Ur é uma das cidades antigas mencionada na Bíblia. Ela ocupa um lugar
significativo na narrativa do Primeiro Testamento, pois somos informados de que
Abraão viveu ali (alguns entende até que ele nasceu ali). Ela é mencionada
quatro vezes na literatura veterotestamentária sendo a última uma réplica (Gênesis
11.28, 11.31 e 15.7; citado por Neemias 9.7).
A cidade de Ur foi originalmente fundada pelos sumérios, e tornou-se um
importante centro urbano na Mesopotâmia (“entre rios” pois ficava entre dois
importantes rios da época o Eufrates e o Tigre). No transcorrer do 1º e mais
acentuadamente 2º milênio a.C., os caldeus, um povo semita que migrou para a
região sul da Mesopotâmia, dominaram a região. Desta forma, ao ser denominada
“Ur dos Caldeus,” o texto bíblico está fazendo referência a essa fase mais
tardia da cidade, quando já estava sob influência caldeia. Atualmente é a atual
região do Iraque. A região da Caldéia contém riquezas além da imaginação, e Ur
era uma das cidades mais importantes. Alguns historiadores concluem que esta
região excedia a terra do Egito e suas pirâmides. É nela que o patriarca Abraão
é chamado por Deus (Yahweh), estabelecendo uma Aliança com ele, através da qual
formará a nação de Israel e através dela moldará a História.
Em Gênesis 11.18 a cidade de Ur é citada pela primeira vez: "Enquanto
seu pai Terá ainda estava vivo, Harã [irmão de Abraão] morreu em Ur dos
Caldeus, na terra de seu nascimento". A narrativa deixa entender de
que esta cidade era o lugar onde a família residia inicialmente.
Esta cidade era próspera, conhecida por seus avanços na arquitetura,
literatura e religião. Era também um lugar profundamente enraizado no culto
pagão, ali foi encontrada uma estrutura impressionante chamada Zigurate de Ur,
que era dedicada ao deus patrono de Ur, Nanna (também conhecido como Sin, o
deus da lua). Esses detalhes realçam a necessidade de Abraão de sair do meio
dela, conforme a ordem de Deus. É importante destacar que é Yahweh quem vem ao
encontro de Abraão e não o contrário, de maneira que se Deus não o chamasse ele
continuaria absorvido pela idolatria estabelecida.
Como todas as civilizações Ur também perdeu sua pujança e caiu em um
longo período de ostracismo. Mas sempre permaneceu como referência religiosa
pagã. Somente no reinado do rei Nabucodonosor II, a cidade foi revitalizada, e
o último rei da Babilônia, Nabonido, também se interessou pela cidade quando
aumentou o tamanho do zigurate. Ciro, o Grande, da Assíria vai mantê-la como
centro religioso, pois em sua estratégia de conquista de outros povos ele
percebeu que a melhor maneira de cativá-los era mostrando respeito aos seus
deuses (o que ele vai fazer com os judeus, autorizando eles a retornarem para
Jerusalém e reconstruírem o templo). A revitalização de Ur manteve-se pelos durante
o reinado Persa de Artaxerxes II.
Avançando na leitura da narrativa bíblica em (Gênesis 11.31) temos o
início da longa jornada que Abraão irá percorrer, na realização da vontade de
Deus. Incialmente ele está acompanhado do pai e seu sobrinho Ló, filho do irmão
falecido, bem como de Sarai sua esposa. A sua partida de Ur demarca uma ruptura
com seu passado e o início de um novo capítulo onde Deus vai lhe revelando ao
longo dos anos.
O propósito inicial era viajarem até Canaã, mas por razão que o texto
bíblico não esclarece, eles pararam em Harã, permanecendo ali até que seu pai
Terá falecesse, o que por implicação podemos inferir que ali ficaram devido
alguma enfermidade do pai. Pois logo após o falecimento do pai, Deus ratifica o
chamado de Abraão que vai prosseguir o itinerário original até se estabelecer
na geografia de Canaã.
Muito interessante que os escritores bíblicos posteriores irão tratar
Harã como ponto de partida de Abraão em direção à terra de Canaã. Estevão em
sua argumentação e exposição no confronto com os religiosos judeus na sinagoga
faz está citação: “Então ele [Abraão] saiu da terra dos caldeus [Ur] e habitou
[no sentido de residir] em Harã. E dali, morto seu
pai, mudou-o para esta terra em que agora habitais [Canaã/Judeia]" (Atos
7.4). A coerência textual se mantém, visto que Harã tornou-se lugar da "família"
e a "casa de seu pai", mas ele prosseguiu dali em direção à terra que
Deus haveria de mostrar-lhe.
Portanto, quando ele envia seu servo Eliezer (Gênesis 24.4 e ss) a buscar
uma esposa para Isaque, que fosse de sua parentela (descendência de seu pai),
não poderia tê-lo enviado se não para Harã (norte da Mesopotâmia), pois não
havia mais parentes em Ur (ao sul). Da mesma forma, quando Josué faz referência
geográfica de Abraão como tendo vindo de "além do Eufrates" (Josué
24.2), refere-se a Harã e não a UR, pois é a partir da primeira que o patriarca
prosseguiu para Canaã. Portanto, ainda que os críticos de plantão (mormente
racionalistas pós sec. XVIII), não encontram argumentos textuais
contraditórios, a não ser distorcendo o sentido simples da narrativa bíblica.
Utilização livre
desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências
da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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