segunda-feira, 14 de julho de 2025

Reflexão - Uma Pessoa que se Considerava Boa


O dia amanheceu ensolarado, o que o despertou cheio de ânimo. Verificou seu guarda-roupa e escolheu o que considerou ser a roupa mais adequada para aquele dia, que prometia ser de calor intenso.

Enquanto tomava seu café matinal, examinou a agenda de compromissos para o dia, que incluía algumas atividades importantes. Mentalmente, enquanto saboreava o desjejum, foi alinhando diversos pontos que deveriam ser abordados em seus encontros de negócios.

Apesar de ter diversas pessoas à sua disposição, sabia muito bem que algumas coisas deveriam sempre ser tratadas por ele. Lembrava-se constantemente de um ditado dito por seu velho pai: “Os olhos do dono engordam o rebanho.”
Ele mesmo conhecia histórias tristes de amigos e conhecidos que deixaram seus bens nas mãos de outrem e acabaram enganados e roubados. Trabalhou muito para conquistar tudo o que tinha e não pretendia deixar tudo se perder facilmente.
Gostava de acordar cedo e aproveitar o tempo da refeição matinal para se inteirar dos últimos acontecimentos do dia, ouvindo seus diversos serviçais, que os coletavam enquanto realizavam suas atividades cotidianas.

Foi então que tomou conhecimento de um rabino que estava em evidência nos últimos dias e que passaria pelas proximidades de onde morava. Diziam que ele atraía multidões e que suas palavras eram cheias de sabedoria.
Apesar de ainda jovem, interessava-se profundamente por assuntos religiosos. Crescera, como todo judeu, aprendendo sobre a Torá, e sabia de memória muitos trechos dela, incluindo os chamados Dez Mandamentos.
Como um bom cidadão judeu, frequentava com regularidade as reuniões na sinagoga mais próxima. Tinha afeição e admiração pelos diversos rabinos que ali passavam e explicavam os textos sagrados. Ouvia-os com avidez e com o desejo sincero de ajustar sua vida às normativas divinas. Considerava-se uma pessoa boa e cumpridora de suas obrigações religiosas, familiares e sociais.
Então, chamando um de seus serviçais, pediu que descobrisse qual caminho aquele famoso rabino utilizaria e em que momento do dia ele passaria pelas proximidades. Uma curiosidade crescente começou a ocupar sua mente.

Precisava conversar com aquele homem sábio. Quem sabe poderiam trocar experiências, afinal, ele não era um neófito no que dizia respeito à Torá e ao judaísmo.
Após algumas horas, o serviçal retornou informando que, segundo suas pesquisas, o famoso rabino estaria se aproximando entre a 9ª hora (15 horas) e a 11ª hora (17 horas).
Excelente, pensou ele. Haveria tempo para se organizar, resolver algumas questões e sair para encontrar-se com essa pessoa. Ordenou ao serviçal que ficasse atento e o avisasse quando o eminente rabino estivesse próximo.

Já era a 10ª hora do dia quando o serviçal entrou apressado e ofegante, avisando que o rabino estava se aproximando da região.
Rapidamente, ele cingiu-se de sua vestimenta pública, colocou dois de seus anéis preferidos, além de dois cordões de ouro — usados apenas em ocasiões muito especiais, especialmente em recepções de autoridades. Afinal, queria causar uma boa impressão. Então saiu, acompanhado pelo serviçal.

A uma distância razoável, percebeu a movimentação de um grupo de pessoas. Pelo ritmo, deduziu que acompanhavam a caminhada de alguém importante. O serviçal então lhe disse:
— É o rabino, acompanhado de seus discípulos e de algumas pessoas da vila que desejam vê-lo e ouvi-lo.

Aguardou mais alguns instantes e, em seguida, começou a caminhar em sua direção.

Enquanto se aproximava, não percebeu nada de especial na roupa ou na aparência daquele homem que o identificasse como um famoso rabino. Pareceu-lhe alguém comum, até mesmo extremamente humilde. Seria, de fato, esse o rabino tão comentado? Teria ele algo a aprender com essa pessoa?

Posicionou-se próximo ao grupo em movimento e, com educação e reverência, saudou o mestre. Em seguida, proferiu uma pergunta mais retórica que inquisidora:
— Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

O som da pergunta teve o efeito imediato de interromper a caminhada. Um breve silêncio se formou.
Todos os olhares agora se voltaram ao Mestre, centro das atenções.
Como reagiria? Qual seria sua resposta?

Então Jesus olhou para aquele jovem e lhe respondeu com uma pergunta:
— Por que me chamas bom?

Em seguida, completou:
— Ninguém é bom, senão um: Deus.

O jovem inquiridor certamente não compreendeu completamente aquela resposta, mas manteve-se em silêncio.
Ainda olhando nos olhos do rapaz, Jesus perguntou:
— Você conhece os mandamentos?

Referia-se às duas Tábuas da Lei. E começou a citá-los:
— Não matarás; Não adulterarás; Não furtarás; Não darás falso testemunho; Honra teu pai e tua mãe; Amarás o teu próximo como a ti mesmo.

A resposta do jovem veio rápida, demonstrando um certo alívio:
— Sim, Mestre. Não apenas os conheço, como tenho procurado praticá-los desde minha adolescência.

Em outras palavras, ele estava dizendo: desde que assumi as rédeas da minha vida, tenho buscado seguir cada um desses mandamentos.

O olhar de Jesus se reveste de profunda ternura por aquele rapaz. Ele percebe a genuinidade de seus esforços em observar os preceitos da Lei. Há nele uma certa maturidade, apesar da juventude. Tem se esforçado por viver de modo honesto e justo.

Mas ainda lhe falta uma coisa — a mais importante de todas.
A próxima pergunta de Jesus trará à tona a lacuna silenciosa que atravessa todo o projeto de vida daquele jovem entusiasta.

Jesus sabe, desde antes, o que Sua pergunta vai provocar: desconforto, reflexão, talvez tristeza. Mas Ele precisa fazê-la.
Precisa conduzi-lo a um ponto de pausa, onde — enfim — possa sondar com mais profundidade o próprio coração e a alma.

Então Jesus declara: “Falta-lhe uma coisa”, e respirando profundamente continua “vai vende tudo o que você tem (herdado ou acumulado ao longo dos anos) e dê todo o dinheiro arrecadado aos pobres, e você terá um tesouro no céu. E respirando profundamente novamente completa: “Então, venha e siga-me”.

Um silêncio absoluto se fez sentir.
Os olhares agora se voltam para o rapaz, que está completamente atônito diante das palavras pronunciadas por Jesus.

Ele está pronto para muitas coisas.
Talvez ampliar os dias de jejum; aumentar suas contribuições ao Templo; financiar a produção de cópias da Torá — que eram caríssimas; ou até mesmo destinar uma quantia generosa para ajudar os mais carentes.

Mas o que Jesus pede vai além.
Não se trata de fazer mais, e sim de abrir mão — de tudo.
De deixar de controlar o que possui para se tornar plenamente disponível ao Reino.

Mas quando Jesus disse: “Vende tudo o que tens e dá aos pobres”, todo o seu castelo religioso desmoronou.
A estrutura que havia construído ao redor da própria vida foi demolida por aquelas palavras... “vende tudo e dá...”.

O rapaz não estava preparado para isso.
Ninguém jamais lhe dissera tal coisa! Soava como um absurdo. Era radical demais, acima do que ele considerava razoável.
Todo seu entusiasmo inicial, toda a disposição que o movera até Jesus... simplesmente desapareceram.

Foi como se, num ringue, recebesse um gancho de direita certeiro no queixo.
Implacável, foi ao chão — completamente sem forças para reagir.
Não tinha resposta, não tinha argumento.

Só lhe restou uma alternativa: “afastou-se triste...”.

O evangelista Marcos explica o motivo: “pois possuía muitos bens”.

Quando Jesus citou os mandamentos ao jovem, propositalmente deixou de mencionar o primeiro: “Não terás outros deuses diante de mim”.
Jesus sabia que o deus daquele rapaz era a sua riqueza.

E a pergunta que se torna necessária diante dessa narrativa é:
QUAL É O MEU DEUS?

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante


 

Observação

Está narrativa é tão relevante que três dos quatro evangelistas, contendo pequenas variações, a inserem em suas narrativas evangélicas: Marcos 10:18, Lucas 18:19 e Mateus 19:17.

 

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sábado, 5 de julho de 2025

Comentário Devocional: Salmos 119.9-16 Letra Bete (בַּ)


Estamos degustando o Salmo 119. Ele contém 22 divisões que correspondem às 22 letras do alfabeto hebraico — portanto, trata-se de um salmo em forma poética acróstica.

Já vimos a primeira estrofe deste salmo (versículos 1–8), que se inicia com a primeira letra do alfabeto hebraico: Álef (א).

Neste texto, veremos a segunda estrofe (versículos 9–16), que começa com a letra Bete (בַּ). Essa segunda letra do alfabeto significa “casa” em hebraico. Assim, utilizando a linguagem poética, podemos fazer do nosso coração um lar para a Palavra de Deus.

Essa estrofe se inicia com uma pergunta retórica: Como pode o jovem — ou seja, a próxima geração — manter puro o seu caminho (ou o seu coração)?

Por que o jovem?

O livro de Provérbios nos dá a resposta: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele” (Pv 22.6). Portanto, o salmista está pensando na nova geração e em como preservar suas mentes e corações das contaminações nocivas e nefastas produzidas por uma sociedade doente e depravada.

Os jovens são entusiastas, mas completamente desprovidos da experiência da vida — como exemplifica a parábola do filho pródigo. Assim, a única esperança para as novas gerações está em ensiná-las a amar a Palavra de Deus e a viver por ela, pois ela se constitui no único Caminho para a verdadeira felicidade.

O jovem Daniel e seus amigos, apesar de terem sido levados cativos para o coração da Babilônia — símbolo do que havia de mais depravado e idólatra na época —, mantiveram-se firmes em seus princípios de fé. Isso porque suas mentes e corações estavam amalgamados com a Palavra de Deus. Rejeitaram toda sorte de atrativos e pressões que lhes sobrevieram. Nem a fornalha aquecida sete vezes, nem a cova dos leões foram capazes de demovê-los de suas convicções.

Daniel e seus amigos verdadeiramente aprenderam a amar a Palavra de Deus e a guardá-la em seus corações.

Qualquer outra escolha os teria levado à infelicidade — e à morte.

Estamos contemplando os resultados de gerações que têm se afastado, cada vez mais, da Palavra de Deus, optando por andar em seus próprios caminhos. O que vemos é uma geração fútil e tola, obstinada e intratável.

O versículo 9 levanta uma pergunta retórica: “Como pode o jovem manter pura a sua conduta neste mundo atolado no lamaçal do pecado?” O próprio texto oferece a resposta: por meio da Palavra de Deus. No entanto, essa pergunta se aplica a todos nós, independentemente da idade. A única coisa que pode manter nosso caminho — nossa vida — puro e limpo é a Palavra de Deus.

Embora o termo “pureza” esteja quase completamente em desuso, seu significado permanece atual e necessário: viver com fidelidade a nós mesmos e aos princípios divinos, sem concessões. Infelizmente, poucos estão dispostos a aceitar esse desafio.

Expressões distorcidas como “o novo normal” têm levado milhares de jovens — e também adultos — a negociar seus princípios de fé, adotando como normativas de vida os nefastos valores sociais antibíblicos e anticristãos.

Enquanto os “Happy Hours” lotam os bares e multiplicam o consumo de bebidas alcoólicas, as igrejas estão se esvaziando.

verso 10 - “De todo o meu coração te busco.” Talvez o salmista tivesse lido — ou ouvido — as palavras de Jeremias (29.13): “Buscar-me-eis e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração.” Ele não desejava apenas obedecer às leis de Deus, mas ter comunhão com Ele.

Vivemos o boom do saber enjaulado — academicista, autorreferente e distante da vida real. Cursos de mestrado e doutorado se multiplicam nas esferas teológicas. Nunca se produziu tanto conhecimento bíblico-teológico como em nossos dias. O conhecimento acadêmico virou vitrine.

Mas a questão fundamental é: Quanto desse conhecimento tem contribuído para uma vida mais santa e compromissada com as verdades imutáveis da Palavra de Deus? Quanto desse saber tem sido transferido do cérebro para o coração?

Saber sobre Deus não é o mesmo que vivenciar Deus na vida cotidiana. O quanto desse conhecimento biblicista tem produzido genuíno arrependimento e transformação de caráter? Infelizmente, não se respira nos centros acadêmicos uma atmosfera de contrição, mas sim de orgulho e arrogância dos saberes.

Mas a declaração de fé do salmista vem acompanhada de uma oração fundamental:

“Ó, não me deixes desviar dos teus mandamentos.”

Em palavras simples: “Ajuda-me a obedecer a todos os teus mandamentos.”

Quando o salmista olha para si mesmo, ele reconhece o mesmo dilema descrito pelo apóstolo Paulo: “O bem que quero fazer, não faço; mas o mal que não quero, esse prático. Miserável homem que sou!” (Romanos 7.19).

O salmista tem plena consciência de que, sem a ajuda de Deus, ele não será capaz de vivenciar a Palavra nem de fazer a vontade divina. Ele entende que não conseguirá manter puro o seu coração, sua mente e suas ações por esforço próprio. Por isso, sua oração é humilde, sincera e urgente — um clamor por graça para obedecer.

Essa não pode ser uma oração-mantra, repetida mecanicamente; deve ser uma oração sincera e madura, vinda de um crente que verdadeiramente deseja viver uma vida de pureza — uma vida que agrade a Deus, e não a si mesmo ou à sociedade.

“Ajuda-me” deve ser o grito de uma alma que deseja ter uma única fonte de felicidade: Deus. Asafe, no Salmo 73, compartilha sua terrível crise existencial, na qual, por muito pouco, não se afastou por completo de Deus. Depois de duvidar de tudo e de todos, Deus, com paciência, lhe mostra o fim do caminho dos ímpios e o fim do caminho dos justos — daqueles que mantêm puro o coração. Então Asafe faz uma declaração maravilhosa: “A quem tenho eu no céu senão a ti? E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti” (Salmo 73.25).

E como completaria Davi: “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará” (Salmo 23.1). Ou seja, Yahweh é o bem maior — no céu e na terra. Ele é o que temos de mais precioso na vida. E, quando Ele é tudo, nada mais é necessário para nos satisfazer.

Verso 11 – O melhor lugar para guardar a Palavra de Deus: “Escondi a tua palavra no meu coração.” O coração é o centro da vida. A prática vivencial tem demonstrado que as ações nascem no coração e movem o cérebro. Por isso, muitos dos nossos maiores erros — talvez 90% deles — têm origem no coração.

A sabedoria de Provérbios nos alerta: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” (Provérbios 4.23)

Jesus também confirma essa verdade ao afirmar: “A boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6.45). E Ele vai além, revelando a profundidade do que habita no interior humano: “Porque de dentro, do coração dos homens, procedem os maus pensamentos, os adultérios, as imoralidades sexuais, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez. Todos esses males vêm de dentro e contaminam o homem.” (Marcos 7.21–23)

Por isso, o salmista declara que o melhor lugar para guardar a Palavra de Deus é o coração — não apenas a memória, não apenas os lábios, mas o centro da vida, onde decisões são geradas e valores são formados. Quando a Palavra está escondida ali, ela se torna escudo contra o pecado e guia para a santidade.

Verso 12 – Louvor: “Bendito és tu”

É uma expressão de louvor e uma declaração de reconhecimento de que todas as bênçãos vêm da parte de Deus. Nossas orações devem sempre refletir essa mesma verdade: tudo de que necessitamos — inclusive discernimento e sabedoria para tomarmos decisões e fazermos escolhas — vem da direção de Deus. Viver sem esse reconhecimento é viver loucamente, conduzido pelos ditames de nossas mentes e corações contaminados pelo pecado.

No pedido que completa a frase – “Ó Senhor, ensina-me os teus estatutos” - o salmista expressa sua insuficiência para apreender a essência do ensino bíblico. Sem a ação capacitadora do Espírito Santo somos analfabetos tentando ler seus textos, sem jamais alcançar o entendimento correto de suas verdades. O que nos leva à cena do diácono Felipe e o funcionário governamental Etíope. Percebendo que aquele homem está lendo um texto do profeta Isaías, lhe faz uma pergunta: você compreende o que está lendo? A resposta sincera do Etíope é de que não, pois não há quem lhe explique. Então convida Felipe a subir na carruagem e ouve atenciosamente a explicação e finalmente declara sua fé em Cristo e solicita que Felipe o batize.

O salmista faz o mesmo pedido em sua oração – “ensina-me os teus estatutos”. Quantas vezes lemos a Bíblia como se fosse um livro qualquer, sem discernirmos que trata-se da Palavra de Deus. Esta pequena oração sintetizada em uma pequena frase, faz toda diferença quando se trata das Escrituras. O Espírito Santo a inspirou (soprou) e somente Ele pode nos capacitar a apreendermos genuinamente seus ensinos.

A História do Cristianismo está repleto de homens e mulheres que se utilizaram (e continuam se utilizando) da Bíblia para ensinar as mais terríveis heresias e mentiras. O próprio Satanás teve a ousadia de tentar Jesus, utilizando-se das palavras registradas de Deus ... “não está escrito...”, mas Jesus o repreende utilizando-se do correto ensino bíblico. Antes de lermos a Bíblia tenhamos o cuidado de orarmos como o salmista – “ensina-me Seus estatutos”. Quando assim fizermos estaremos tendo uma postura de humildade diante de Deus, qualquer outra postura é contaminada pela arrogância e soberba da vida.

Verso 13 – o salmista canta que vai repetir as palavras da Tora, mas aqui não trata-se de uma repetição religiosa mecanizada, mas a ideia é de dar testemunho das verdades ali contidas, ou compartilhar com outras pessoas o que tem aprendido. Ele quer aprender para ensinar. Este foi o último imperativo de Jesus para os discípulos (de ontem e de hoje), “sede minhas testemunhas”, ou seja, tudo que vocês viram e ouviram, compartilhem com todas as pessoas. O conhecimento bíblico não compartilhado torna-se perigoso, pois tal pessoa torna-se arrogante e intolerante. O cristão que não testemunha torna-se uma lagoa, onde prolifera toda sorte de micróbios que adoecem e matam a alma; o cristão que testemunha, compartilha, torna-se semelhante a um rio que se renova e produz vida...em abundância.

Verso 14A Genuína Felicidade e Alegria – as Escrituras se constituem na única fonte genuína de prazer e satisfação, pois nelas usufruímos da comunhão com Deus (ouvimos o que Ele tem para falar) e não apenas usuários de Suas bênçãos. Ao nos criar à Sua imagem e semelhança Deus nos tornou únicos em toda Criação. Somos os únicos seres habilitados à conhece-Lo e dialogar com Ele. Uma das cenas mais lindas da Criação é quando Deus na viração do dia (o dia judaico inicia-se ao pôr do sol) Deus passava pelo jardim do Éden para dialogar com Adão e Eva. Infelizmente o pecado rompeu esse diálogo, mas em Cristo Jesus somos novamente habilitados a dialogarmos com Deus, agora por meio de Sua Palavra. O ser humano sem Deus é um infeliz maltrapilho vagando por este mundo árido e ressequido pelo pecado. Sem a comunhão com Deus a raça humana não passa de um “vale de ossos secos".   

Verso 15Meditar na Palavra de Deus (de dia e de noite – Salmo 1) é o segredo para mantermos nossa mente e coração sintonizados com a Vontade de Deus em todo o tempo.

Verso 16 – Conclui a segunda estrofe com uma declaração de amor e um voto.

Vou pular de alegria – explosão de alegria (torcedor de futebol). Em ter entendimento do Valor da Palavra de Deus.

Voto – Eu não me esquecerei da Tua Palavra! Mas o voto é consequência direta das ações anteriores: o pensar/meditar/estudar gera satisfação, e a satisfação ajuda a memória e a prática. Havia dito: “Meditarei em teus preceitos”; e “me alegrarei em teus estatutos”; o que produz um benefício adicional: “não esquecerei tua palavra”. A mente/memória se concentra naquilo que o coração se alegra; e o coração é onde está o tesouro (Mateus 6.21). Os ímpios não se alegram com a Palavra de Deus e por isso não se lembram dela.

Deste modo, todas as vezes que nos “esquecemos” da Palavra de Deus, nos assemelhamos aos ímpios e degenerados. Todos aqueles que não amam a Palavra, todos os seus preciosos ensinamentos entram por um ouvido e sai pelo outro – nada aproveitam.

Mas esse prazer na Palavra de Deus não deve ser uma mera especulação — assim como os hipócritas têm seus gostos e seus lampejos — mas em crer, praticar, obedecer. As Escrituras não são apenas para serem admiradas e enaltecida em suas belezas literárias e princípios universais, mas acima de tudo, para serem amadas e vivenciadas. Parafraseando o apostolo Paulo – “não sou eu quem vive, mas a Palavra de Deus vive em mim e através de mim” (Gálatas 2.20).

Questões Para Reflexão

v O quanto da bíblia você já memorizou desde sua conversão?

v Por que o salmista se dirige aos “jovens”?

v Como podemos nos afastar do pecado que nos assedia?

v O que significa buscar a Deus de “todo o coração?”

v Quem ou o que é seu bem maior?

v Por que guardar a Palavra de Deus no coração e não na mente?

v Quais as implicações na expressão “Bendito és Tu”?

v Você tem orado para que Deus te ensine a Palavra?

v Você tem ensinado a Palavra de Deus a outras pessoas?

v Neste mundo tenebroso, onde está a genuína fonte da felicidade?

v Você tem se esquecido da Palavra de Deus?

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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Historiologia Protestante
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Referências Bibliográficas

ARNOLD, Bill T.; BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.

BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras. v. 3. São Paulo: Vida Nova, 1993.

BRIDGES, Charles. An Exposition Of PSALM 119. grace-ebooks.com (eBook).

BULLOCK, C. Hassell. An Introduction to the Old Testament Poetic Books. Chicago: Moody Press, 1988.

CALVINO, João. O livro dos Salmos. Tradução de Valter Graciano Martins. São Paulo: Edições Parakletos, 2002.

CHOURAQUI, André. A Bíblia – Louvores II (Salmos). v. 2. Tradução de Paulo Neves. Rio de Janeiro: Imago, 1998. (Coleção Bereshit).

HARMAN, Allan M.  Comentários do Antigo Testamento - Salmos. Tradução Valter Graciano Martins. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.

KIDNER, Derek. Salmos 73-150 – introdução e comentáriov. 14. São Paulo: Sociedade Vida Nova e Mundo Cristão, 1981. [Série Cultura Cristã].

MANTON, Thomas. An Exposition of Psalm 119. Monergism (eBook).

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Eclesiastes: Leitura Devocional – A Cosmovisão Correta (1.8-11)

 



Em Eclesiastes aprendemos a forma correta de vermos a vida. O escritor contrasta a Cosmovisão humana/perecível que ele denomina de “debaixo do sol”, com a Cosmovisão divino eterna.

O que é Cosmovisão?

ILUSTRAÇÃO: uma pessoa que tem dois óculos, um para leitura (perto) e outro para enxergar longe. O óculos para leitura não serve para enxergar longe e o óculos para longe não serve para leitura.

Após a Queda (pecado) a Cosmovisão do ser humano o limita a enxergar somente o aqui e agora (material/perecível).

Somente em Cristo podemos ter uma Cosmovisão que enxerga os valores espirituais e eternos.

A diferença entre o Cristão e o Não Cristão é a Cosmovisão. A forma como enxergam a Vida e o Mundo.

O livro de Eclesiastes está tratando justamente sobre essas duas Cosmovisões. Suas argumentações partem da percepção humana – para a percepção Divina.

O nome comum de Deus (Elohim) aparece constantemente no livro, mas não o nome (Yahweh) [nome pessoal de Deus na Aliança]. Pois o escritor está falando da percepção humana de Deus.

A grande maioria das pessoas tem uma concepção de um Ser Maior que eles chamam de deus, mas somente em Cristo podemos de fato conhecer e experimentar uma relação pessoal com Yahweh – o Deus da Aliança. 

Os versos 1 e 2 declara o propósito do Eclesiastes, os versos 3 e 4 abordam a atividade do ser humano e nos versos 5 a 7 ele utiliza a Criação para corrigir a percepção errada da vida; e aqui nos versos 8 a 11, a necessidade insaciável de satisfação da humanidade.

Verso 8 - "Todas as coisas estão cheias de trabalho". As palavras mais falada e ouvida: estou cansado; exausto; frustrado; decepcionado...quanto mais se trabalha menos satisfeito ficamos.

“O olho nunca se farta de ver, nem o ouvido de ouvi”

Os sentidos são apenas servos da alma. A alma deseja olhar – e põe os olhos para verem. A alma deseja ouvir – e coloca os ouvidos para ouvirem. A alma nunca se satisfaz plenamente. Nada na terra pode satisfazer a alma! Tudo que o mundo oferece, apenas deixa a alma com desejo de mais... É triste pensar quão limitadas são as cousas materiais e sensitivas.

Salomão está citando o que os filósofos materialistas ensinam e a forma genérica como as pessoas em geral pensam e vivem suas vidas. "Comamos e bebamos, então, pois amanhã morreremos". As pessoas que vivem desta forma não possuem uma perspectiva mais elevada da vida é uma percepção animal, pois não possuem quaisquer percepção da eternidade.

A humanidade, em todos os seus esforços para melhorar a si mesma, é apenas como Sísifo de fábula antiga, rolando uma pedra pesada colina acima; no momento em que a mão é retirada, ela corre para o vale novamente. 

Nunca as pessoas tiveram tanto e nunca elas vivem tão insatisfeitas.

Assim, elas passam de fantasia à fantasia e de uma quimera a outra, até que a morte chegue e subverta todos os seus projetos imaginários de felicidade e as faça saber por experiência própria que o mundo inteiro é vaidade e que todos seus esforços é apenas correr atrás do vento. 

O salmista Asafe deixou a insatisfação dominar e controlar sua alma, a ponto de duvidar de que Deus de fato e de verdade poderia satisfaze-lo plenamente. Somente depois de uma longa e desgastante crise existencial Asafe entendeu e corrigiu sua cosmovisão da vida e somente então ele pode descansar sua alma e seu coração: No céu e na terra eu só tenho a Ti! (Salmo 73.25-26).

Versos 9-10 - "O que foi - será de novo, o que foi feito - será feito de novo. Não há nada de novo sob o sol! Existe algo de que se possa dizer: 'Veja! Isso é algo novo? Já estava aqui, muito tempo atrás; estava aqui antes do nosso tempo!"

O que o Eclesiastes quer dizer? Apesar do progresso e dos avanços científicos-cibernéticos, há uma sensação de futilidade em tudo isso porque, em última análise, o ser humano, continua exatamente o mesmo, desde Adão - até agora. Sua natureza, sentimentos, apetites, seus pecados, corrupções e enfermidades - são sempre os mesmos. A constatação deste fato expõe de forma nua e crua o orgulho humano e exorta a humildade em reconhecer que não são tão originais ou excepcionais quanto desejam fazer acreditar.

NADA MUDOU REALMENTE!

Estas declarações ressaltam a natureza temporal e fugaz da memória e dos legados humanos. Apesar dos esforços que as pessoas fazem para deixar uma marca no mundo, é como escrever na areia – levadas pelas ondas do tempo. Mesmo os mais notáveis do passado acabam por desaparecer na obscuridade, esquecido pelas gerações futuras.

Essa reflexão sobre a natureza fugaz da fama e da memória serve como um lembrete da natureza transitória das atividades terrenas e da necessidade de buscar valores mais elevados e eternos. As palavras se amalgamam com a temática da vaidade de buscar realização em atividades mundanas em contraste com a cousas de valor eterno. O corpo físico constituído de pó, a ele voltará, mas o espírito permanecerá, pois pertence à eternidade. 

O famoso refrão entoado por milhões de pessoas ao redor deste mundo – “muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender – se torna completamente inútil diante da lápide fria da morte. Milionários morrem, assim como morre um sem teto.

Jesus ilustra isso ao contar uma história de um homem muito rico e um mendigo chamado Lazaro que comia das migalhas que lhe eram oferecidas. Mas o mendigo morreu e posteriormente o homem rico igualmente morre. Acabou? Não! Pois Lazaro foi para o “seio de Abraão” (uma figura do céu), enquanto o rico despojado de sua riqueza material, foi para um lugar de tormentos eternos.

A grande pergunta que precisa ser feita não é: Quanto você tem ou possui? Mas é: Onde você passará a Eternidade? Se você não tem resposta para esta pergunta, você precisa repensar a sua vida, enquanto há tempo.

As pessoas gostariam de fazer algo novo, de serem lembradas por fazer uma contribuição significativa para o mundo; eles anseiam e se esforçam por um significado duradouro, mas os resultados são frustrantes. Não importa quão grandes sejam as realizações, neste mundo não alcançarão o significado duradouro que desejam. Raros são aqueles que conseguem por algum tempo (breve, momentâneo) causar qualquer impacto significativo no curso da história humana, já que a esmagadora maioria vive e morre na obscuridade. O verso 11 enfatiza o ponto introduzido no verso 4.

Futilidade e Vazio Existencial

O propósito do Eclesiastes é mostrar a futilidade da vida humana sem colocar Deus na equação. O que assistimos diariamente na lavagem cerebral mediática é de que Deus está ultrapassado e pode ser substituído por quaisquer outros conceitos sem qualquer problema. Mas quando se toma a pílula vermelha (Matrix) e sai de um mundo ilusório criado pelos influencer mediáticos e passa-se a enxergar o mundo real — o que se vê é uma humanidade totalmente perdida cujas vidas não encontram qualquer sentido em absolutamente nada do que se faz e se busca, devastado, controlado e sombrio.

São vidas fúteis e superficiais, sem valores duradouros ou propósitos reais e permanentes. Uma busca cada vez mais frenética por coisas efêmeras, como fama, aparência ou riqueza, em detrimento e/ou menosprezo de valores mais profundos e eternos. Poderosos que na ânsia de prolongarem um dia a mais em sua miserável existência, matam milhões e/ou bilhões de pessoas com seus experimentos pandêmicos pseudo científicos. Nunca em toda a existência humana se produziu e vendeu tantas medicações, mas também nunca se reproduziu tantas doenças, como nos dias atuais.

Há somente uma solução: Em Cristo somos feitos NOVAS CRIATURAS; em Cristo TUDO SE FAZ NOVO; somente Nele possa se pode viver em NOVIDADE DE VIDA!

Um novo nascimento, um novo coração, uma nova mente, novas esperanças, novas perspectivas, novos desejos; novos amigos para amar, novos irmãos para amar!

Sim, uma nova realidade - um novo reino para herdar! Todas as coisas na graça são novas - todas desconhecidas antes.

“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram AS COISAS NOVAS que DEUS tem PREPARADO para aqueles que estão EM CRISTO JESUS” (1 Coríntios 2.9)

Ao instituir a Ceia como símbolo de Sua morte e ressurreição, Jesus declara: ESSA É A NOVA ALINÇA, FEITA ATRAVÉS DE MEU SANGUE. Todo aquele que crê no Senhor Jesus vive nesta NOVA ALIANÇA!

Vamos orar!

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Referências Bibliográficas

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TENNEY, Merril C. Enciclopédia da Bíblia - cultura cristã, v.4. Tradução da Equipe de colaboradores da Cultura Cristã - São Paulo: Cultura Cristã, 2008. [em cinco volumes].

WALTKE, Bruce. Comentários do Antigo Testamento – Provérbios, vol. 01. Tradução de Susana Klassen. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2011.