Síntese
Capítulo 1
A
importância e relevância do livro de Êxodo esta em que os alicerces
fundamentais da teologia que norteou a vida do povo de Israel estão aqui
firmemente estabelecidos: os Dez Mandamentos, o calendário religioso, a
Constituição civil que vai legislar todas as esferas da sociedade israelita.
O
Desenvolvimento da Redenção no livro de Êxodo
A necessidade de redenção (caps. 1-6)
O
Poder do Redentor (caps. 7-11)
O Método da Redenção (caps. 12-18)
Os
Deveres dos redimidos (caps. 19-24)
As Provisões para os redimidos (caps.
25-40)
(Adaptado de Arthur Pink, Gleanings in Exodus - Chicago:
Moody, n.d.1 p. 8).
Mas
nesse livro os cristãos encontram também pilares que dão sustentação ao ensino
do Evangelho. Para o apóstolo Paulo tudo que está registrado concernente à
história israelita é para o nosso ensino (1Co 10.11): a escravidão no Egito
ilustra nossa antiga escravidão no pecado; Moisés é semelhante a Jesus Cristo
em muitos aspectos (Dt 18.15; Atos 3.22; 7.37); a libertação de Israel e sua passagem
pelo Mar Vermelho foi um “batismo para Moisés” e ilustra nosso “batismo em
Cristo” (1Co 10. 2; Gl 3.27); até mesmo as falhas de Israel em sua peregrinação
pelo deserto foram registradas para que nos servisse de alerta do perigo da
desobediência (Hb 4.1); e projeto, construção e utilização do tabernáculo, que
ocupada lugar proeminente no texto (Êxodo 25-40), esta intimamente relacionado
com a obra de Cristo (Hb 9.9).
A
literatura desse livro irradia verdades profundas sobre o caráter de Deus como
poucas literaturas bíblicas o fazem: aqui temos o perfeito equilíbrio entre a
misericórdia e graça de Deus que é tardio em irar-se e abundante em benignidade
e verdade; e sua perfeita justiça e juízo, pois de modo algum compactua com a
injustiça e o pecado (Êx 34.6,7). O Decálogo continua sendo ainda hoje a
espinha dorsal dos Códigos de leis das sociedades modernas.
Êxodo começa com
"Agora", que pode ser traduzido "E", sugerindo que o livro
não foi originalmente independente de Gênesis, mas constituiu uma parte dele.
Isto é verdade para todos os primeiros cinco livros da Bíblia, que
originalmente eram um volume ininterrupto e conhecido como "A Lei" ou
"A Lei de Moisés" (Lc 16.31; 24.44).
O
livro de Gênesis conclui com a subida de Jacó e seus filhos para morar no Egito e eles foram recebidos
com honras de Estado visto a posição elevada que José havia sido elevado no
governo egípcio. Entre o final de Gênesis e o primeiro capítulo de Êxodo temos
aproximadamente 200 anos que Jacó havia se estabelecido com seus descendentes
(os 430 anos mencionados são desde os dias de Abraão), nesse período a situação
dos israelitas mudou radicalmente. A nova dinastia egípcia “não conhecia José”, “Conhecer” no hebraico
geralmente tem um tom harmônico de relacionamento, de maneira que a relação de
amizade e serviço estabelecida entre José e a dinastia anterior havia sido
esquecida.
No
discurso do rei (vv. 9 e 10) o escritor enfatiza a ironia do Faraó que exagera
propositalmente o número de israelitas e a expressão "usemos de astucia [sabedoria]
para lidar com eles”, na prática foi opressão e extermínio. Essa atitude hostil
tem duas razões: uma de ordem política, os inimigos do Egito ao nordeste da
fronteira estavam se armando para a guerra e os israelitas poderiam se unir a
eles – os israelitas esta na fronteira do Egito com Canaã; e outra de ordem
econômica, pois as terras (Goshen) e gado israelita lhes dava poder econômico e
prosperidade. Mas agora a terra do Egito se tornou para os israelitas uma casa
de servidão (1.8-14).
O
objetivo desse primeiro capítulo é vinculá-lo à narrativa anterior do Gênesis,
como mencionado acima, e demonstrar que Deus manteve sempre Sua palavra
empenhada na Aliança estabelecida com Abraão e renovada com Isaque e Jacó.
O
capítulo está inserido dentro de uma perícope maior (Ex 1.1-15.21) onde temos o
desenvolvimento da narrativa em três temáticas: a opressão (1.1-7.7), mediação
(7.8-13.16) e libertação dos israelitas (13.17-15.21). A leitura revela uma
perfeita unidade literária em que cada uma das partes está sincronicamente
entrelaçada com a próxima em um ritmo crescente culminando com o clímax da
libertação dos israelitas.
Os
personagens protagonistas vão entrando em cena: Israel (c.1), Moisés (c. 2) e
Yahweh (cc. 3-4) e os principais antagonistas: Faraó e Egito (c.1). As cenas
são preenchidas por outros personagens secundários, com funções limitadas,
porém significativas: as parteiras (c.1), Miriam, irmã de Moisés, e a filha do
faraó (c.2), Aarão (c. 4), etc. Sem dúvida, o personagem chave é Yahweh e a partir
do momento em que entra em cena, assume o controle e dá sentido as ações de
todos os personagens envolvidos, sejam os protagonistas ou antagonistas.
Os
movimentos geográficos da narrativa têm seu inicio no Egito e continua na
paisagem desértica de Midiã, culminando no monte Horebe, onde Deus se revela e
vocaciona a Moisés. Então retorna para o Egito, lugar de opressão israelita e
palco da libertação efetuada por Deus.
Reflexões do Capítulo 1
v O
verso 6 demarca o fim de uma geração (representada na morte de José e seus
irmãos) e o verso 7 o inicio de uma nova geração (nascida no Egito). Aqui temos
duas coisas importantes: o cumprimento da promessa de que dos patriarcas
surgiria um grande povo (nação) e a partir deste ponto eles serão identificados
não mais como filhos de Jacó (v. 6), mas como povo de Israel. A mudança é
relevante: da história de uma família (Jacó) passasse à história de um povo
(faltam ainda território e Constituição – para ser uma nação).
v Deus
os havia conduzido ao Egito para preservá-los, mas o lugar definitivo deles era
em Canaã. A nova geração israelita havia se acomodado no conforto e
prosperidade do Egito e se esquecido da Aliança, mas agora, diante da opressão
crescente sua memória começa a ser reestabelecida. Todas as vezes que a Igreja
usufrui tempos de paz e segurança ela se esquece da “Aliança” e se ajusta
confortavelmente na sociedade presente; mas quando sobrevêm as perseguições se
lembram de que sua pátria não é aqui, mas na eternidade. As aflições em nossas
vidas são para nos fazer lembrar que nosso lugar definitivo não é neste mundo,
mas no céu.
v Os
israelitas e os egípcios representam aqui toda a humanidade. A inimizade entre
eles revela a inimizade entre o povo de Deus e as demais nações que se rebelam
contra a vontade de Deus. O texto é um alerta perpetuo de que acomodar-se na
falsa segurança do Egito (mundo) ou assentar-se confortavelmente às portas de
Sodoma e Gomorra (sociedade depravada) é se colocar em risco eminente de
experimentar a opressão, o juízo e a ira de Deus.
v “Vamos
lidar com eles com sabedoria (astucia)”. Jesus alerta seus discípulos
declarando que "Os filhos deste mundo são mais sábios em sua geração do
que os filhos da luz". Satanás aproxima-se astutamente de Eva e a conduz
suavemente à desobediência e ao pecado. O mal sempre vem revestido de uma fina
capa de bondade e beneficio, mas o resultado final é a opressão e a morte.
Outra vez Jesus alerta: “A amizade com o mundo é inimizade contra Deus”. Mas
como essa geração de israelitas também nos sentimos confortáveis no Egito e até
sentimos saudades de seus temperos.
v O
infanticídio proposto por Faraó para inibir o crescimento dos israelitas, mas
que foi frustrado pelo temor das parteiras das mulheres hebreias em relação a
Deus, que haviam sido encarregadas desse ato indescritível, mas que foi
efetuado pelo louco Herodes em sua tentativa frustrada de matar o novo “rei dos
judeus” (Jesus), quando mandou assassinar os meninos de dois anos para baixo na
pequena vila de Belém e continua sendo executado hoje pelos abortistas e seus
movimentos espalhados pelo mundo inteiro. Onde não há temor de Deus o mal
efetua livremente seu infanticídio.
v As
parteiras receberam ordens diretas do Faraó para que matassem os meninos
hebreus, mas elas optaram por não cumprir tais ordens. Normalmente, devemos
obedecer àqueles que têm autoridade sobre nós, incluindo o governo, mas às
vezes precisamos desobedecer aqueles que têm autoridade sobre nós, quando suas
ordens entram em contradição direta com a nossa consciência cristã. Quando os
apóstolos foram ordenados a parar de pregar o Evangelho, eles responderam:
“Então Pedro e os outros apóstolos responderam e disseram: Devemos obedecer a
Deus e não aos homens” (Atos 5.29). Matinho Lutero diante das maiores
autoridades religiosas e civis de sua época, tendo sua vida por risco, declarou
com convicção: “não posso ir contra a minha consciência e meu entendimento das
Escrituras”. O que falta nos dias atuais é crente que esteja disposto a
contrariar a maioria e o politicamente correto e se posicionar biblicamente. Se
não defendermos o que é certo e piedoso, a sociedade nunca perceberá o erro do
que está acontecendo. Alguém disse que tudo o que é necessário para a sociedade
se destruir é que homens e mulheres piedosos se calem e não façam nada.
v Nesse
primeiro capítulo temos a manifestação da soberania de Deus. Ele mesmo havia
conduzido Jacó e seus filhos para o Egito, a fim de preservá-los da absorção da
cultura e religião canaanita através dos casamentos mistos. Ele mesmo os
preservou e abençoou no Egito de maneira que se multiplicaram e se tornaram um
grande povo. Mesmo diante da perseguição e opressão de Faraó os israelitas
continuavam a crescerem e se fortalecerem, pois Deus os guardava. Assim ocorre
conosco, pois o Egito é uma figura do mundo e Faraó uma figura de Satanás, de
maneira que vivemos em um mundo hostil a tudo e qualquer pessoa que ouse servir
a Deus – “no mundo tereis aflições” - e permanentemente Satanás faz uso de
todos os meios “legais” para nos destruir – mas quem nos guarda e preserva é
Deus. Não precisamos nos apavorar quando as circunstâncias mudam para pior,
quando um “novo” Faraó se levanta, pois todas as coisas cooperam para o nosso
bem. Foi assim com José e será assim com os israelitas e também conosco. A
mensagem de Êxodo 1 é clara: os propósitos de Deus para o seu povo não serão
frustrados.
v Nenhuma
palavra de desprezo pela grandeza do Egito é encontrada nos registros bíblicos
(diferentemente da Babilônia). O Egito tipifica esse mundo e seu sistema
político-econômico-social que quando adequadamente usufruído torna-se uma
bênção, mas quando mal utilizado torna-se uma maldição. Deus mesmo tornou o
Egito o celeiro do mundo através de José e Deus mesmo trouxe toda a família de
Jacó para ali morar, se multiplicar e prosperar. Aqui os israelitas aprenderam
muitas coisas que lhes foram uteis quando ocuparam a terra de Canaã; aqui
Moisés foi preparado em toda ciência e conhecimento humano que o capacitou a
ser um grande líder. Por outro lado, é preciso tomar cuidado para não
transformarmos o Egito (mundo) em nossa Canaã (céu); de nos rendermos às
seduções deste mundo maligno, a ponto de perdermos nosso conhecimento de Deus e
Sua Aliança; de desperdiçarmos nossa herança dissolutamente a ponto de desejar
comer a lavagem dos porcos (como o filho pródigo); de nos tornarmos escravos
desse mundo e seu sistema; de construirmos nossas vidas nas areias deste mundo
e não na rocha que é Jesus Cristo; de deixarmos nossos nomes gravados nas
ruínas deste mundo, mas não nos fundamentos da cidade celestial eterna. Quando
nos esquecemos Dele e de Sua Aliança, absorvidos por este mundo, Deus mesmo
endurece o coração de Faraó e somos oprimidos e multiplicam-se nossas dores até
que nos voltemos a Ele e clamemos por sua graça e misericórdia.
v Estamos
fazendo história mesmo quando não nos apercebemos disso. Aquilo que parece
pequeno e insignificante hoje pode vir a se constituir em elos de uma corrente
que se revelará em grandes eventos no futuro; a venda de um menino como escravo
pelos próprios irmãos se constituiu no grande projeto que transformou o Egito
no celeiro do mundo e na preservação de uma família e na fecundação de um
numero povo e posteriormente uma nação, através da qual Deus trouxe salvação
para o mundo inteiro – através de Jesus Cristo. O que fazemos hoje vai
contribuir positiva ou negativamente daqui a dez ou cem anos, portanto, façamos
o nosso melhor para que a nossa contribuição seja abençoadora às gerações
futuras.
v Nesse
momento histórico nosso país esta experimentando uma mudança de governo. Um
“novo” presidente estará tomando posse a partir de primeiro de janeiro. Apesar
das grandes expectativas geradas por esta mudança em momento algum devemos
colocar nossa confiança e esperança nos governantes e/ou nas circunstâncias, mas
unicamente em Deus e seus propósitos eternos. Faraó tem sua própria agenda para
os israelitas, mas está em confronto com a agenda de Deus. Faraó vai se
utilizar de seu poder para impor sua agenda aos israelitas, mas o poder de Deus
é soberano. Faraó já perdeu, mas ainda não sabe disso. Deus fala através da
boca do profeta Isaías: “Meu propósito permanecerá, e farei tudo o que me
agrada” (46.10). A agenda de Deus para nossa vida prevalecerá, sobre o mundo e
sobre Satanás.
Quão grande é o seu Deus?
Existe em toda a história um espetáculo mais
surpreendente que o Êxodo? Uma revelação mais augusta e solene de Deus do que
no Sinai? Uma peça de arquitetura mais significativa que o tabernáculo
israelita? Uma figura humana maior que o homem Moisés? Uma época nacional mais
influente do que a fundação da teocracia de Israel? Todos estes são encontrados
neste segundo livro das Escrituras.
J Sidlow Baxter
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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suas Múltiplas Facetas: Do Êxodo ao Deuteronômio. Tradução Euclides
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[1] Os filhos estão agrupados em relação
às suas mães: primeiro os filhos das esposas oficiais (Lía e Raquel) e depois
os filhos das servas (Bilá e Zilpá); dentro dos grupos segue a ordem de
nascimento (cf. Gn 35.23-26).
[2] Atualmente, a generalidade dos
estudiosos egípcios identifica esse faraó com Ramsés II, mas todas as condições
da narrativa são cumpridas na pessoa de Amosis I (ou Aahmes), o chefe da 18ª
Dinastia.
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