sábado, 9 de janeiro de 2016

ATOS: Cidade de Beréia

οὗτοι δὲ ἦσαν εὐγενέστεροι τῶν ἐν Θεσσαλονίκῃ, οἵτινες ἐδέξαντο τὸν λόγον μετὰ πάσης προθυμίας, τὸ καθ ἡμέραν ἀνακρίνοντες τὰς γραφὰς εἰ ἔχοι ταῦτα οὕτως Atos 17: 11-12
A cidade de Beréia (atualmente Verria pelos gregos ou Kara Verria [Karaferia] pelos turcos)[1] está localizada ao sopé do lado oriental do verdejante monte Bermios. Beréia fica a cerca de 65 quilômetros a sudoeste de Tessalônica e a uns 40 quilômetros das margens do mar Egeu. O monte Olimpo, residência mítica dos principais deuses do antigo panteão helênico, fica ao sul.
Ainda que sua origem seja incerta, calcula-se que seja próximo do 5º sec. a.C. funcionando como um centro de mercado agrícola e seus fundadores eram, sem dúvida, trácios e frígios expulsos em uma das transições arcaicas.
No século 4º sec. a.C. Beréia juntamente com outras cidades da Macedónia foram organizados em um reino nacional. A primeira menção de Beréia é encontrado em uma inscrição grega daquele período.[2] A forma monárquica de governo macedônio estava em contraste com a regra democrática entre os gregos do sul. Filipe II chegou ao poder em 356 a.C. e uniu as cidades da Macedônia em uma força poderosa no mundo mediterrâneo tendo a cidade de Pela como sua capital. Ele transforma povos agrícolas e pastorais em um exercíto  armado e poderoso. Em 338 a.C., os macedônios derrotaram os gregos, e por 337 a.C. Filipe II governou toda a Grécia. Desde então foram construídos prédios e muralhas imponentes, além de santuários de Zeus, Ártemis, Apolo, Atena, e outros deuses gregos.
Após o assassinato de Filipe II em 336 a.C. é seu filho Alexandre que assume o trono com apenas vinte anos. Beréia desempenhou um papel importante nas guerras de Alexandre contra o império persa. Em 323 a.C., Alexandre foi acometido pela malária e morreu na Babilônia. Sem sua carismática liderança o império grego acaba sendo dividido entre seus principais generais. O geral Antígono I governou a Macedónia juntamente com Beréia, que neste momento histórico desempenha um papel importante tanto nas suas cercanias como no restante do norte da Grécia. A cidade alcançou destaque especial no reinado da última dinastia macedônia, os antigônidas (306-168 a.C.), que por fim foram conquistados por Roma.
Quando rei Filipe V em 197 a.C. foi derrotado pelos romanos o equilíbrio de forças desmoronou e Roma tornou-se a inquestionável força no Mediterrâneo oriental. Em 168 a.C., em Pidna, alguns quilômetros ao sul de Beréia, um general romano alcançou uma vitória decisiva sobre o último antigo governante macedônio, Perseu. Depois dessa batalha, Beréia foi uma das primeiras cidades macedônias a capitular perante Roma. Os romanos dividiram a Macedónia em quatro distritos e fez de Beréia a capital de um deles.
No primeiro século a.C., a Macedônia transforma-se em campo de batalha no conflito entre romanos Pompeu e Júlio César. De fato, Pompeu instalou sua sede de governo e seu exército nas proximidades de Beréia.
Em 146 a.C. Roma fez da Macedónia uma província tendo a cidade de Tessalônica como a capital. Os romanos imediatamente começaram a construir uma rodovia importante desde Apolônia na costa do Adriático para Filipos e Neapolis. A Via Egnátia tornou-se o catalizador de todo o comércio e tráfego greco-romano, mas a transformação trazida pela nova estrada não teve muito efeito sobre Beréia, que acabou ficando à sombra de Tessalônica, a nova capital comercial, por causa do porto e a cidade de Pela,[3] a velha capital política. Apesar de não gozar do mesmo prestígio político e econômico de suas vizinhas, nos tempos apostólico tornou-se uma das cidades mais populosas da Macedônia. Os estudiosos acreditam que a população da cidade pode ter atingido 60.000 para 70.000 em seu apogeu (cerca de duas vezes a sua população atual), mas isso são conjecturas.
Durante o período denominado de Paz Romana (Pax Romana), Beréia alcança grande desenvolvimento urbano com ruas pavimentadas com pedras, ladeadas de colunas, banhos públicos, teatros, bibliotecas e arenas para luta de gladiadores. Havia água potável encanada e a cidade tinha um sistema de drenagem subterrâneo. Beréia torna-se famosa como centro comercial, visitada por comerciantes, artistas e atletas, e muitos espectadores vinham para assistir a eventos de atletismo e outros. Para os estrangeiros, havia locais de adoração onde podiam praticar os rituais de sua própria religião. De fato, para essa cidade convergiam e se misturavam credos de todo o mundo greco-romano.
Desta forma, a cidade de Beréia tornou-se um forte centro de adoração pagã? O fato de ser ela a sede do Koinon da Macedônia, uma assembleia de representantes de todas as cidades macedônias. Tais representantes se reuniam regularmente em Beréia para discutir assuntos urbanos e provinciais e resolvê-los sob supervisão romana. Uma das principais funções do Koinon era supervisionar as celebrações litúrgicas imperiais.
Os imperadores romanos cedo começaram a serem venerados como deuses. Em suas moedas, a figura do imperador era representada como deus, com a coroa radiada na cabeça. A eles eram dirigidas aclamações com as mesmas invocações que eram dirigidas a um deus, com hinos e canções. Construíam-se altares e templos e ofereciam-lhe sacrifícios. Até imperadores compareciam às festividades de culto imperiais, que incluíam competições atléticas, artísticas e literárias. Nada disso era estranho aos bereianos, que já estavam acostumados Isso não deve ter parecido estranho para os bereianos, acostumados a esse tipo de manifestação em relação a Alexandre, o Grande, que era venerado como deus. Desta forma, acostumados a divinizar um rei ainda vivo, os helenos [gregos] do Império oriental prazerosamente prestavam honras litúrgicas também aos imperadores romanos. Nos dias apostólicos, Beréia já estava sob ocupação romana por dois séculos.
Assim era a cidade para onde Paulo e Silas viajaram quando fugiram de Tessalônica. Foi utilizada pelo apóstolo Paulo como lugar de refúgio, durante sua segunda viagem missionária (At 17:10-14), quando sofrendo perseguições por parte dos judeus da cidade vizinha de Tessalônica, encontrou nos bereianos um acolhimento restaurador.
Beréia possuía uma comunidade judaica e uma sinagoga em que os dois missionários pregaram. A prontidão dos bereianos em dar ouvidos à mensagem deles, e sua diligência em examinar as Escrituras, em busca da confirmação das coisas aprendidas, granjearam-lhes o elogio encontrado em Atos 17:11. Resultaram vários conversos entre tais pessoas de “mentalidade mais nobre”, tanto judeus como gregos, sendo um deles Sópater ou Sosípatro, que veio ser parte da equipe de Paulo (Atos 20.1-4; Rom 16. 21), quando do levantamento das ofertas para os cristãos necessitados da Judéia.
A cidade está situada em um cume com as bacias vizinhas bem regada por dois grades rios o Eliakomon e Axios. As planícies aluviais ao norte de Monte Vermio eram (e ainda são) rica em pomares de maçã, pêssego e pera. Uma grande represa elétrica no Rio Eliakomon hoje oferece trabalho ao setor industrial, é uma área ainda considerada razoavelmente prospera. Agora chamada Verria, ou Veria, [4] é uma das cidades mais agradáveis ​​de Rumélia, com 20.000 habitantes.
Há diversas tradições relacionadas à igreja estabelecida em Beréia. Uma forte tradição, aproveitando uma citação nominal (Atos 20.4) é de que Sopater, filho de Pirro, foi o primeiro convertido e líder dessa comunidade cristã bereiana. Uma tradição diz que o primeiro bispo da igreja foi Onésimo (escravo fugitivo evangelizado por Paulo na prisão), mas, outra tradição propõe, com base no Calendário Ortodoxo dos Santos, de que Karpus (um dos 70 discípulos enviados por Jesus) foi o primeiro Bispo da igreja bereiana, mas nenhuma dessas tradições tem consistência histórica. No período posterior da Idade Média houve grande prosperidade na região e Beréia foi considerada uma das mais importantes, com muitas construções de igrejas, incluindo afrescos tão antiga quanto o século 12 d.C. Deste período prospero foram encontradas ao menos 37 igrejas, mas estudiosos acreditam que podem ter existido mais de 100 igrejas construídas na cidade.
Atualmente na cidade há um monumento em memória do apóstolo Paulo e seu trabalho missionário. O monumento inclui três passos que foram removidos de uma escavação de resgate em uma propriedade escolar nas proximidades. O visor é feito de mosaico colorido e exibe três painéis: a visão do homem da Macedônia, o apóstolo Paulo, e o endereço dos bereianos.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Notas
[1] Extensas escavações têm sido tentadas na área. Os principais artefatos encontrados estão no museu local, no entanto, curiosamente, são monumentos funerários principalmente. Algumas seções da muralha da cidade antiga são exibidas nas bordas da cidade.
[2]O historiador, geógrafo e filósofo grego Estrabão a menciona em sua monumental obra “Geografia” (em grego, Γεωγραφικά, transl. Gheograficá; em latim Geographia), que foi escrita originalmente em 17 volumes (livros), e pode ser vista como uma enciclopédia do conhecimento geográfico do início da Era Cristã. Com exceção do Livro VII, a obra chegou completa até nossos dias.
[3] É cidade onde nasceu Alexandre, o Grande.
[4] A cidade desempenhou um papel importante nas lutas entre os gregos e os búlgaros e sérvios, e foi finalmente conquista pelos turcos em 1373-74.

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