sábado, 23 de julho de 2022

Viajando no Evangelho de Marcos: Prólogo (1.1-13)

 

    Essa primeira perícope (parágrafo) é composta por três pequenas unidades literárias estreitamente unidas, que se constitui no Prólogo onde Marcos registra os eventos que precedem imediatamente o início do ministério público de Jesus e ao mesmo tempo serve como uma introdução a toda narrativa evangélica por ele elaborada, fornecendo ao leitor pistas essenciais para a compreensão do que se segue.

Na primeira unidade (v. 1-8) o evangelista apresenta a figura João Batista, sublinhando seu papel profético à semelhança do profeta Elias como o precursor do Messias;

A segunda unidade (v. 9-11) apresenta Jesus de Nazaré como aquele a quem João havia apontado, registrando sua autenticação divina no batismo efetuado por João Batista;

E na terceira e última unidade (v. 14-15) Jesus é impelido pelo Espírito Santo para o deserto aonde vai se preparar espiritualmente e ao final terá a primeira vitória sobre Satanás – onde Adão falhou, Jesus venceu.

No último capítulo (16) Jesus terá a Vitória definitiva sobre Satanás e a morte.

Primeira Unidade Literária (1.1-8)

João Marcos escolheu cuidadosamente as seis primeiras palavras de sua narrativa: “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (v.1)

Princípio: não apenas no sentido cronológico, mas no sentido de causa, origem (grego-arché) – de maneira que Jesus Cristo é o novo Gênesis (cf. Gn 1.1). No Evangelho de Jesus está a semente (a origem, o princípio) de um novo mundo, uma Nova Criação (2 Co 5.17).

Evangelho: “boas novas; boas notícias” Jesus não apenas anunciara o evangelho, mas Ele mesmo é as Boas Novas. Marcos está comunicando aos seus leitores de que em Jesus ocorre um evento histórico que produzira salvação para toda humanidade.

Mas aqui tem um contexto profético do AT = Isaias fala das boas novas que o Messias trará (61.1s); o primeiro texto que Jesus leu na sinagoga falava da libertação dos oprimidos (cf. Lc 4.17s); Deus está presente (Is 40.9) e no controle (Is 52.7).

Jesus Cristo: O nome composto = Jesus (o Senhor é a salvação) e Cristo (messias, ungido – a esperança de Israel); Jesus Cristo é o cumprimento de toda Esperança veterotestamentário. Ouça as palavras do velho sacerdote Simeão, quando toma o bebe Jesus em suas mãos: “Ele, então, o tomou em seus braços, e louvou a Deus, e disse: Agora, Senhor despede em paz o teu servo, Segundo a tua palavra; pois já os meus olhos viram a tua salvação, a qual tu preparaste perante a face de todos os povos; luz para iluminar as nações, e para glória de teu povo Israel”.

Filho de Deus: Está última afirmação deixa claro que Jesus não é mais um profeta (Elias ou o próprio Batista) Ele é o próprio Deus e o evangelista irá concluir sua narrativa com está mesma declaração 15.39 = ditas pela boca de um centurião romano: “verdadeiramente, este homem era Filho de Deus”.

João Batista e seu ministério (1.2-8)

Voz Profética (v.2-3): o evangelista declara que João Batista é o cumprimento das profecias de Isaías e Malaquias; a primeira frase é de Malaquias (400 anos antes) “Eis que envio o meu mensageiro diante da tua face, que preparará o teu caminho diante de ti – a segunda proferida 700 anos antes pelo profeta Isaías o mais evangélico dos profetas: “A voz de quem clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”. Ambos os profetas olham para frente – “Deus está para agir” – e o Batista irá apontar para Jesus e dirá = “Deus já está agindoa promessa está sendo cumprida.

João Batista e sua Mensagem

Ele surge do deserto – trazendo à memória judaica o Êxodo – agora Deus inicia um Novo Êxodo – se no primeiro os israelitas eram escravos no Egito; agora eles são escravos de um sistema legalista religioso – representado no Templo e seus Sacerdotes. Os que querem ouvir a voz de Deus tem que sair e ir para o Deserto (deixa meu povo ir falou Moises à Faraó).

João Batista rompe um silêncio de 400 anos (Malaquias a Marcos) – o povo espera que Deus torne a falar por meio da voz profética (Malaquias predisse que um novo Elias será levantado por Deus) e João Batista é esse novo Elias; é interessante que em todo evangelho Marcos não faz qualquer retrato falado de Jesus – nada ficamos sabendo da pessoa de Jesus; mas o evangelista faz um bom retrato falado do Batista. Por quê?

Justamente porque Marcos deseja fazer a ligação direta entre João Batista e o profeta Elias. A mensagem do Batista é o cumprimento da Profecia do AT – “Preparai o Caminho do Senhor (Messias); endireitai suas veredas”. Assim como a mensagem de Elias visava o arrependimento e a reconciliação com Deus, a mensagem do Batista é radical para todos: pobres, ricos; sacerdotes, levitas: arrependei-vos.

Arrependimento (metanoia) é uma mudança deliberada do coração e da mente; confessar os pecados (reconhecer que está vivendo longe da vontade de Deus) e sendo batizado (representação externa/visível do arrependimento interno/invisível).

A genuína tristeza pelo pecado (arrependimento) conduz a uma conversão e envolve uma completa mudança de vida (Novo Nascimento).

O arrependimento implica em perdão – que estará disponível plenamente em Jesus Cristo.

João Batista tem plena consciência disso: ele declara que está para surgir, ainda naqueles dias, alguém que é MAIOR do que ele; ainda que João seja um grande profeta, JESUS é de uma ordem de grandeza diferente – Jesus é o Filho de Deus e plenamente cheio do Espírito Santo e Poder.

As palavras de João Batista em relação a Jesus demonstram o caráter e a humildade dele: “não sou digno nem mesmo de desamarrar os cordões de suas sandálias” – a função do servo (escravo) em uma casa. Infelizmente esta humildade faltará aos próprios discípulos no Cenáculo.

Essa primeira referência ao Espírito Santo tem como objetivo linkar Jesus com a Salvação prometida no AT que implicava no derramar do Espírito Santo (Joel 2.28s; Ezequiel 36.26s) que será cumprida literalmente no Pentecostes.

Conclusão desta primeira unidade literária (1.2-8)

Marcos declara que a vinda do Batista inicia o cumprimento das antigas promessas de Salvação (Messiânicas). O Batista prepara o caminho do Senhor; o povo, por meio de seu arrependimento e batismo é preparado para receber a Salvação (o Messias). O cenário está pronto – então no verso 9 diz Marcos: JESUS CRISTO VEIO!

Questões Para Reflexão

            Leia o texto (1.1-8) e responda as questões propostas!

1) Qual é o principal ponto deste parágrafo

2) Leia na sua bíblia as duas profecias que João Batista cumpre:

Malaquias 3.1 e Isaías 40.3

3) O que João pregou? (v.4)

4) O que João anunciou? (v.8)

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Guedes, Ivan Pereira

Mestre em Ciências da Religião.

Universidade Presbiteriana Mackenzie

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Referências Bibliográficas (Utilizadas nesse Artigo)

CULPEPPER, R. Alan. Mark, 2007. [Smyth & Helwys Bible Commentary, v. 20].

MULHOLLAND, Dewey M. Marcos – Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1999.  [Série Cultura Bíblica, v. 2].

SOARES, Sebastião Armando Gameleira & JUNIOR, João Luiz Correia. Evangelho de Marcos, v.1, ed. Vozes, Petrópolis, 2002.
Outras Referências Sugeridas.

BRATCHER, Roberto G. e SCHOLZ, Vilson. Comentários SBB para exegese e tradução - Marcos versículo a versículo. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.

CARSON D. A., DOUGLAS, J. Moo & MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 2006, 8ª ed.

CRANFIELD, C. E. B. The Gospel According to St. Mark. Cambridge: Cambridge University Press, 1966.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Marcos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

SALMO 2 - A Reação dos Ímpios à Soberania de Deus


O primeiro e o segundo Salmos estão completamente vinculados;

            No primeiro Salmo o Mundo tenta nos atrair; seduzir.....

            No segundo Salmo o Mundo tenta nos intimidar – força

Nada ofende e irrita mais os ímpios do que um DEUS SOBERANO.....

As pessoas rangem os dentes – conspiram – se unem (pessoas que se odeiam mutuamente se unem contra Deus como ocorreu em Jerusalém onde se formou um conluio entre inimigos declarados, para matarem Jesus).

Como eles não podem INTIMIDAR Deus, eles TENTAM intimidar os cristãos....ameaçando-perseguindo-mantando...

Há somente duas reações diante da Soberania de Deus:

            Amá-Lo ou Odiá-Lo; Servi-Lo ou Rebelar-se - não existe uma terceira via.

A Conversão (genuína) implica em:

Deixarmos de ODIAR a Deus e passarmos a Ama-Lo;

Deixarmos de nos rebelar contra a Soberania de Deus e voluntariamente nos submeter voluntariamente à Sua Vontade, entendo que essa vontade é boa, santa e agradável, mesmo quando esta vontade contraria a nossa.

O nosso modelo é o próprio Jesus: (SEJA FEITO A TUA VONTADE E NÃO A MINHA).

A chave do Salmo é o Temor a Deus (v.10) Servi ao Senhor com temor

Quando adoramos estamos reconhecendo quem Deus é –

Mas o ser humano decaído prefere adorar a Si Mesmo; prefere construir deuses (ídolos) à sua própria imagem e semelhança; preferem se curvarem diante da criatura em vez do Criador.

As pessoas estão dispostas a tolerar e até mesmo ter um sentimento amoroso para com o Jesus dos Evangelhos – que fez o bem a todos e morreu na cruz....

Mas as pessoas de forma geral ODEIAM COM TODO O SER (todas as forças) o Jesus Glorificado e Soberano revelado nas páginas do Apocalipse...

O Jesus Glorificado não vem para morrer novamente na cruz; Ele vem para JULGAR os vivos e os mortos; o Jesus Glorificado vem para LANÇAR NO INFERNO todos os ímpios, juntamente com Satanás e seus demônios....

No Apocalipse o Senhor Jesus Glorificado diz: “Sim, venho em breve! ” E Sua IGREJA responde: Amém. Vem, Senhor Jesus! (Apocalipse 22.20).

Esse Salmo (2) permeia a literatura do NT - nos mostra até que ponto os primeiros cristãos encontraram nela a história de seu rei, o ódio acumulado contra ele, sua elevação à direita de Deus, sua vitória final. Que ainda hoje, no meio da revolta dos incrédulos e ímpios contra Cristo e contra o próprio Deus, a Igreja se anime e contemple pelos olhos do salmista a glória do seu Salvador e a destruição certa de tudo o que se opõe ao Seu Reino e a Sua Justiça!


Oração: Senhor nosso Deus o mundo derrama seu ódio contra nós o teu Povo, mas confiamos na Sua Soberania. Sustenta-nos oh! Senhor pelo Seu Poder e Graça. Retenha oh! Deus a ira dos ímpios sobre teu povo. Em nome de Jesus te rogamos e aguardamos. Maranata, ó vem Senhor Jesus!

 

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sábado, 2 de julho de 2022

Biblioteca do Segundo Testamento ou Novo Testamento (Romanos)

Biblioteca do Segundo Testamento ou Novo Testamento (Romanos).

Esta série original (Tyndale New Testament Commentaries) traduzida pela editora brasileira Vida Nova[1] com o título geral de “Série Cultura Bíblica” na década de 1980 preencheu uma lacuna imensa de bons comentários bíblicos. A editora brasileira optou por capas dos volumes do Antigo Testamento em vermelho e do Novo Testamento em azul, para distingui-los. Suas reiteradas edições são testemunho de quão relevante estas séries se tornaram para as lideranças e estudantes evangélicos brasileiros, que finalmente tinha à sua disposição comentários de todos os livros da bíblia em uma perspectiva acadêmica contemporânea cujos mais diversos autores eram eminentes catedráticos tanto do Antigo quanto do Novo Testamento.  

ROMANOS: INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO - F. F. Bruce. M.A., D.D.

            O autor deste comentário da epístola de Paulo aos Romanos é um reconhecido e respeitável acadêmico o Dr. F. F. Bruce[2]. Ele foi um acadêmico bíblico escocês que sempre defendeu a confiabilidade histórica do Novo Testamento. Um de seus primeiros livros “Documentos do Novo Testamento: São Confiáveis?” (New Testament Documents: Are They Reliable?), tem influenciado positivamente gerações de evangélicos em todo o mundo.

            A proposta dos editores originais era produzir uma série bíblica que tivesse relevância acadêmica, mas sem perder sua essência devocional, de maneira a poder suprir tanto as necessidades dos estudantes e pastores, quanto oferecer ao leitor leigo uma oportunidade de se aprofundar no estudo dos livros da bíblia. E certamente está proposta vinha de encontro às necessidades prementes dos evangélicos brasileiros.

            O autor organiza seu comentário primeiramente resumindo os argumentos de Paulo e depois aborda os temas específicos e destaca individualmente os versos mais relevantes, onde ele amplia um pouco mais sua discussão. Os resumos iniciais são de grande ajuda para que os leitores possam obter uma boa compreensão da mensagem desta preciosa carta paulina.

            Em sua introdução Bruce alerta quanto aos perigos de extrair o apóstolo de seu contexto histórico e transportá-lo para o século XX/XXI, erro lamentável que grande parte dos comentaristas atuais insiste em fazer. A hermenêutica e exegese mais honesta é aquela em que se permite ao próprio Paulo falar por si mesmo. Para Bruce os dois capítulos finais da carta são parte integrante do texto epistolar e não há razão convincente para se duvidar de sua autoria paulina. Concluindo a introdução sua paráfrase[3] do texto epistolar é de grande utilidade para os leitores menos familiarizados com o texto paulino e clareia ainda mais as ideias centrais da preciosa carta.   

Como mencionado acima a brevidade do comentário, seguindo a proposta editorial, significa que algumas questões controversas não são discutidas, enquanto outras, como por exemplo a "Nova Perspectiva", são apenas mencionadas. Todavia, o comentarista deixa muito claro seus posicionamentos e pressupostos exegéticos/hermenêutico, onde por exemplo ele rejeita a interpretação de que a ira de Deus é meramente "impessoal", demonstrando que Paulo entende claramente que Deus não apenas justifica o pecador, como o mantém justo.

Para Bruce o capítulo 7 é basicamente autobiográfico, ainda que Paulo entenda que seja essa a realidade universal da raça humana. Todo cristão vive o conflito da sobreposição da velha e nova vida. Sem a ação do Espírito Santo o fracasso é inevitável, pois naturalmente jamais preencheremos os requisitos da Lei. Para Bruce a expressão paulina “estar em Cristo” implica a inserção do convertido na Igreja – “corpo de Cristo”, de maneira que o cristão deve expressar o caráter de Cristo em seu viver cotidiano.

Outro assunto que ele discute é a relação entre glória e sofrimento. O sofrimento é visto como a experiência cristã normal, e a glória não é a compensação, mas o resultado final desse sofrimento e por esta razão o crente não deve se desesperar, mas confiar e aguardar. Quanto ao capítulo 9 Bruce prefere pensar em Paulo como se opondo à qualquer possibilidade de salvação por obras.

Os capítulos 12 em diante se constituem na segunda parte da carta onde Paulo vai aplicar os ensinos dos capítulos anteriores, e Bruce aponta as semelhanças com o ensino de Jesus, para irritação de muitos que desejam desassociar o ensino paulino do ensino evangélico. Paulo defende plenamente sua liberdade em Cristo, de maneira que não aceita qualquer tipo de cerceamento, o que não significa que Paulo é libertino, mas que submisso à orientação do Espírito Santo é livre para fazer ou não fazer. Infelizmente hoje uma parcela expressiva de evangélicos distorce esse ensino de Paulo, pois defendem apenas a liberdade para “fazerem” e não a igual liberdade para “não fazerem”. Para Paulo “ser livre” não significa em hipótese alguma dar vazão à toda sorte de concupiscência e depravação, claramente afrontosa aos princípios bíblicos, mas “ser livre” significa dizer “não” à toda sorte de ações e manifestações pecaminosas.

Seguindo a proposta editorial este não é de forma alguma um comentário exaustivo sobre a epístola aos Romanos, mas é de grande valia, e lançará uma nova luz sobre diferentes passagens. O leitor leigo provavelmente encontrará um pouco de dificuldade, principalmente por não esta familiarizado com a utilização de comentários, mas aqueles que querem ter uma melhor compreensão de Romanos, sem ter que ler um comentário exegético mais complexo, haverão de apreciar este comentário de Bruce.

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[1] Cujo um dos fundadores foi o querido Pastor Russell P. Shedd (1929 2016), que tanto se preocupou em disponibilizar aos estudantes de teologia no Brasil material bíblico de qualidade.

[2] Frederick Fyvie Bruce (12 de outubro de 1910 - 11 de setembro de 1990).

[3] Interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto (entrecho, obra etc.) que visa torná-lo mais inteligível ou que sugere novo enfoque para o seu sentido.


[1] Cujo um dos fundadores foi o querido Pastor Russell P. Shedd (1929 2016), que tanto se preocupou em disponibilizar aos estudantes de teologia no Brasil material bíblico de qualidade.

[2] Frederick Fyvie Bruce (12 de outubro de 1910 - 11 de setembro de 1990).

[3] Interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto (entrecho, obra etc.) que visa torná-lo mais inteligível ou que sugere novo enfoque para o seu sentido.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Biblioteca do Primeiro Testamento ou Antigo Testamento (Gênesis).

 


            Quando visitei pela primeira vez o navio Logos ancorado no Porto de Santos (SP), nos idos da década de oitenta, fiquei encantado, pois a literatura evangélica no Brasil estava extremamente limitada à reimpressão de alguns poucos títulos em português e extremamente limitados em suas temáticas, principalmente no que concerne aos comentários bíblicos. Para os estudiosos e pesquisadores restavam apenas os livros em espanhol, um pouco mais amplo, e a vasta literatura em inglês e outros idiomas.

            Ao retornar ao navio Logos em uma de suas últimas visitas ao Brasil, fiquei decepcionado, pois as literaturas oferecidas tornaram-se muito pobre em títulos e conteúdos diante do avanço considerável das literaturas produzidas pelas editoras brasileiras. Nestes últimos trinta anos as literaturas evangélicas deram um salto quantitativo e qualitativo. Evidente que estamos longe da abrangência das imensas e históricas editoras europeias e principalmente americanas, mas certamente nos distanciamos bastante da pobreza literária que imperava no Brasil em décadas anteriores.

            É verdade que a quantidade trás também a pluralidade de pensamentos teológicos, até mesmo conflitantes. Todavia essa pluralidade de saberes exige que usemos a nossa capacidade de discernimento e também coloquem em prova os fundamentos da nossa fé e de nossa teologia. Para os débeis na fé e cuja teologia não está firmemente estabelecida nas Escrituras essa abundância literária torna-se um terrível problema e/ou produz um natural repúdio; mas para aqueles cuja fé e teologia foram forjadas na bigorna de um conhecimento bíblica coerente e historicamente comprovada, esta multiplicidade literária bíblico-teológica é motivo de gratidão a Deus e satisfação para a mente e o coração.

            Minha pequena contribuição será apresentar títulos de obras em português que podem contribuir para maior e mais profícuo estudo das Escrituras. Minha preocupação primária não está na quantidade, mas no conteúdo e ainda aqui, não é minha pretensão limitar às literaturas em seus aspectos teológicos específicos e excludentes, mas dentro de minhas limitações, destacar vertentes bíblica-teológicos que embora sejam divergentes, pode nos levar à maturidade cristã real e não romântica ou ilusória.

            Meu tempo é bastante limitado, de maneira que não poderei como gostaria, produzir resenhas dos livros escolhidos, ainda que em algum momento esboce minha opinião pessoal ou pelo menos algumas notas de esclarecimento das referidas literaturas. Além da capa utilizarei material do próprio livro para que o leitor possa ter uma visão iniciante da referida obra.

            Espero ser útil e contribuir para a divulgação das literaturas evangélicas, bem como cooperar na formação de uma pequena biblioteca pessoal.

 Gênesis – Introdução e Comentário (Derek Kidner).

Esta obra foi produzida em 1958 e lançada pela editora InterVarsity Press, com o título original: Genesis An Introducíion and Commentary e foi traduzido para o português pela editora Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, cujo um dos fundadores é o querido Pastor Russell P. Shedd (1929 2016), e que veio a se constituir em uma das editoras mais relevantes neste novo processo literário evangélico brasileiro, sendo  a primeira edição em 1979 e alcançado um sucesso imediato com diversas reimpressões: 1981, 1985, 1988, 1991, 1997, 1999, 2001.

            A obra em destaque é o volume inicial desta pioneira coleção, Série Cultura Bíblica, de comentários abrangendo todos os livros que compõe o Primeiro Testamento (Antigo Testamento) cujas capas são em vermelho. Esta sem dúvida alguma foi uma iniciativa corajosa visto que o público leitor evangélico ainda estava embrionário e o contexto sócio econômico ainda era bastante limitado. Mas na medida em que os volumes foram sendo lançada a procura foi ascendente e entusiasta, visto a enorme carência de comentários bíblicos de qualidade, profundidade e mais sintonizada com as diversas ciências literárias acadêmicas.

            A Editora surge com um perfil evangélico mais conservador e, portanto, a escolha desta série esta afinado com a proposta editorial e se encaixa perfeitamente com o perfil dos leitores brasileiros daquele momento, década de sessenta e setenta, que compunha o mosaico evangélico representativo das suas diversificadas denominações, bem como suas instituições de ensino: seminários e faculdades de teologia; institutos bíblicos, escolas bíblicas dominicais e o púlpito (através dos pastores), todos ávidos por literaturas de alto teor bíblico acadêmico. Portanto, a Editora e sua proposta se ajustam perfeitamente contexto histórico evangélico brasileiro o que resulta em um grande sucesso editorial que incentivara outras editoras existentes, bem como o surgimento de novas editoras com novas propostas editoriais, atualmente há mais de quarenta editoras evangélicas.

Prefácio Geral

O objetivo desta série de Comentários "Tyndale” [nome original] do Velho Testamento, como foi com os volumes correspondentes do Novo Testamento, é fornecer ao estudioso da Bíblia um comentário de fácil manejo e atual de cada livro, com ênfase maior à exegese. As questões críticas mais importantes serão discutidas nas introduções e nas notas adicionais, mas, quanto possível, evitar-se-á tecnicidade excessiva no comentário propriamente dito.

Embora unidos todos em sua fé na inspiração divina, na fidedignidade substancial e na aplicabilidade prática dos escritos sagrados, individualmente os autores têm liberdade para expressar o seu ponto de vista pessoal sobre todas as questões controvertidas. Dentro dos limites do espaço disponível, muitas vezes eles chamam a atenção para interpretações que eles mesmos não mantêm, mas que representam conclusões de cristãos igualmente sinceros e leais. Em Gênesis, livro que tem sido objeto de tanto debate, seria fácil dedicar desproporcional medida de espaço a tais discussões. Mas o objetivo é do começo ao fim, levar o leitor o mais perto possível do sentido do texto, e não a especulações sobre este.

Em particular quanto ao Velho Testamento, nenhuma versão, isoladamente, é adequada para refletir o texto original. Portanto, os autores destes comentários citam livremente várias versões, ou dão a sua própria tradução, no empenho de tornar significativas hoje as passagens ou palavras mais difíceis. Quando necessário, transliteram-se palavras do Texto Massorético Hebraico (e Aramaico), subjacentes aos seus estudos. Isto ajudará o leitor que não sabe as línguas semíticas a identificar a palavra em discussão e, assim, a acompanhar o argumento. Sempre se supõe que o leitor tem livre acesso a uma ou mais traduções da Bíblia no vernáculo, das reconhecidas como merecedoras de confiança.

Há indícios de renovado interesse pelo sentido e mensagem do Velho Testamento, e se espera, pois, que esta série fomente o estudo sistemático da revelação de Deus, da Sua vontade e dos Seus caminhos, nos termos em que se apresentam nos registros sagrados. Os editores e os autores oram que estes livros ajudem muitos a compreenderem a Palavra de Deus hoje, e a responder-lhe positivamente. (D. J. Wiseman – editor).

Prefácio do Autor

Uma vez um crítico musical demoliu certo arranjo da grandiosa melodia de um hino, fazendo a observação de que empobrecia a imaculada harmonia e as precisas divisões da composição original, “como um Fusca perto de um Rolls-Royce”. Qualquer livro sobre Gênesis está fadado a provocar comparação semelhante (mesmo que os revisores teológicos se resistam a colocar tão ferinamente as coisas), e particularmente um comentário como este que, em mais de um sentido, é tão pequeno.

O que é quase igualmente inevitável é a ofensa que qualquer escritor que trate deste assunto corre o risco de fazer a muitos dos seus leitores num ponto ou noutro, ao discutir as imensas questões levantadas por Gênesis em cada página. Dificilmente pode haver outra parte da Escritura sobre a qual se tenham librado tantas batalhas teológicas, científicas, históricas e literárias, ou se tenham abrigado tão vigorosas opiniões. Este mesmo fato é sinal da grandeza e do poder do livro, e dos estreitos limites, quer do nosso conhecimento fatual, quer da nossa apreensão espiritual. Se se achar que as interpretações e discussões dadas aqui estão longe de infalíveis ou completas, ninguém está mais ciente disso do que o autor; são apresentadas, pois, com a esperança de que, mesmo quando forem intragáveis, provoquem o mais cerrado estudo do próprio texto inspirado.

Um prefácio dá oportunidade para agradecimentos, e me alegro em expressar gratidão, primeiro aos que me chamaram a atenção para bom número de questões arqueológicas e linguísticas, principalmente ao professor D. J. Wiseman, Editor Geral da série, e ao Sr. A. R. Millard, bibliotecário da “ Tyndale House” ; também ao Rev. J. A. Motyer, cujo discernimento teológico fez dele, em vários pontos, “olhos para o cego” . O Dr. R. E. D. Clark foi bastante gentil para ler a parte do manuscrito referente à cosmologia, e para fazer valiosas críticas e sugestões. O auxílio prestado por todos eles reduziu, mas naturalmente não eliminou, os meus erros e omissões. Infelizmente, a obra, Ancient Orient and Old Testament — O Oriente Antigo e o Velho Testamento (Tyndade Press, 1966), foi publicada muito tardiamente para ser consultada em benefício deste comentário, mas é bom saber que a sua riqueza de informações sobre o mundo que forma o cenário de Gênesis está à disposição agora, para preencher (e sem dúvida corrigir) o quadro apenas ligeiramente esboçado no presente livro.

Finalmente, é uma satisfação agradecer aos editores o seu incentivo e a sua experiente perícia, e à Srta. J. M. Plumbridge, que decifrou e datilografou com extraordinário esmero e entusiasmo um manuscrito que está longe de ser fácil. Oxalá se considere este comentário um servo tão fiel e correto como o mordomo de Abraão foi para com o seu senhor. (Derek Kidner – escritor).

 











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