sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Profetas: Os Doze Notáveis – Proposta Cronológica


Uma das ineptas literárias dos séculos foi a nomenclatura que se deu aos últimos doze livros do Antigo Testamento, a saber, os “Profetas Menores”. Evidentemente que quando Agostinho (sec. IV d.C.) e Jeronimo cunharam essa classificação apenas desejavam indicar que tais registros proféticos produzidos e inseridos no cânon bíblico eram em menor extensão quando comparados aos escritos proféticos que os antecedem, denominados de “Profetas Maiores”, no sentido de terem uma quantidade maior de registros.
Todavia, com o passar dos séculos essa classificação literária tornou-se pejorativa passando a impressão de que esses livros são de menos relevância, de pouca utilidade para uma compreensão da vontade de Deus. Uma designação melhor seria manter o termo utilizado pelos rabinos que os denominavam “o livro dos Doze” ou apenas “Os Doze”. O cânon hebraico dividiu os livros proféticos em profetas anteriores (Josué, Juízes, Samuel e Reis), pois entendia corretamente que os fatos históricos estão subordinados aos propósitos eternos de Deus; e os profetas posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze), enquanto Daniel e Lamentações de Jeremias foram alocados na última parte do cânon hebraicos chamado de Escritos.
Os judeus agregaram os doze escritos desses profetas em somente um rolo, pelo fato de serem curtos, mas também para que fossem preservados, uma vez que por suas dimensões literárias menores poderiam ser facilmente perdidos e juntos foram cuidadosamente preservados.
Apesar de estarem juntos em um rolo não foram organizados em ordem cronológica ainda que os seis primeiros de fato antecedam historicamente os últimos seis os quais estão organizados em uma ordem cronológica dos acontecimentos. O esforço em datar os seis primeiros tem sido grande por parte dos estudiosos, todavia, mesmo os comentadores talmúdicos (judaico) não conseguem uma unanimidade na razão pela qual eles foram assim organizados.
Com base no conteúdo de suas mensagens e das informações ali registradas é possível afirmar que eles viveram, proclamaram e escreveram suas mensagens a partir do nono ao quinto século a.C. Nestas mensagens estão inseridas os grandes temas da literatura profética sobre o Messias, Israel/Judá, as Nações e o Reino de Deus e/ou Messiânico. Eles perpassam os maiores períodos de crise dos dois reinos: período Assírio, quando o reino de Israel (Norte) foi destruído para não mais ser restabelecido; pré-babilônico e Babilônico, quando a cidade e o templo de Jerusalém foram destruídos; e pós-babilônico (Medo-Persa) quando muitos exilados retornam para reconstruírem a cidade e o templo na capital Jerusalém. Todavia, o arranjo canônico não é estritamente de acordo com a ordem cronológica dos respectivos ministérios proféticos de cada um deles, conforme se pode perceber no gráfico abaixo:
Cronologia[1] dos Doze Notáveis (Rolo dos Doze)
Em 931, ano da morte de Salomão, a nação dividiu-se em dois reinos, Judá e Israel.
Proposta Cronológica
Público Alvo da Pregação
Aspecto Central da Mensagem
Arranjo Canônico
Obadias (852/845)
Israel
Advertência contra arrogância dos edomitas, mas alerta para os judeus.
Oséias
Joel (830/825)
Judá
Aviso a Judá do julgamento devido ao pecado.
Joel
Jonas (785/760)
Israel
Censura a Israel pelo egoísmo da nação.
Amós
Amós (760)
Israel
Alerta a Israel do julgamento amadurecido.
Obadias
Em 841, Jeú matou os reis de ambos os reinos, apoderou-se do trono de Israel e destruiu o generalizado culto a Baal no Reino do Norte.
Oséias (755/725)
Israel
Aliança violada por Israel.
Jonas
Miquéias (730/720)
Judá
Censura a Judá por causa das injustiças sociais.
Miquéias
Naum 710
Israel
Juízo de Deus sobre os inimigos de Judá.
Naum
Em 722, os assírios destruíram Samaria e exilaram Israel para a Assíria. Judá foi poupada em virtude da reforma de Ezequias e do expurgo da idolatria.
Sofonias (625)
Judá
Indignação de Deus no Dia do Senhor.
Habacuque
Habacuque (607)
Judá
Deus utilizara um povo estrangeiro para disciplinar os israelitas.
Sofonias
Em 586, os babilônicos destruíram Jerusalém e exilaram os judeus para a Babilônia. O Governo Persa permite o retorno dos exilados para que eles reconstruíssem o Templo em Jerusalém (Zorobabel [538] e Esdras [479]).
Ageu (520)
Judá
Glória verdadeira é na Presença de Deus.
Ageu
Zacarias (520/480)
Judá
Cumprimento da Aliança através do Messias.
Zacarias
Em 445, o rei da Pérsia permitiu a Neemias reconstruir os muros de Jerusalém.
Malaquias (430)
Judá
Obediência aos termos da Aliança até a vinda do Messias.
Malaquias


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referências Bibliográficas
BRIGTH, J. História de Israel. São Paulo: Ed. Paulus, 1980.
FALCÃO, Silas Alves. Panorama do Velho Testamento – os livros proféticos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1965.
FEINBERG, Charles L. Os profetas menores. Tradução: Luiz A. Caruso. Florida: Editora Vida, 1998.
FRANCISCO, Clyde T. Introdução ao Velho Testamento. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP), 1969.
LASOR, W. Sanford, DAVI A. Hubbard e FREDERIC W. BushPanorama del Antiguo Testamento - Mensaje, forma y transfondo del Antiguo Testamento. Buenos Aires: Ed. Nueva Creacion, 1995.
ROBINSON, Jorge L. Los doce profetas menores. Texas: Casa Bautista de Publicciones, 1982.
SICRE, José Luís. Profetismo em Israel – o profeta, os profetas, a mensagem. Tradução: João Luís Baraúna. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.




[1] Todas as datas são sujeitas a questionamentos, visto que não há um consenso definido entre os estudiosos. Quando da abordagem individual de cada profeta estas datas propostas serão defendidas.

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