Dos evangelistas João foi o último a compor sua narrativa
e por esta razão ele pode abordar algumas questões que complementam o material
elaborado pelos seus companheiros. Como Mateus e Lucas haviam compartilhado
algumas informações sobre o nascimento de Jesus o quarto evangelista opta por retroceder
ainda mais no tempo e nos transporta ao princípio de todas as coisas. Para João
o pequeno e frágil bebe da manjedoura é aquele que sempre existiu desde o
inicio e pelo qual todas as coisas vieram a existir (1.1-3).
Mas João continua sua
argumentação natalina fazendo ainda algumas afirmações, pois sua intenção não é
explicar o inexplicável, mas tão somente comunicar o que ele havia ouvido e
crido.
“Nele estava a
vida” (1.4a). Aqui passamos do
ponto de vista cósmico [relação de Deus e Jesus] ao ponto de vista
antropológico e soteriológico. É importante enfatizar que João declara que a
vida estava nele (cf. 5.26; 6.48,53; 11.25) e não por meio dele,[1] ou seja, desde toda
eternidade a vida tem sua origem unicamente em Jesus. Quando João utiliza a
palavra “vida” (ζωὴ)
ele não se refere somente à questão biológica, mas frequentemente indica na
literatura joanina a “vida espiritual”, bem como a “vida eterna”.[2] Desta
maneira, a vida colocada à nossa disposição em Cristo tem uma qualidade e poder
sobrenaturais, bem como uma extensão infinita.
A palavra “vida”
não é acidental nesse prologo, mas ela norteia toda a narrativa evangélica,
ocorrendo trinta e seis vezes como substantivo e na forma verbal “viver” dezesseis vezes. Ao concluir sua narração João declara que seu
objetivo principal foi que as pessoas pudessem obter “vida em seu nome [Jesus]” (20.31).
Para o evangelista obter a vida eterna somente é possível àqueles que vierem a
conhecer [crer] em Cristo a quem Deus enviou (17.3). Assim como Jesus dá vida à
Criação, Ele também oferece vida eterna àqueles que nEle vierem a crer.
“e a vida era a
luz dos homens” (1.4b) – Mais uma vez o evangelista retorna à narrativa da
criação em Gênesis. A primeira ação do Logos foi criar a luz (Haja luz e houve
luz). Assim como por meio da luz o Logos iniciou o processo de colocar ordem no
caos, da mesma forma a vinda de Jesus, o Logos, haverá de produzir vida
(espiritual) onde havia apenas a morte (espiritual). A luz que emana de Jesus
proporciona esperança a todas as pessoas que vivem nesse mundo cada vez mais
enegrecido pela corrupção humana, que expande trevas cada vez mais tensas sobre
toda a terra. Essa esperança de vida não se relaciona apenas com a eternidade,
mas proporciona uma vida abundante e significativa aqui e agora, pois Sua luz
ao penetrar o recôndito obscuro do coração e da mente humana produz
entendimento da vontade de Deus e nos capacita a enxergarmos a vida e o mundo
pela perspectiva de Deus. O caos em que a humanidade esta inserida é resultante
de seu distanciamento da vontade de Deus, portanto, somente ao retornar para
Deus por meio de Jesus o ser humano poderá retornar ao estado original. Deste
modo o evangelista declara sem qualquer restrição que Jesus é tanto o autor da
Criação como igualmente da Nova Criação.
“E a
luz brilha nas trevas” (1.5a) – Há uma
mudança de tempo verbal aqui, de maneira que a luz não iluminou somente no
passado, mas continua iluminando intensamente a todos os seres humanos. Essa
manifestação da luz evangélica pode ser vista nas páginas do Primeiro
Testamento, na promessa inicial de sua vinda (Gn 3.15); no Cordeiro Pascal e
demais figuras no livro do Êxodo, bem como em cada uma das ofertas
especificadas no livro de Levítico; no livro de Números é representado na
figura da serpente de bronze (Nm 21.8; cf. Jo. 3.14,15). Ele esta em toda
literatura profética e nos livros poéticos e de sabedoria. Alcançou não apenas
os israelitas, mas todos os povos com os quais eles tiveram contato, um dos
exemplos são os moradores de Nínive que se arrependem e não são destruídos.
Portanto, a narrativa evangélica joanina apenas dá continuidade a esta
manifestação da luz provinda de Jesus para o ser humano perdido.
“...e as trevas
não a compreenderam”[3] (1.5b) – trevas aqui se relaciona à humanidade que
insiste em rejeitar a luz de Cristo. A grande maioria das pessoas é avessa ao
Evangelho de Jesus. Elas preferem permanecerem na escuridão, elas não aceitam a
luz e nem se apropriam dela. Essa rejeição não é apenas na esfera do
entendimento de uma apreensão mental ou de percepção. Ao fazerem uma opção pelas
trevas o ser humano passa a odiar a luz com todas as suas forças, empreendendo todos
os meios possíveis para impedir que a luz seja manifestada. Portanto, aqui
temos uma antítese absoluta entre a luz e as trevas, o Evangelho do Reino e o
sistema do mundo, entre Cristo e as forças malignas que permeiam a raça humana.
Os que optam por permanecerem nas trevas não apenas tornam-se incapazes de
compreenderem ou perceberem a luz, todavia, por mais que eles empreendam todo o
esforço jamais poderão vencer a luz (Jo 12.35,36; 2 Co 4.6; Ef 5.8,9; 1Pe 2.9;
1Jo 2.8; cf. Mt 5.14-16).
O Natal é a
manifestação da Luz intensa, poderosa e eterna sobre esse Mundo tenebroso. A
cada Natal somos levados a contemplarmos nossos próprios pecados, bem como
percebermos o quanto a Sociedade humana vem se degenerando horrivelmente.
Alguns minutos diante da TV ou acessando algumas páginas na Internet ou mesmo
ouvindo uma conversa informal entre algumas pessoas em uma fila, serão
suficientes para tomarmos conhecimento de que não apenas estamos doentes como
habitamos no meio de uma Sociedade totalmente adoentada.
O Natal é a
solução de Deus para esta situação moribunda da raça humana. Jesus
veio para iluminar e conduzir o ser humano de volta a Deus. A questão é: as
pessoas desejam voltar para Deus ou preferem permanecerem alienadas Dele?
Você tem vivido nas trevas e sabe
que nada de bom elas podem produzir a não ser a morte.....
Mais um Natal se aproxima e você mais uma vez têm a
oportunidade
de experimentar dessa Vida e Luz que Jesus veio trazer!
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Histórico dos Evangelhos
Referência Bibliográfica
BRUCE,
F. F. (Editor) Comentário bíblico NVI –
Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2008.
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São Paulo: Ed. Academia Cristã Ltda., 2006.
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O prólogo do quarto evangelho. São
Paulo: Edições Paulinas, 1971.
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ROBERTSON,
Archibald Thomas. Imágenes verbales em
el Nuevo Testamento, tomo 5 - Juan e Hebreos. Barcelona: CLIE, 1990.
________________________________________
[1]
“A discussão exegética é se as palavras
traduzidas por ‘nele’ devem ser vinculadas ao termo ‘fez’, ou ao termo ‘vida’,
a saber: ‘...nele estava a vida...’ (ou nele está a vida) ou ‘...tudo que foi
feito nele, era a vida...’. Todas essas possibilidades são verdadeiras e podem
ser demonstradas nas Escrituras.” (CHAMPLIN, 1987, p. 267).
[2]
O termo grego usado para "vida" é “zoe” (ζωὴ) e sempre foi usado para
descrever a vida divina e eterna no Evangelho de João. Jesus usou esse termo
específico durante a Última Ceia quando disse aos discípulos: "Eu sou o
caminho, a verdade e a vida" (14.6).
[3]
Uma ampla e importante discussão sobre a tradução do termo “κατέλαβεν”
(compreenderam [Almeida Corrigida e Revisada Fie]); prevaleceram [Almeida
Revidas Imprensa Bíblica, Sociedade Bíblica Britânica]; derrotaram [Nova Versão
Internacional] pode ser encontrada no comentário de Feuillet (1971, pp. 49-52),
onde o autor cita diversos estudiosos e as razões gramaticais para suas
referidas opções de tradução do termo.
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