terça-feira, 21 de novembro de 2017

Natividade: Galeria de Lucas - Encontro de Maria e Isabel (Lucas 1.39-45)


Este é o terceiro quadro da Galeria Natalina de Lucas. O primeiro quadro tinha a figura central de um homem chamado Zacarias, no segundo a figura de uma mulher chamada Maria e aqui sobressai a figura de duas mulheres - Maria e Isabel. Desde o inicio Lucas deixa claro sua apreciação pelos personagens femininos. Dentre os evangelistas é ele quem mais cita as mulheres e as retrata como modelos da vida cristã.
No quadro anterior Maria havia recebido o anuncio de que por meio dela o Espírito Santo geraria o Messias. Sua reação foi de fé e submissão, o que por si só já se constitui em grande exemplo de como o crente deveria reagir diante do chamado de Deus para realizar os Seus propósitos eternos.
O anjo lhe havia dito que sua prima Isabel, que era estéril, estava grávida e Maria imediatamente percebe a relação entre esta ação sobrenatural e a sua própria experiência miraculosa e imediatamente parte para encontrar-se com Isabel. Lucas passa a pintar então esta cena indescritível de duas mulheres que experimentam do poder e da graça de Deus de forma superabundante em suas vidas e através delas a história não somente de Israel, mas da própria humanidade será radicalmente mudada e jamais será a mesma.
Visitação: Depois da anunciação temos o quadro da Visitação. O evangelista vai utilizar duas expressões muito significativas no restante do seu relato evangélico - "tendo-se levantado" que é o verbo usado para se referir a ressurreição e "ela se põe a caminho" que esta relacionado diretamente ao discipulado.
A Casa: Para Lucas a casa e não o templo e/ou sinagoga é o lugar peculiar da manifestação da salvação (ocorrem mais de cinquenta vezes no seu relato). Aqui a casa é o lugar do reconhecimento mútuo da ação poderosa e graciosa de Deus; é o lugar onde irrompera o primeiro dos quatro cânticos à glória de Deus, da pequena cantata natalina, que pontilham as narrativas da natividade. Enquanto Zacarias ainda permanece mudo, pelo instante de incredulidade, o dialogo de Maria e Isabel é uma explosão de alegria e fé. Como não relacionar esta cena com a do final deste evangelho, onde outras mulheres, entre elas outras duas Marias, se regozijarão e serão as primeiras a proclamarem a ressurreição de Jesus, diante da mudez dos discípulos incrédulos, dos quais Tomé é o modelo maior.
Isabel: Ainda que a casa seja de Zacarias (v.40), ele fica fora da cena. É Isabel que fica "cheia do Espírito Santo" (v.41) e antes mesmo de Maria compartilhar de sua experiência, ela proclama a grande mensagem natalina "bendita é você entre as mulheres, e bendito é o filho que você dará à luz!". O bebe de Isabel agita-se de forma excepcional, não apenas pela alegria da visita de Maria, mas também pela razão - a presença do "meu Senhor". Então Isabel irrompe a primeira das doze Bem-Aventuranças que marcara a narrativa lucana - "Bem-aventurada é aquela que creu que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse" (v.45). Mais uma vez sobressai a fé de Maria e a incredulidade de Zacarias. O casal com certeza teve tempo para repensar a reação dele quando comunicado pelo anjo. A felicidade real e plena somente pode ser encontrada no coração crente - a dificuldade de Zacarias é a mesma dificuldade encontrada por nós em determinados momentos da nossa vida e o exemplo de Maria é aquele que deve nos motivar a sermos mais crentes a cada dia.
Maria: A reação de Maria é expressa em um cântico ("Magnificat" 1.46-55). O evangelista utiliza este e os demais cânticos como instrumento de catequese. Deus é descrito como "meu salvador" (v.47) utilizado amplamente por Isaías e pelos salmistas. Aqui o tema da inversão das situações e dos valores começa a se delinear - a mulher humilde é exaltada pelo próprio Deus - a salvação proporcionada por meio do Evangelho vai à contra mão dos valores da sociedade humana. Deus inverte as situações e valores: "dispersando os orgulhosos, derrubando os poderosos de seus tronos, elevando os humildes, cumulando de bens os famintos e despedindo os ricos de mãos vazias". Deus ao mesmo tempo Salva e Julga e somente Ele tem poder para realizar a inversão de valores antigos, para estabelecer os valores novos, com base em sua "misericórdia", ou seja, não há méritos próprios em Maria, Isabel, Zacarias ou quem quer que seja - pois cada um é alvo da misericórdia divina.
Conclusão
Com toda certeza este quadro e o cântico não ficaria deslocado na cena final deste evangelho. O túmulo vazio é a expressão maior do poder e da misericórdia de Deus. A ressurreição é a prova irrefutável de que Deus inverte completamente as situações e valores humanos - derrubando os poderosos de seus tronos e exaltando os humildes. Herodes, Pilatos e os Sumo Sacerdotes e seus clãs desapareceram, mas Jesus Cristo continua salvando homens e mulheres e inserindo-os em Seu Reino Eterno.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
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Referências Bibliográficas
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