Este é o terceiro
quadro da Galeria Natalina de Lucas. O primeiro
quadro tinha a figura central de um homem chamado Zacarias, no segundo
a figura de uma mulher chamada Maria e aqui sobressai a figura de duas mulheres
- Maria e Isabel.
Desde o inicio Lucas deixa claro sua apreciação pelos personagens femininos.
Dentre os evangelistas é ele quem mais cita as mulheres e as retrata como
modelos da vida cristã.
No quadro anterior Maria havia recebido o anuncio de que
por meio dela o Espírito Santo geraria o Messias. Sua reação foi de fé e
submissão, o que por si só já se constitui em grande exemplo de como o crente
deveria reagir diante do chamado de Deus para realizar os Seus propósitos
eternos.
O anjo lhe havia dito que sua prima Isabel, que era estéril,
estava grávida e Maria imediatamente percebe a relação entre esta ação
sobrenatural e a sua própria experiência miraculosa e imediatamente parte para
encontrar-se com Isabel. Lucas passa a pintar então esta cena indescritível de
duas mulheres que experimentam do poder e da graça de Deus de forma
superabundante em suas vidas e através delas a história não somente de Israel,
mas da própria humanidade será radicalmente mudada e jamais será a mesma.
Visitação: Depois da anunciação temos o quadro da Visitação. O
evangelista vai utilizar duas expressões muito significativas no restante do
seu relato evangélico - "tendo-se levantado" que é o verbo usado
para se referir a ressurreição e "ela se põe a caminho" que esta relacionado
diretamente ao discipulado.
A Casa: Para Lucas a casa e não o templo e/ou
sinagoga é o lugar peculiar da manifestação da salvação (ocorrem
mais de cinquenta vezes no seu relato). Aqui a casa é
o lugar do reconhecimento mútuo da ação poderosa e graciosa de Deus; é o lugar
onde irrompera o primeiro dos quatro cânticos à glória de Deus, da pequena
cantata natalina, que pontilham as narrativas da natividade. Enquanto Zacarias
ainda permanece mudo, pelo instante de incredulidade, o dialogo de Maria e
Isabel é uma explosão de alegria e fé. Como não relacionar esta cena com a do final
deste evangelho, onde outras mulheres, entre elas outras duas Marias, se
regozijarão e serão as primeiras a proclamarem a ressurreição de Jesus, diante
da mudez dos discípulos incrédulos, dos quais Tomé é o modelo maior.
Isabel: Ainda que a casa seja de Zacarias (v.40), ele fica fora
da cena. É Isabel que fica "cheia do Espírito Santo" (v.41) e antes
mesmo de Maria compartilhar de sua experiência, ela proclama a grande mensagem
natalina "bendita é você entre as mulheres, e bendito é o filho
que você dará à luz!". O bebe de Isabel agita-se de forma
excepcional, não apenas pela alegria da visita de Maria, mas também pela razão
- a presença do "meu Senhor". Então Isabel irrompe a
primeira das doze Bem-Aventuranças que marcara a narrativa lucana - "Bem-aventurada
é aquela que creu que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse"
(v.45). Mais uma vez sobressai a fé de Maria e a incredulidade de Zacarias. O
casal com certeza teve tempo para repensar a reação dele quando comunicado pelo
anjo. A felicidade real e plena somente pode ser encontrada no coração crente -
a dificuldade de Zacarias é a mesma dificuldade encontrada por nós em
determinados momentos da nossa vida e o exemplo de Maria é aquele que deve nos
motivar a sermos mais crentes a cada dia.
Maria:
A reação de Maria é expressa em um cântico ("Magnificat"
1.46-55). O evangelista utiliza este e os demais cânticos como instrumento de
catequese. Deus é descrito como "meu salvador" (v.47) utilizado amplamente
por Isaías e pelos salmistas.
Aqui o tema da inversão das situações e dos valores começa a se delinear - a
mulher humilde é exaltada pelo próprio Deus - a salvação proporcionada por meio do Evangelho vai à
contra mão dos valores da sociedade humana. Deus
inverte as situações e valores: "dispersando os orgulhosos, derrubando os poderosos de
seus tronos, elevando os humildes, cumulando de bens os famintos e despedindo
os ricos de mãos vazias". Deus ao mesmo tempo Salva e Julga e
somente Ele tem poder para realizar a inversão de valores antigos, para
estabelecer os valores novos, com base em sua "misericórdia",
ou seja, não há méritos próprios em Maria, Isabel, Zacarias ou quem quer que
seja - pois cada um é alvo da misericórdia divina.
Conclusão
Com toda certeza este quadro e o cântico não ficaria
deslocado na cena final deste evangelho. O túmulo vazio é a expressão maior do
poder e da misericórdia de Deus. A ressurreição é a prova irrefutável de que
Deus inverte completamente as situações e valores humanos - derrubando os
poderosos de seus tronos e exaltando os humildes. Herodes, Pilatos e os Sumo
Sacerdotes e seus clãs desapareceram, mas Jesus Cristo continua salvando homens
e mulheres e inserindo-os em Seu Reino Eterno.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
Artigos
Relacionados
Galeria
Natalina de Lucas: Anunciação a
Zacarias http://reflexaoipg.blogspot.com/2017/10/a-galeria-natalina-de-lucas-anunciacao.html?spref=tw
Evangelho
Segundo Lucas: O Evangelho da Infância
Evangelho
Segundo Lucas: Autoria e Título
Evangelho
Segundo Lucas: Data e Propósito
Natal
em Imagens – A Anunciação
Quando
o Natal foi Comemorado em 25 de dezembro?
Contexto
Histórico dos Evangelhos
Referências
Bibliográficas
ASH,
Anthony Lee. O Evangelho Segundo Lucas. Tradução Neyd V.
Siqueira. São Paulo: Editora Vida Cristã, 1980.
BETTENCOURT,
Estevão. Para Entender os Evangelhos. Rio de Janeiro:
Agir, 1960.
CARSON
D. A., DOUGLAS, J. Moo & MORRIS, Leon. Introdução ao Novo
Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997.
CASALEGNO,
Alberto. Lucas – a caminho com Jesus missionário. São Paulo:
Edições Loyola, 2003.
CHAMPLIN,
Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado – versículo por
versículo, v. II. São Paulo: Millenium, 1987.
________________________. Enciclopédia
de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.3. São Paulo: Candeia, 1995.
LEAL,
João. Os Evangelhos e a Crítica Moderna. Porto: Livraria
Apostolado da Imprensa, 1945.
MORRIS,
Leon L. Lucas – introdução e comentário. São Paulo: Edições
Vida Nova, 2008. [Série Cultura Cristã].
TENNEY,
Merrill C. O Novo Testamento - sua
origem e análise, 2a ed. São Paulo: Vida Nova, 1972.
Nenhum comentário:
Postar um comentário