Uma das ineptas literárias dos séculos foi a nomenclatura
que se deu aos últimos doze livros do Antigo Testamento, a saber, os “Profetas Menores”. Evidentemente que quando
Agostinho (sec. IV d.C.) e Jeronimo cunharam essa classificação apenas
desejavam indicar que tais registros proféticos produzidos e inseridos no cânon
bíblico eram em menor extensão quando comparados aos escritos proféticos que os
antecedem, denominados de “Profetas Maiores”,
no sentido de terem uma quantidade maior de registros.
Todavia, com o passar dos séculos essa classificação
literária tornou-se pejorativa passando a impressão de que esses
livros são de menos relevância, de pouca utilidade para uma compreensão da
vontade de Deus. Uma designação melhor seria manter o termo utilizado pelos rabinos
que os denominavam “o livro dos Doze”
ou apenas “Os Doze”. O cânon hebraico
dividiu os livros proféticos em profetas anteriores (Josué, Juízes, Samuel e
Reis), pois entendia corretamente que os fatos históricos estão subordinados
aos propósitos eternos de Deus; e os profetas posteriores (Isaías, Jeremias,
Ezequiel e os Doze), enquanto Daniel e Lamentações de Jeremias foram alocados
na última parte do cânon hebraicos chamado de Escritos.
Os judeus agregaram os doze escritos desses profetas em
somente um rolo, pelo fato de serem curtos, mas também para que fossem
preservados, uma vez que por suas dimensões literárias menores poderiam ser
facilmente perdidos e juntos foram cuidadosamente preservados.
Apesar de estarem juntos em um rolo não foram organizados
em ordem cronológica ainda que os seis primeiros de fato antecedam
historicamente os últimos seis os quais estão organizados em uma ordem
cronológica dos acontecimentos. O esforço em datar os seis primeiros tem sido
grande por parte dos estudiosos, todavia, mesmo os comentadores talmúdicos
(judaico) não conseguem uma unanimidade na razão pela qual eles foram assim
organizados.
Com base no conteúdo de suas mensagens e das informações
ali registradas é possível afirmar que eles viveram, proclamaram e escreveram
suas mensagens a partir do nono ao quinto século a.C. Nestas mensagens estão
inseridas os grandes temas da literatura profética sobre o Messias,
Israel/Judá, as Nações e o Reino de Deus e/ou Messiânico. Eles perpassam os
maiores períodos de crise dos dois reinos: período Assírio, quando o reino de
Israel (Norte) foi destruído para não mais ser restabelecido; pré-babilônico e
Babilônico,
quando a cidade e o templo de Jerusalém foram destruídos; e pós-babilônico (Medo-Persa)
quando muitos exilados retornam para reconstruírem a cidade e o templo na
capital Jerusalém. Todavia, o arranjo canônico não é estritamente de acordo com
a ordem cronológica dos respectivos ministérios proféticos de cada um deles,
conforme se pode perceber no gráfico abaixo:
Cronologia[1] dos Doze Notáveis
(Rolo dos Doze)
|
|||
Em 931, ano da morte de
Salomão, a nação dividiu-se em dois reinos, Judá e Israel.
|
|||
Proposta Cronológica
|
Público Alvo da Pregação
|
Aspecto Central da Mensagem
|
Arranjo Canônico
|
Obadias
(852/845)
|
Israel
|
Advertência contra
arrogância dos edomitas, mas alerta para os judeus.
|
Oséias
|
Joel
(830/825)
|
Judá
|
Aviso
a Judá do julgamento devido ao pecado.
|
Joel
|
Jonas
(785/760)
|
Israel
|
Censura
a Israel pelo egoísmo da nação.
|
Amós
|
Amós
(760)
|
Israel
|
Alerta
a Israel do julgamento amadurecido.
|
Obadias
|
Em 841, Jeú matou os reis de ambos os
reinos, apoderou-se do trono de Israel e destruiu o generalizado culto a Baal
no Reino do Norte.
|
|||
Oséias
(755/725)
|
Israel
|
Aliança
violada por Israel.
|
Jonas
|
Miquéias
(730/720)
|
Judá
|
Censura
a Judá por causa das injustiças sociais.
|
Miquéias
|
Naum
710
|
Israel
|
Juízo
de Deus sobre os inimigos de Judá.
|
Naum
|
Em 722, os assírios destruíram Samaria e
exilaram Israel para a Assíria. Judá foi poupada em virtude da reforma de
Ezequias e do expurgo da idolatria.
|
|||
Sofonias
(625)
|
Judá
|
Indignação
de Deus no Dia do Senhor.
|
Habacuque
|
Habacuque
(607)
|
Judá
|
Deus
utilizara um povo estrangeiro para disciplinar os israelitas.
|
Sofonias
|
Em 586, os babilônicos destruíram
Jerusalém e exilaram os judeus para a Babilônia. O Governo Persa permite o
retorno dos exilados para que eles reconstruíssem o Templo em Jerusalém
(Zorobabel [538] e Esdras [479]).
|
|||
Ageu
(520)
|
Judá
|
Glória
verdadeira é na Presença de Deus.
|
Ageu
|
Zacarias
(520/480)
|
Judá
|
Cumprimento
da Aliança através do Messias.
|
Zacarias
|
Em 445, o rei da Pérsia permitiu a
Neemias reconstruir os muros de Jerusalém.
|
|||
Malaquias
(430)
|
Judá
|
Obediência
aos termos da Aliança até a vinda do Messias.
|
Malaquias
|
Utilização livre desde que
citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Jorge L. Los doce profetas menores. Texas: Casa Bautista de
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SICRE,
José Luís. Profetismo em Israel – o profeta, os profetas, a mensagem. Tradução:
João Luís Baraúna. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
[1]
Todas as datas são sujeitas a questionamentos, visto que não há um consenso
definido entre os estudiosos. Quando da abordagem individual de cada profeta
estas datas propostas serão defendidas.
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