sexta-feira, 19 de agosto de 2016

PROFETA OSEIAS: Contexto Histórico

            Os profetas bíblicos não anunciaram suas mensagens ao vento. Todos os profetas estão inseridos no tempo/espaço da história de seu povo, de maneira que as condições políticas-sociais-econômicas e religiosas estão impregnadas nas mensagens por eles proclamadas tanto em Israel (Reino do Norte) quanto em Judá (Reino do Sul). Assim, se faz necessário resgatarmos o quanto for possível qual o contexto histórico em que cada profeta proferiu sua mensagem, pois ele se dirige a um povo especifico em um momento especifico. Inteirados desse momento a mensagem do profeta torna-se mais tangível e seus princípios podem então serem aplicados nos dias atuais.
            O livro de Oséias abre com uma indicação político-hitórico “nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, reis de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel”. Deste modo, podemos delimitar o período em que o profeta exerceu seu ministério.
            Foram nos dias de Jeroboão II de Israel e de Uzias de Judá, que ambos os reinos alcançaram seu apogeu político-econômico. Desde Salomão os domínios territoriais haviam sido tão expandidos como nesse período áureo. Os nortistas superaram a crise política que transtornou os dias pós queda da casa de Acabe e a fundação da dinastia de Jeú. Neste tempo a Síria de Hazael e Benadá empreenderam uma sangrenta guerra contra os dois reinos de Judá e Israel, mas não conseguiram seus intentos e acabaram perdendo seu território para o Reino de Israel.
            Neste momento surge a figura carismática de Jeroboão (II Reis 1.32ss; 14.26ss). Aproveitando suas vitórias iniciais, Jeroboão empreende uma campanha agressiva assumindo o controle dos territórios ao leste do Jordão, de Hamate, no vale do Orontes, estendendo-se até o Mar Morto, perfazendo os limites das conquistas de Davi. Ousadamente conquista a cidade de Damasco (II Reis 14.25-28).
            Contribuiu muito para o sucesso dos dois reinos o afastamento da região dos assírios, por um longo período de cem anos, logo após a batalha de Carcar em 854 a.C., contra um grupo de pequenas nações do oeste.
            Ninguém aproveitou mais esse momento do que Jeroboão. Com as novas conquistas territórios ele assume o controle das sempre cobiçadas estradas comerciais entre a Assíria e o Egito, tornando a nação de Israel extremamente prospera e poderosa.
            Aparentemente tudo está muito bem em Israel, todavia, na mesma proporção em que os israelitas prosperam economicamente, se afastavam de Deus. O profeta Amós, contemporâneo de Oséias, nomeia explicitamente o caos espiritual dos israelitas neste tempo: multiplica-se a corrupção, a injustiça, a opressão, a imoralidade, a cobiça, o roubo, o luxo, a vaidade, a violência, a falsidade, a infidelidade, a desonra e a idolatria [qualquer semelhança com as condições atuais do Brasil não é mera coincidência]. Diante desse quadro de decadência religiosa/moral, paulatinamente inicia-se o declínio político, ainda nos anos finais de Jeroboão, mas que rapidamente se deteriora nos dias de Oséias, sucessor do oficio profético de Amós. O governo violento de Zacarias inaugura um período anárquico-político, que levara o Reino do Norte não apenas a uma derrota, mas à definitiva destruição pela invasão dos exércitos da Assíria.
            Quatro dos seis reis de Israel, após a morte de Jeroboão, foram assassinados por seus sucessores. As intrigas políticas entre os partidos que tentavam controlar o poder real envolviam e perturbavam o país inteiro. Um partido desejava favorecer uma aliança política com o Egito, o outro partido defendia uma aliança com a própria Assíria (9.6; 10.6). Entretanto, tanto Amós antes, como Oséias depois, anteviam [interpretavam, discerniam], uma característica profética, e denunciaram explicitamente a insensatez e a tolice destas intrigas, que por fim acabaram por arrastar o Reino de Israel à total ruina.
            Esse final trágico dos israelitas está totalmente vinculado à decadência religiosa e seu afastamento dos princípios da Aliança com Yavé. Desde os dias anteriores  de Acabe e Jezabel eles já sabiam dos perigos de se fazer alianças com outras nações e consequentemente seus deuses. Mas nos dias de Oséias a situação era ainda mais deplorável, pois suas lideranças políticas, bem como o povo de forma geral, haviam perdido totalmente o interesse pela religião Javista e pouco se interessavam pelas pregações dos profetas que lhe eram enviados. O apelo dos profetas Amós e Oséias para que os israelitas permanecessem neutros diante das intrigas internacionais dos dois impérios Assírio e Egito, tinham duas vertentes:
Primeiro, aliando-se tanto a um quanto ao outro, implicava em associação e consequente submissão aos deuses destes povos;
Em segundo plano, os profetas discerniam com muita clareza as reais ambições destes impérios, domínio simples e puro de territórios estratégicos, mediante suas insaciáveis de poder expansionista.
            A proposta dos profetas era que Israel permanecesse neutro neste tabuleiro belicoso das duas potências. Se eles se arrependem-se e voltassem para os termos da Aliança com Deus, haveriam de serem salvos da destruição eminente. Mas os ouvidos mocos dos líderes, preocupados apenas com seus próprios interesses, bem como de uma população iludida por uma falsa segurança econômica, ignoraram as mensagens proféticas e preferiram, é sempre uma questão de escolha, confiar nas alianças políticas (5.13; 7.11; 8.9). O profeta Oséias rouco de tanto proclamar sua mensagem lança um ultimato final: se Efraim (Israel) persistisse nessa política demente, colocando-se na dependência do auxílio estrangeiro, rejeitando confiar em Deus, eles seriam devorados (7.9; 8.8). Tudo em vão, pois, os registros históricos deixam claro que a nação persistiu em seu caminho autodestrutivo.
            Fica muito evidente que a crise israelita tem fundamento religioso. A rivalidade política entre os dois partidos, pró Egito ou Assíria, alimentado pelas ambições e o egoísmo de seus governantes, que não tinham pudor de colocarem seus interesses pessoais em ambições políticas acima de qualquer outra coisa, somado à total indiferença para com os valores e princípios estabelecidos na Aliança de Iavé, demarcam o fim trágico e melancólico do Reino de Israel.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
BRIGTH, J. História de Israel. São Paulo: Ed. Paulus, 1980.
FALCÃO, Silas Alves. Panorama do Velho Testamento – os livros proféticos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1965.
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FRANCISCO, Clyde T. Introdução ao Velho Testamento. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP), 1969.
LASOR, W. Sanford, DAVI A. Hubbard e FREDERIC W. Bush. Panorama del Antiguo Testamento - Mensaje, forma y transfondo del Antiguo Testamento. Buenos Aires: Ed. Nueva Creacion, 1995.
REED, Oscar F. O livro de Oséias. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. [Comentário Bíblico Beacon, v. 5].
ROBINSON, Jorge L. Los doce profetas menores. Texas: Casa Bautista de Publicciones, 1982.
SICRE, José Luís. Profetismo em Israel – o profeta, os profetas, a mensagem. Tradução: João Luís Baraúna. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.

           

            

4 comentários:

  1. Achei interessante a leitura, pois para mim foi bastante explicativa.

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  2. Muito atual a realidade é Oséias
    Tudo corrompido...governantes apoiados por sacerdotes e as forças de segurança se prostituindo com as deusas ...prosperidade conforto e prazeres fora do contexto da Aliança do Eterno e amoroso Senhor.

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  3. Muito bom o conteudo do texto e contexto da ocasião dos fatos do livro do profeta Oseias.

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  4. excelente! obrigada por esse conteúdo

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