Há poucas informações pessoais sobre
este grupo de profetas, em alguns casos, tudo o que temos é o livro que trás seu
nome. Alguns são bastante populares (por exemplo, Jonas), outros são bastante desconhecidos
(por exemplo, Obadias). Alguns exerceram um ministério mais longo e outros – inferindo
do que sabemos de seus escritos - pode ter sido bastante curto (por exemplo, o
livro de Ageu abrange um período de alguns meses).
Apesar de serem relegados à
periferia das pregações evangélicas e desconhecidos pelos evangélicos de forma
geral, estes profetas foram amplamente referido na literatura do Segundo
Testamento. Isso faz sentido quando entendemos que a inspiração é o que faz os
escritos contidos na bíblia significativos - pouco importa se o registro contém
apenas alguns parágrafos ou muitas páginas, pois tudo o que Deus falou através
de cada um deles é inspirado e digno de nossa atenção, como tão bem esclarece
Pedro, "a profecia nunca veio pela
vontade do homem, mas homens separados por Deus falaram movidos pelo Espírito
Santo" (1Pe 1.21).
A título de ilustração vejamos algumas das passagens
importantes destes profetas que foram utilizadas pelos escritores
neotestamentários:
a)
Lucas 11. 29-30 - Jesus se referiu ao "Sinal do Profeta Jonas:" E enquanto as
multidões se juntaram grosseiramente, ele começou a dizer: "Esta
é uma geração do mal. Procura um sinal, e nenhum sinal será dado a ele, exceto
o sinal de Jonas, o profeta. Pois, como Jonas tornou-se um sinal para os Ninivitas,
então também O Filho do Homem será para esta geração". Quem
melhor poderia referendar e valorizar a mensagem profética de Jonas do que o
próprio Senhor Jesus. Ele compara o Seu ministério com o de Jonas, que advertiu
Nínive. Mas diferentemente dos ninivitas os moradores de Jerusalém e a grande
maioria dos judeus não crerão e nem se arrependeram.
b)
Habacuque 2.4 - "O
justo viverá pela fé". Esta pequena e singela frase pronunciada
na pregação do profeta do século XVIII
a.C. e que foi reproduzida na
epístola escrita pelo apóstolo Paulo e dirigida às comunidades cristãs na
cidade de Roma, no primeiro século, tornar-se-á o estopim da maior Reforma
experimentada pela Igreja Cristã no século XVI.
c)
Miqueias 5.2 - Quando os sábios do Oriente
vieram a Herodes perguntando sobre o paradeiro do nascimento do rei dos judeus,
foi o livro do profeta Miqueias, que forneceu o responda. O evangelista Mateus (2.4-6)
registra o que aconteceu: E quando [Herodes] reuniu todos os principais
sacerdotes e escribas, perguntou a eles onde o Cristo iria nascer e assim eles
disseram a ele: “Em Belém da Judéia, pois assim está
escrito pela profeta: ‘E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor
entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a
meu povo, Israel’”.
d)
Oséias 11.1 – Alertado em sonho José conduz
Maria e o menino Jesus para o Egito, fugindo assim da ira mortal de Herodes.
Após a morte do rei genocida José é comunicado que pode retornar novamente para
sua terra, e o evangelista Mateus se utiliza da expressão do profeta Oséias
(11.1) que faz referência ao êxodo dos israelitas do Egito, para ilustrar que
Jesus é o novo êxodo, não apenas para os israelitas, mas para todos os que nele
crerem: “para que se cumprisse o que fora dito
pelo Senhor, por intermédio do profeta: ‘Do Egito chamei o meu filho’”.
e)
Zacarias 11.12 e 12.10 - O valor de
30 moedas (peças) de prata, referente ao preço de um escravo, pelas quais Judas
trairia o seu Mestre, foi proferido pelo profeta: “Se acharem
melhor assim, paguem-me; se não, não me paguem. Então eles me pagaram trinta
moedas de prata”. É desse mesmo profeta que vem a descrição de como
Jesus faria sua derradeira entrada na cidade de Jerusalém ovacionado pela
multidão: “Alegre-se muito, cidade de Sião!
Exulte, Jerusalém! Eis que o seu rei vem a você, justo e vitorioso, humilde e
montado num jumento, um jumentinho, cria de jumenta” (Zc 9.9,
cf. Mt 21.5). Coube a esse profeta visualizar o terrível equívoco dos judeus em
relação ao seu Messias: “Olharão para mim,
aquele a quem traspassaram, e chorarão por ele como quem chora a perda de um
filho único, e lamentarão amargamente por ele como quem lamenta a perda do
filho mais velho” (Zc 12.10, cf. João 19.37).
f)
Malaquias 3.1 e 4.5-6 – È dos
registros desse último dos profetas que vem a referência sobre o ministério
preparatório de João Batista: “Vejam, eu
enviarei o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim. E então, de
repente, o Senhor que vocês buscam virá para o seu templo; o mensageiro da
aliança, aquele que vocês desejam, virá", (Ml. 3. 1). São desse
profeta as palavras que apontam para figura histórica do profeta Elias como
indicador da vinda do Dia do Senhor e do seu Messias, com o qual Jesus
relaciona diretamente ao ministério veemente de João Batista (Ml 4.5-6; cf. Mt
11.14; 17.10-13).
g) Joel 2 e 3 - Alguns dos
eventos mais temíveis e sombrios associados ao retorno de Cristo, no final dos
tempos, é registrado por outro profeta desta seleta coleção - Joel - sobre o
"Dia do Senhor" (Joel 2 e 3): “Multidões, multidões no vale da
Decisão! Pois o dia do Senhor está próximo, no vale da Decisão. O sol e a lua
escurecerão, e as estrelas já não brilharão. O Senhor rugirá de Sião e de
Jerusalém levantará a sua voz; a terra e o céu tremerão. Mas o Senhor será um
refúgio para o seu povo, uma fortaleza para Israel” (Jl 3.14-16).
Estas são apenas uma pequena amostra das riquezas a serem
encontradas nesta negligenciada coleção dos Doze Notáveis.
Razões Para Estudarmos Estes Profetas
ü É impossível compreendermos a genuína mensagem da Bíblia
e entender muito do que Jesus disse e fez sem uma compreensão razoável do Primeiro
Testamento. A negligência do Primeiro Testamento tem produzido uma distorção na
interpretação de Cristo e sua mensagem. Uma vez que os Doze são parte
integrante da primeira parte da revelação bíblica, eles tornam-se
indispensáveis para uma interpretação correta da mensagem bíblica.
ü Uma vez que toda a Bíblia é inspirada por Deus e útil
para uma vida cristã autentica, o estudo dos Doze em hipótese alguma pode ser
negligenciado.
ü Para uma compreensão de uma fé completamente integrada à
realidade humana é fundamental a compreensão da mensagem contida nestes
escritos proféticos dos Doze. Suas mensagens são direcionadas a todas as
esferas: sociais, religiosas, econômicas, políticas e judiciais.
ü É no conjunto destes doze profetas que haveremos de
encontrar uma visão mais completa do desenvolvimento histórico de Israel/Judá
desde os tempos de Salomão, através do Reino dividido, a queda subsequente do
Reino do Norte para a Assíria e o Reino do Sul para a Babilônia e, finalmente,
a restauração do remanescente que retorna da Babilônia para reconstruir
Jerusalém antes para o tempo do NT.
ü Esses profetas e suas mensagens nos pintam um quadro
muito vivido do caráter de Deus: sua Justiça e sua Graça se equilibram de forma
perfeita em sua relação com Seu povo. Serve de alerta a todas as nações de que
assim como Deus tratou com Israel/Judá, assim Ele haverá de trata-los também.
Na organização canônica proposta pela versão grega da Septuaginta e
adotada por nossas versões em português (inglês) coube aos Doze concluírem a
literatura não apenas profética, mas de toda literatura bíblica contida no
Primeiro Testamento. Com a mensagem de Malaquias cessa-se a voz de Deus e
somente quatrocentos anos depois, com a pregação de João Batista ouvir-se-á novamente
a voz de Deus ressoando aos ouvidos de seu povo.
Utilização livre desde
que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências
Bibliográficas
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Paulus, 1980.
FALCÃO, Silas Alves. Panorama do Velho Testamento
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Tradução: Luiz A. Caruso. Florida: Editora Vida, 1998.
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LASOR, W. Sanford, DAVI A. Hubbard e FREDERIC W.
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SICRE, José Luís. Profetismo em Israel – o
profeta, os profetas, a mensagem. Tradução: João Luís Baraúna. Petrópolis:
Editora Vozes, 2002.
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