O livro do Apocalipse é
provavelmente um dos livros da Bíblia menos lido e mais mal compreendido pelos
cristãos. Muitos se distanciam deste precioso livro por causa de sua linguagem figurativa
povoada de imagens e cenas assustadoras. A própria descrição de Jesus Cristo
glorificado produz um impacto no leitor acostumado ao Jesus dos evangelhos. A
Besta que emerge do mar com suas sete cabeças; as taças da ira de Deus que são
derramadas destruindo grande parte do planeta. Todavia, quando examinado pelo prisma
da linguagem apocalíptica e à luz da revelação do Primeiro Testamento e/ou
Antigo Testamento a sua mensagem torna-se clara como água cristalina do
manancial divino. Abaixo continuo a
listar alguns dos temas centrais do livro do Apocalipse:
A Expectativa da Segunda Vinda. Injustamente se diz que o Apocalipse não é relevante para hoje, mas um estudante sério não pode deixar
de perceber uma conexão íntima entre o que é descrito no livro e a segunda vinda que certamente se constituem
num tema relevante para estes últimos dias. O livro descreve “o que
deve logo acontecer” (1.1), e
os eventos que precedem esta segunda vinda; o livro é repleto de advertências
sobre a forma inesperada com que se dará o fim, 22.20. Em toda geração Cristo pode retornar e a igreja deve estar
esperando e pronta para Seu retorno em sua própria geração. O livro foi elaborado para preparar o povo de Deus
tanto para os eventos que precedem seu retorno quanto para o Seu retorno
propriamente dito. Neste
aspecto sua mensagem fala com cada geração porque cada geração pode ser a
última. Há bênção para todos aqueles que leem e ouvem e depositam sua
confiança nas palavras desta profecia porque o tempo é próximo (1.3) e torna-se benção para aquele que
guarda as palavras desta profecia em conexão com a segunda vinda (22.7). Qualquer interpretação coerente
deve torna-lo significativa para o tempo presente de forma que o povo de Deus
seja permanentemente preparado para o retorno e os eventos que o precedem, porque
o tempo é próximo. As cartas dirigidas às sete igrejas e as promessas para
aqueles que vencerem deve ser vistas à luz especialmente da carta à igreja em
Sardes (3.1ss.) onde a igreja é
advertida para acordar, pois Cristo virá inesperadamente. A igreja é também
advertida de que a besta fará guerra contra os santos e alcançara aparente
vitória e à luz do inevitável ele pede aos santos para resistirem paciente e
fielmente (13.7, 10). A perseguição
por parte daqueles que adoram a besta exigira também uma resistência paciente
por parte dos santos que tem compromisso com a vontade de Deus e que permanece
fiel a Jesus (14.12). Em 16.15 Jesus adverte quanto ao aspecto
inesperado de Sua segunda vinda e abençoa aqueles que permanecem vigilantes e
guardam suas vestes (não expõe sua nudez). Em 18.4 Ele adverte que se deve afastar-se da Babilônia de forma que
não se compartilhem de seus pecados bem como de suas pestilências. Em 19.7 ressalta-se que a noiva deve
fazer-se pronta para o noivo. Nos capítulos 21-22 enfatiza-se a recompensa divina
para aqueles que venceram e
o castigo para
aqueles que adoraram a besta. Deste
modo, seja qual for a linha adotada para se interpretar este livro, a sua
mensagem deve ser relevante para o povo de Deus que a ouve.
A Besta e a Igreja. Com respeito à Besta a Igreja é advertida que ele
estrategicamente silenciará sua testemunha (11.7)
e que ele empreenderá guerra contra o povo de Deus e alcançara sucesso (13.7) e que eles serão encarcerados e
mortos (13.10). É também advertida sobre o falso Cristo e a
influência da besta na Terra, que será a máquina de propaganda para o falso
Cristo e exigirá que todo o mundo o adore e ela também exercerá o domínio
econômico. Os cristãos são advertidos para não adorar este falso Cristo ou sua
imagem, pois isto trará implicações para a Igreja. Um exemplo tirado das
páginas da História é a Igreja na Alemanha que antes da Segunda Guerra Mundial
quando Hitler estava em ascensão a grande maioria das lideranças religiosas o
apoiaram efusivamente saldando-o como o libertador da Alemanha, enquanto que
apenas alguns se dispuseram a se opor ao seu governo déspota. Ainda outro
exemplo, pode ser a China onde existe forte perseguição religiosa, existe uma “Igreja
do Estado” subserviente e uma “Igreja subterrânea” fiel a Cristo e ao
Evangelho. Tanto para alemães e chineses quanto para nós entender o simbolismo
do Apocalipse nos permitirá interpretar corretamente os eventos ao nosso derredor
e preparar os nossos corações para o que esta acontecendo.
Os Vencedores. Vencer ou conquistar é mais uma chave do livro. Ao fim de cada uma das
cartas as sete igrejas seus membros são encorajados a permanecerem firmes em
sua fé, pois eles receberão sua recompensa divina da mesma maneira que Cristo venceu e se
assentou com seu Pai em Seu trono (3.21).
Em 21.7 “O vencedor
herdará estas coisas” se refere à visão de João do céu. Em 12.11 os santos venceram o
diabo pelo “sangue do Cordeiro e pela palavra de Seu testemunho”.
Em 6.3 vemos um cavalo branco cujo
cavaleiro segura um arco, e ele recebe uma coroa, e ele monta como um conquistador”. Em 17.14 os dez reis fazem guerra contra o Cordeiro, “mas o
Cordeiro os vencerá porque ele é o Senhor dos senhores e Rei dos reis” -
e com Ele vencerá também
seus servos chamados e escolhidos e este texto do Apocalipse pode ser
considerado uma expansão ou comentário de Rom
8.35-39 em que somos mais do que vencedores através daquele que nos amou (Rom 8.37).
“Quem nos
separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou
fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito. Por amor de ti, somos
entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro.
Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que
nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os
anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os
poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá
separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
A Perseverança. Outra palavra chave é “perseverança” que
ocorre quatro vezes no livro (1.9,
3.10, 13.10, 14.12) e que faz referência à paciente resistência debaixo de
forte perseguição. O Apocalipse foi escrito a fim de mostrar, para os servos de
Deus, o que deve logo acontecer. Há uma bênção para todo aquele que lê, ouve e
crê em sua mensagem. Portanto, abrange todos os crentes, desde a geração de
João até a geração que participará da volta de Cristo. A mensagem encoraja todos
os que a ouve, pois ao vencedor lhe será permitido comer da árvore da vida no
reino de Deus. Assim, o livro é dirigido para os mártires, para dizer que a morte deles se transformará
na mais extraordinária vitória, pois são eles que “venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa
da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a
própria vida”, 12.11.
O Convite à Salvação por Meio do
Cordeiro. O Apocalipse declara Deus
como Criador e
Jesus como o Redentor pelo
qual unicamente devemos obter a salvação. A imagem do Cordeiro que
foi morto é a mesma descrição de Jesus que morreu na cruz pelos nossos pecados
e que agora está exaltado à mão direita de Deus. O uso do termo “Cordeiro”
no Apocalipse é uma lembrança constante de que Jesus morreu pelos nossos
pecados. É também uma lembrança contínua de que, apesar de toda a aflição
vigente no mundo, a graça de Deus está disponível para todos aqueles que arrependidos
de seus pecados vem para Jesus. Ap 5.9 indica que os efeitos salvíficos
do sacrifício de Jesus Cristo estender-se-ão a toda terra e será manifestada a
todas as pessoas indistintamente. Também 7.9 indica que pessoas de todos
os grupos étnicos serão representadas no céu, e 14.6 temos um anjo
proclamando o evangelho a todos os povos da Terra. Ainda em 21.6 e 22.17
Deus, na ação do Espírito Santo e na instrumentalidade da Igreja, convida a
todos aqueles que estão com sede, que venham se saciarem livre e gratuitamente da
água da vida, que é o próprio Jesus.
A Tensão entre o “Já” e o “Ainda Não”. Os cristãos que vivem entre o primeiro e segundo advento
de nosso Senhor vivem em um permanente estado
de
tensão entre as realidades
espirituais que são percebidas pela fé e a manifestação
eminente do juízo divino que
sobrevirá a Terra. Apocalipse mostra a realidade de Deus em seu trono
governando o universo (4). Ele
declara que Jesus é a testemunha fiel, o primogênito dos mortos e o soberano
sobre os reis da Terra (1.5). Que a
ressurreição de Jesus dentre os mortos é também a nossa garantia de que
ressuscitaremos; Jesus é o Soberano sobre os reis da Terra embora no momento
presente, como naqueles dias dos primeiros leitores, não pareça ser. Quando
Jesus retornar, juntamente com todos os santos ressurretos, os Seus inimigos
serão derrotados, e deste modo nossa fé na mensagem registrada no Apocalipse,
bem como no restante da bíblia serão vindicados. Esta tensão é
também indicada em 1 João 3.2, nós
somos agora povo de Deus, mas não sabemos o que nossos corpos futuros serão, mas
quando Cristo retornar “seremos
semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”. Paulo fala
também sobre o cristão que espera a redenção de seus corpos, Rm 8.23-25, e diz o que acontecerá
quando da volta de Cristo 1 Cor 15.12ss.,
1 Tes 4.13-18. É fato que Cristo já ressuscitou dos mortos, mas os que
morrem em Cristo não ressuscitarão até que Ele venha novamente. Assim, vivemos
pela fé no Filho de Deus, que morreu e intercede por nós. Deste modo, vivemos
por fé e não apenas pelo que os nossos olhos veem (1 João 5.4-5, 2 Cor 5.1-7).
A Conclusão da História. Da mesma maneira que Gênesis registra
o início da história, Apocalipse registra
como ela será concluída. De certo modo, o Apocalipse não acrescenta nada novo,
mas ele enfatiza e repete de um modo vívido, através de imagens espetaculares,
o que já está revelado nas Escrituras. É última
mensagem de Deus para a Igreja dizendo que ela será
perseguida, mas que Ele,
Deus, está no controle e que a Sua Igreja irá ao fim ser vitoriosa acima
de seus inimigos. No fim do primeiro
século, diante daquela terrível perseguição imposta à Igreja esta foi a
maneira que Deus se utilizou para preparar e confortar a Igreja em meio a
tantas e duras dificuldades. O livro
revela que a História humana terá um fim feliz para todos aqueles que
perseverarem e vencerem.
Advertência Para os Incrédulos. Para todos aqueles que não crerem no Senhor, que não
experimentarem do seu amor e não forem lavados de seus pecados (1.5), a
mensagem para eles é a mesma do Salmo 2.10-12 – “Agora,
pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra. Servi ao
SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor. Beijai o Filho para que se não
irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a
ira. Bem-aventurados todos os que nele se refugiam”. E também a
advertência do anjo em 14.6,7. “Vi
outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos
que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo,
dizendo, em grande voz. Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do
seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das
águas”. Ainda mais, o
Apocalipse descreve com terríveis cores a imagem terrível do Lago de Fogo destinado
a todos aqueles que não
estão escritos no Livro da Vida do Cordeiro.
Ênfase nos Contrastes. Uma das características
marcantes do Apocalipse são sem dúvida os seus muitos
contrastes, como pode ser constatado abaixo:
ü A figura da noiva e a da prostituta.
ü O destino dos que adoram a besta e que serão atormentadas
para sempre, e os que adoram a Deus e que reinarão com Ele para sempre.
ü A Besta e o Cordeiro.
ü Os falsos milagres do falso profeta e os milagres
autênticos das duas testemunhas.
ü A cidade gloriosa da Nova Jerusalém e a cidade terrestre
da grande Babilônia.
ü Jesus Cristo que é, e que era, e que será para sempre,
e a Besta que uma vez foi, agora não é, e será lançada para dentro do Abismo e
vai ser destruída.
ü A segunda morte contrastada com a coroa da vida.
ü Existem aqueles com a marca da Besta em sua fronte e
aqueles com os nomes do Cordeiro e do Pai em suas frontes.
ü Compare a Babilônia que nunca ouvirá a música da harpa e
o redimido que terá harpas no céu. A Babilônia nunca terá a luz de uma luminária
novamente, mas na Nova Jerusalém o Cordeiro é seu Luzeiro.
ü Na Babilônia nunca se ouvira a voz da noiva e do noivo,
enquanto na Nova Jerusalém a noiva para sempre entoara um cântico de louvor ao
Cordeiro.
ü Existe o covarde que vai ser lançado no lago de fogo e
aqueles que vencem e que beberão a água da vida.
ü Os servos de Deus que O servem dia e noite e o Diabo
que os acusa dia e noite.
ü O Cordeiro olhando como se tinha sido morto e a Besta
ferida mortalmente.
ü Existem aqueles que não têm descanso nem de dia ou de
noite com aqueles que descansam de seus labores.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia Protestante
http.//historiologiaprotestante.blogspot.com.br//
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Comentário (1.1-3)
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