história completa de todas as
raças, mas sim um relato altamente especializado da implantação do reino
teocrático no mundo e do plano de redenção da humanidade. Nesse processo, a história de Israel remonta
a Abraão, através de quem Deus prometeu a redenção.
¨ Religioso.
Esses livros são fundamentais. Retratam
a Pessoa e o caráter de Deus, a criação do homem e sua queda, as alianças e
promessas divinas de trazer a redenção através de um divino Redentor.
¨ Profético. Os
livros do Pentateuco são a origem dos temas proféticos mais importantes da
Bíblia. É a história centralizada no Messias associada à profecia centralizada
no Messias. Apresentam em conjunto uma filosofia simétrica da história. As profecias preenchem a interpelação histórica
através das demais revelações.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
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Cânones do Primeiro Testamento
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Primeiro Testamento
Septuaginta ou Versão dos
Setenta (LXX)
Referências Bibliográficas
Autores
que Aceitam a Unidade e Autoria Mosaica
YOUNG, Edward J. Introdução
ao Antigo Testamento. São
Paulo: Ed. Vida Nova, 1964.
FRANCISCO, Clyde T. Introdução
do Velho Testamento. Rio de
Janeiro: JUERP, 1969.
ARCHER, Gleason L. Merece
Confiança o Antigo Testamento.
São Paulo: Ed. Vida Nova, 199.
ELLISEN, Stanley A. Conheça
Melhor o Antigo Testamento. São
Paulo: Ed. Vida, 1996.
LASOR, W.S., HUBBARD, D. A. &
BUSH, F.W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Ed. Vida
Nova, 1999 (com reservas).
Autores
que Rejeitam a Unidade e Autoria Mosaica
HOMBURG, Klaus. Introdução ao Antigo Testamento. São
Leopoldo: Ed. Sinodal, 1975.
BENTZEN, Aage. Introdução ao Antigo Testamento. São
Paulo, ASTE, 1968. [2 volumes].
SELLIN, E. & FOHRER, G. Introdução
ao Antigo Testamento. São
Paulo: Ed. Paulinas, 1978. [2 volumes].
1.4. SCHMIDT, Werner H. Introdução
ao AT. São Leopoldo (RS): Ed. Sinodal, 1994.
[1] Racionalismo é o
uso da razão construindo teorias racionais para a própria razão crer como
verdade última. Isto é, o próprio homem sendo fundamento de suas crenças
religiosas e científicas.
[2] O termo
“Pentateuco” se deriva de duas palavras gregas “pente” (cinco) e “teucos”
(volumes). A palavra “teuchos” significa propriamente um instrumento. Essa palavra veio a ser usada para designar
um receptáculo para guardar rolos de papiros, e também para designar o próprio
rolo. Daí o seu sentido de volume ou
livro.
[3] Esta teoria é
chamada de hipótese documentária ou a teoria do JEDP. "J" representa
Jehovah ou Yahweh, a fonte mais antecipada, escrita por volta de 900 a.C.;
"E" representa a fonte chamada Elohim, escrito por volta de 800 a.C.;
"D" representa a fonte Deuteronômica escrito já nos anos 621 a.C.; e
"P" representa a fonte Sacerdotal, escritas no período de 500 a.C.
[4] Um dos primeiros
a levantar dúvidas sobre a questão da autoria Mosaico do Pentateuco foi Baruch Spinoza que insinuou em 1671 a
possibilidade de seu autor ter sido Esdras.
Em 1753 Jean Astruc, um médico e professor da Faculdade Real de Paris,
partindo de suas observações ao longo do livro de Gêneses, e até o 6º capítulo
de Êxodo, encontra indícios de dois documentos originais, cada um caracterizado
pelo uso distinto dos nomes de Deus; um pelo nome Elohim, e o outro pelo nome
Jehovah. Ele supôs então que Moisés
utilizou-se de pelo menos mais dez outros documentos originais na composição da
parte mais recente do trabalho dele, além destes dois documentos
principais. Neste caminho aberto por
Astruc seguiu-se inúmeros escritores alemães e que por sua vez desdobrou-se em
inumeráveis hipóteses. Para maiores
informações sobre o pensamento destes “críticos” veja o material de Clyde T.
Francisco, Op. cit. pp.25-33.
[5] Há dois Talmuds,
o palestino, datando do sec. 400 a.C, e o babilônico, datando do sec. a.C. 500.
O Talmud babilônico contém a primeira lista definitiva de livros da Bíblia
hebréia. Ambos os Talmuds contêm material que é comum seguindo uma forma
semelhante de organização, embora também haja diferenças consideráveis em seus
conteúdos. O Talmud é organizado debaixo de seis títulos longos, subdivididos
em vários subtítulos. origens, pessoas designadas, mulheres, danos, coisas
santas, e pureza. ELLISEN, Stanley A. Conheça Melhor o Antigo Testamento. São
Paulo: Ed. Vida, 1991, p.14.
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