quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Natividade no Evangelho Segundo João - Jesus: Vida e Luz


Dos evangelistas João foi o último a compor sua narrativa e por esta razão ele pode abordar algumas questões que complementam o material elaborado pelos seus companheiros. Como Mateus e Lucas haviam compartilhado algumas informações sobre o nascimento de Jesus o quarto evangelista opta por retroceder ainda mais no tempo e nos transporta ao princípio de todas as coisas. Para João o pequeno e frágil bebe da manjedoura é aquele que sempre existiu desde o inicio e pelo qual todas as coisas vieram a existir (1.1-3).
                Mas João continua sua argumentação natalina fazendo ainda algumas afirmações, pois sua intenção não é explicar o inexplicável, mas tão somente comunicar o que ele havia ouvido e crido.
 “Nele estava a vida” (1.4a). Aqui passamos do ponto de vista cósmico [relação de Deus e Jesus] ao ponto de vista antropológico e soteriológico. É importante enfatizar que João declara que a vida estava nele (cf. 5.26; 6.48,53; 11.25) e não por meio dele,[1] ou seja, desde toda eternidade a vida tem sua origem unicamente em Jesus. Quando João utiliza a palavra “vida” (ζωὴ) ele não se refere somente à questão biológica, mas frequentemente indica na literatura joanina a “vida espiritual”, bem como a “vida eterna”.[2] Desta maneira, a vida colocada à nossa disposição em Cristo tem uma qualidade e poder sobrenaturais, bem como uma extensão infinita.  A palavra “vida” não é acidental nesse prologo, mas ela norteia toda a narrativa evangélica, ocorrendo trinta e seis vezes como substantivo e na forma verbal “viver” dezesseis vezes.  Ao concluir sua narração João declara que seu objetivo principal foi que as pessoas pudessem obter “vida em seu nome [Jesus]” (20.31). Para o evangelista obter a vida eterna somente é possível àqueles que vierem a conhecer [crer] em Cristo a quem Deus enviou (17.3). Assim como Jesus dá vida à Criação, Ele também oferece vida eterna àqueles que nEle vierem a crer.
 “e a vida era a luz dos homens” (1.4b) – Mais uma vez o evangelista retorna à narrativa da criação em Gênesis. A primeira ação do Logos foi criar a luz (Haja luz e houve luz). Assim como por meio da luz o Logos iniciou o processo de colocar ordem no caos, da mesma forma a vinda de Jesus, o Logos, haverá de produzir vida (espiritual) onde havia apenas a morte (espiritual). A luz que emana de Jesus proporciona esperança a todas as pessoas que vivem nesse mundo cada vez mais enegrecido pela corrupção humana, que expande trevas cada vez mais tensas sobre toda a terra. Essa esperança de vida não se relaciona apenas com a eternidade, mas proporciona uma vida abundante e significativa aqui e agora, pois Sua luz ao penetrar o recôndito obscuro do coração e da mente humana produz entendimento da vontade de Deus e nos capacita a enxergarmos a vida e o mundo pela perspectiva de Deus. O caos em que a humanidade esta inserida é resultante de seu distanciamento da vontade de Deus, portanto, somente ao retornar para Deus por meio de Jesus o ser humano poderá retornar ao estado original. Deste modo o evangelista declara sem qualquer restrição que Jesus é tanto o autor da Criação como igualmente da Nova Criação.
 “E a luz brilha nas trevas” (1.5a) – Há uma mudança de tempo verbal aqui, de maneira que a luz não iluminou somente no passado, mas continua iluminando intensamente a todos os seres humanos. Essa manifestação da luz evangélica pode ser vista nas páginas do Primeiro Testamento, na promessa inicial de sua vinda (Gn 3.15); no Cordeiro Pascal e demais figuras no livro do Êxodo, bem como em cada uma das ofertas especificadas no livro de Levítico; no livro de Números é representado na figura da serpente de bronze (Nm 21.8; cf. Jo. 3.14,15). Ele esta em toda literatura profética e nos livros poéticos e de sabedoria. Alcançou não apenas os israelitas, mas todos os povos com os quais eles tiveram contato, um dos exemplos são os moradores de Nínive que se arrependem e não são destruídos. Portanto, a narrativa evangélica joanina apenas dá continuidade a esta manifestação da luz provinda de Jesus para o ser humano perdido.
 “...e as trevas não a compreenderam”[3] (1.5b) – trevas aqui se relaciona à humanidade que insiste em rejeitar a luz de Cristo. A grande maioria das pessoas é avessa ao Evangelho de Jesus. Elas preferem permanecerem na escuridão, elas não aceitam a luz e nem se apropriam dela. Essa rejeição não é apenas na esfera do entendimento de uma apreensão mental ou de percepção. Ao fazerem uma opção pelas trevas o ser humano passa a odiar a luz com todas as suas forças, empreendendo todos os meios possíveis para impedir que a luz seja manifestada. Portanto, aqui temos uma antítese absoluta entre a luz e as trevas, o Evangelho do Reino e o sistema do mundo, entre Cristo e as forças malignas que permeiam a raça humana. Os que optam por permanecerem nas trevas não apenas tornam-se incapazes de compreenderem ou perceberem a luz, todavia, por mais que eles empreendam todo o esforço jamais poderão vencer a luz (Jo 12.35,36; 2 Co 4.6; Ef 5.8,9; 1Pe 2.9; 1Jo 2.8; cf. Mt 5.14-16).
                 O Natal é a manifestação da Luz intensa, poderosa e eterna sobre esse Mundo tenebroso. A cada Natal somos levados a contemplarmos nossos próprios pecados, bem como percebermos o quanto a Sociedade humana vem se degenerando horrivelmente. Alguns minutos diante da TV ou acessando algumas páginas na Internet ou mesmo ouvindo uma conversa informal entre algumas pessoas em uma fila, serão suficientes para tomarmos conhecimento de que não apenas estamos doentes como habitamos no meio de uma Sociedade totalmente adoentada.
                O Natal é a solução de Deus para esta situação moribunda da raça humana. Jesus veio para iluminar e conduzir o ser humano de volta a Deus. A questão é: as pessoas desejam voltar para Deus ou preferem permanecerem alienadas Dele?
                Você tem vivido nas trevas e sabe que nada de bom elas podem produzir a não ser a morte.....
Mais um Natal se aproxima e você mais uma vez têm a oportunidade
de experimentar dessa Vida e Luz que Jesus veio trazer!

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referência Bibliográfica
BRUCE, F. F. (Editor) Comentário bíblico NVI – Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2008.
JEREMIAS, Joaquim. Estudos no Novo Testamento. São Paulo: Ed. Academia Cristã Ltda., 2006.
FEUILLET, O prólogo do quarto evangelho. São Paulo: Edições Paulinas, 1971.
DODD, Charles H. A interpretação do quarto evangelho. São Paulo: Editora Teológica, 2003.
PACK, Frank. O evangelho segundo João. São Paulo: Editora Vida Cristã, 1983.
ROBERTSON, Archibald Thomas. Imágenes verbales em el Nuevo Testamento, tomo 5 - Juan e Hebreos. Barcelona: CLIE, 1990.


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[1] “A discussão exegética é se  as palavras traduzidas por ‘nele’ devem ser vinculadas ao termo ‘fez’, ou ao termo ‘vida’, a saber: ‘...nele estava a vida...’ (ou nele está a vida) ou ‘...tudo que foi feito nele, era a vida...’. Todas essas possibilidades são verdadeiras e podem ser demonstradas nas Escrituras.” (CHAMPLIN, 1987, p. 267).
[2] O termo grego usado para "vida" é “zoe” (ζωὴ) e sempre foi usado para descrever a vida divina e eterna no Evangelho de João. Jesus usou esse termo específico durante a Última Ceia quando disse aos discípulos: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (14.6).

[3] Uma ampla e importante discussão sobre a tradução do termo “κατέλαβεν” (compreenderam [Almeida Corrigida e Revisada Fie]); prevaleceram [Almeida Revidas Imprensa Bíblica, Sociedade Bíblica Britânica]; derrotaram [Nova Versão Internacional] pode ser encontrada no comentário de Feuillet (1971, pp. 49-52), onde o autor cita diversos estudiosos e as razões gramaticais para suas referidas opções de tradução do termo.

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